Por Dra.Tayuane Ferreira Pinto, Oftalmologista.
O Retinoblastoma é destacado como o tipo de câncer ocular mais frequente em crianças, embora represente apenas uma pequena fração dos cânceres infantis, cerca de 3%. Sua manifestação pode ser tanto esporádica quanto hereditária, e sua origem é atribuída a mutações genéticas. Nos casos esporádicos, que constituem a maioria, o retinoblastoma surge devido a uma mutação em uma célula ocular, ocorrendo, tipicamente, em crianças com mais de um ano de idade. Já nos casos hereditários, a condição se desenvolve após uma mutação no gene RB1, essencial no controle da divisão celular, que está presente em todas as células do corpo da criança.
Este gene mutado pode ser passado de pais para filhos ou surgir como uma mutação nova, que se perpetuará para as futuras gerações do afetado. O primeiro relato sobre retinoblastoma hereditário data de 1872, quando o oftalmologista brasileiro Hilário de Gouveia tratou um menino com essa condição. A descoberta foi tão significativa que Gouveia é um dos poucos citados como contribuintes essenciais para o estudo de câncer, segundo o National Cancer Institute dos Estados Unidos.
Quais são as formas de manifestação do retinoblastoma?
O retinoblastoma pode se manifestar de três maneiras distintas: o retinoblastoma unilateral, que afeta um único olho e é maioritariamente esporádico; o retinoblastoma bilateral, geralmente hereditário, que compromete ambos os olhos; e o raro retinoblastoma PNET, que se associa a tumores nas células nervosas do cérebro, causando retinoblastoma bilateral hereditário.
Como ocorre o diagnóstico e estadiamento do retinoblastoma?
O diagnóstico do retinoblastoma começa com um exame detalhado realizado por um oftalmologista, que inclui o exame de fundo de olho. Exames por imagem, como ultrassonografia ocular, tomografia e ressonância magnética das órbitas oculares, são utilizados para confirmar a presença do tumor. Interessantemente, a tradicional biópsia é evitada devido ao risco de danificar o delicado tecido ocular. O estadiamento do tumor é crucial para entender sua extensão e prever o tratamento mais adequado.
O retinoblastoma pode ser classificado como intraocular, quando confinado ao olho, ou extraocular, quando se espalha para além da cavidade ocular. O sistema de estadiamento evolui por diversos critérios, incluindo a Classificação Internacional de Retinoblastoma Intraocular ou o sistema Reese-Ellsworth. Estes tecidos determinam a capacidade de salvar o olho afetado e direcionar o tratamento posterior.
Quais são os tratamentos disponíveis para o retinoblastoma?
O tratamento do retinoblastoma visa, prioritariamente, eliminar o câncer e preservar a visão da criança, quando possível. Para isso, utiliza-se uma combinação de terapias oftalmológicas, como a laserterapia, eficaz para pequenos tumores, e a crioterapia, técnica que congela e destrói a massa tumoral. A quimioterapia é empregada para reduzir o tumor, enquanto a radioterapia, com a inserção de placas radioativas próximas aos olhos, funciona bem para certos casos. Em situações extremas e devido à perda de visão, pode-se recorrer à enucleação para remover o olho comprometido.

Tratar crianças com retinoblastoma em centros especializados aumenta significativamente as chances de cura, atingindo uma taxa de sucesso de 90%. Todo o processo — desde a prevenção até o tratamento completo — é realizado em unidades conhecidas como Cancer Centers, que proporcionam um cuidado abrangente e integrado.








