A Doença de Parkinson é uma condição neurodegenerativa progressiva que afeta o movimento, e a busca por estratégias de prevenção é uma das áreas mais ativas da neurologia. É crucial e inegociável afirmar desde o início: atualmente, não existe uma cura ou uma forma comprovada de prevenir a Doença de Parkinson. Qualquer pessoa com preocupações sobre a doença deve procurar a orientação de um médico.
Dito isso, décadas de pesquisas epidemiológicas têm apontado consistentemente para uma associação intrigante: o consumo regular de café parece estar ligado a um menor risco de desenvolver a doença. Este artigo irá explorar, de forma segura e baseada em evidências, o que a ciência diz sobre essa conexão, os mecanismos que poderiam explicá-la e por que isso não deve ser interpretado como uma recomendação para o autotratamento.
O que a pesquisa epidemiológica mostra sobre o consumo de café?

A evidência que liga o café a um menor risco de Parkinson é uma das mais fortes e consistentes na pesquisa nutricional observacional. Múltiplos estudos de grande escala, que acompanharam dezenas de milhares de pessoas por muitos anos, encontraram uma relação inversa robusta: quanto maior o consumo de café (e cafeína), menor o risco de desenvolver a Doença de Parkinson.
Conforme destacado por instituições de pesquisa como a Parkinson’s Foundation, essa associação é particularmente forte em homens. Os estudos mostram que homens que consomem regularmente de 2 a 4 xícaras de café por dia podem ter uma redução de risco significativa em comparação com não consumidores.
Qual o papel da cafeína na proteção dos neurônios dopaminérgicos?

A Doença de Parkinson é caracterizada pela morte progressiva dos neurônios na substância negra, uma área do cérebro responsável pela produção de dopamina. A dopamina é um neurotransmissor essencial para o controle suave e coordenado dos movimentos. Acredita-se que o principal mecanismo protetor do café esteja ligado diretamente à cafeína.
A cafeína atua no cérebro como um antagonista dos receptores de adenosina A2A. Pesquisas em neurociência sugerem que a ativação excessiva desses receptores pode ser tóxica para os neurônios dopaminérgicos. Ao bloquear os receptores A2A, a cafeína parece exercer um efeito neuroprotetor, ajudando a proteger essas células vitais contra os processos degenerativos que levam à doença de Parkinson.
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Os outros compostos do café também podem ter um efeito protetor?
Embora a cafeína seja a estrela da pesquisa, o café é uma bebida complexa com mais de mil compostos bioativos, e outros também podem contribuir para o efeito protetor.
Polifenóis (como o ácido clorogênico)
O café é extremamente rico em polifenóis, que são potentes antioxidantes. Eles ajudam a combater o estresse oxidativo, um processo de dano celular que está implicado na morte de neurônios na Doença de Parkinson.
EHT (Eicosanoil-5-hidroxitriptamida)
Um composto encontrado na camada cerosa do grão de café, que demonstrou em estudos de laboratório ter propriedades neuroprotetoras, ajudando a proteger os neurônios contra o acúmulo de proteínas tóxicas.
Trigonelina
Outro composto do café que, em pesquisas preliminares, tem sido associado à regeneração de dendritos e axônios, as “fiação” dos neurônios.
Essa associação é igual para homens e mulheres?
Este é um ponto de nuance importante na pesquisa. A associação protetora entre o consumo de café e um menor risco de Parkinson é consistentemente mais forte e clara nos estudos com homens.
Em mulheres, a relação é mais complexa e parece ser influenciada por fatores hormonais. Alguns estudos, como os analisados pela American Academy of Neurology, sugerem que o uso de terapia de reposição hormonal pós-menopausa (especificamente com estrogênio) pode anular o efeito protetor da cafeína, indicando uma interação complexa entre a cafeína e os hormônios femininos.
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O consumo de café deve ser adotado como uma estratégia de prevenção?
A resposta da comunidade médica e científica é não. A evidência que temos é de associação, não de causalidade. Isso significa que não podemos afirmar que o café causa a proteção, apenas que os dois estão ligados. Pessoas que bebem café podem ter outros hábitos de vida que também são protetores.
Além disso, o consumo elevado de cafeína não é isento de riscos, podendo causar ansiedade, insônia e problemas cardíacos em pessoas sensíveis. A automedicação com café para “prevenir” o Parkinson não é uma estratégia recomendada. A abordagem mais segura para a saúde cerebral a longo prazo continua sendo a prática de um estilo de vida saudável, com exercícios regulares e uma dieta equilibrada.
Se você tem preocupações sobre a Doença de Parkinson, histórico familiar ou apresenta sintomas como tremores, rigidez ou lentidão de movimentos, a consulta com um médico neurologista é indispensável para uma avaliação e orientação adequadas.










