O café, uma das bebidas mais populares do planeta, passou por uma notável reavaliação pela ciência nas últimas décadas. Se antes era visto com desconfiança, hoje, um corpo robusto de pesquisas sugere que o consumo moderado pode, de fato, estar associado a um menor risco de diversas doenças crônicas e a uma maior longevidade. É crucial e inegociável afirmar desde o início: a pesquisa neste campo é largamente baseada em estudos observacionais, que mostram uma associação, e não uma relação direta de causa e efeito.
Este artigo irá explorar, de forma segura e baseada em evidências, o que os grandes estudos populacionais descobriram sobre a relação entre o café e a mortalidade, quais os compostos bioativos que podem explicar esses benefícios e qual a forma de consumo considerada segura e benéfica, sempre ressaltando que o café é apenas um componente de um estilo de vida saudável.
O que os grandes estudos populacionais revelam sobre o café e a mortalidade?

A base para a associação entre café e longevidade vem de estudos prospectivos de grande escala, que acompanharam centenas de milhares de pessoas por muitos anos. De forma consistente, esses estudos encontraram uma “curva em J” na relação entre o consumo de café e o risco de mortalidade por todas as causas.
Isso significa que pessoas que consomem uma quantidade moderada de café (geralmente na faixa de 2 a 5 xícaras por dia) apresentam um risco de morte por diversas causas, incluindo doenças cardíacas e neurológicas, menor do que aqueles que não bebem café ou que bebem em excesso. Conforme apontado em pesquisas de referência publicadas por instituições como a Harvard T.H. Chan School of Public Health, essa associação foi observada em diferentes grupos étnicos e se aplica tanto ao café com cafeína quanto ao descafeinado, sugerindo que os benefícios vão além da cafeína.
Quais são os compostos bioativos do café que podem proteger a saúde?
O café não é apenas cafeína. É uma bebida complexa, contendo mais de mil compostos bioativos, muitos dos quais têm potentes propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias.
Polifenóis (como o ácido clorogênico)
O café é uma das maiores fontes de polifenóis na dieta ocidental. O ácido clorogênico, em particular, tem sido estudado por seu papel na melhora da sensibilidade à insulina e no controle do açúcar no sangue.
Cafeína
Embora muitas vezes vista apenas como um estimulante, a cafeína em si tem efeitos metabólicos, podendo estar associada a um menor risco de doenças como o Parkinson.
Diterpenos (cafestol e kahweol)
Encontrados em cafés não filtrados (como o fervido ou de prensa francesa), podem elevar o colesterol LDL. No entanto, o uso de filtros de papel remove a maior parte desses compostos.
Melanoidinas
Formadas durante o processo de torra, essas substâncias contribuem para a cor e o aroma do café e possuem propriedades antioxidantes.
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Como o café pode influenciar o risco de doenças crônicas específicas?
A ação desses compostos parece se traduzir em um menor risco de desenvolver várias doenças crônicas, o que contribui para a longevidade. As associações mais fortes encontradas na literatura científica incluem:
- Menor Risco de Diabetes Tipo 2: Pelo seu efeito na melhora da sensibilidade à insulina.
- Proteção Hepática: O consumo regular de café está associado a um menor risco de desenvolver cirrose e certos tipos de câncer de fígado.
- Menor Risco de Doenças Neurodegenerativas: Como a Doença de Parkinson e, potencialmente, a Doença de Alzheimer.
- Menor Risco de Doenças Cardíacas e AVC: Pela ação anti-inflamatória e antioxidante, que protege os vasos sanguíneos.
O que é considerado um consumo “moderado” e o tipo de café importa?
A moderação é a chave. A maioria das pesquisas aponta que os benefícios são observados em um consumo de até 400 miligramas de cafeína por dia, o que equivale a cerca de 3 a 5 xícaras de café coado de tamanho padrão.
O tipo de preparo também importa. Os benefícios estão associados ao café puro, sem adição de açúcar, cremes ou xaropes calóricos. Adicionar esses ingredientes transforma uma bebida saudável em uma fonte de calorias vazias que pode anular os benefícios metabólicos e contribuir para o ganho de peso.
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O café é benéfico para todos? Quando a cautela é necessária?
Não. A sensibilidade à cafeína é altamente individual e determinada pela genética. Além disso, certos grupos devem limitar ou evitar o consumo de cafeína.
- Gestantes: A recomendação geral é limitar a ingestão de cafeína.
- Pessoas com transtornos de ansiedade ou pânico: A cafeína pode agravar os sintomas.
- Indivíduos com distúrbios do sono: A cafeína deve ser evitada por pelo menos 6 a 8 horas antes de dormir.
- Pessoas com certas condições cardíacas: Como arritmias, devem discutir o consumo seguro com seu médico.
É fundamental que qualquer pessoa, especialmente aquelas com condições de saúde pré-existentes, converse com um médico ou nutricionista para entender se o consumo de café é apropriado para sua situação individual e como integrá-lo de forma segura a um estilo de vida saudável.








