Por muito tempo, a recomendação para consumir mais fibras na dieta esteve associada quase exclusivamente à saúde digestiva e à regularidade intestinal. No entanto, a ciência moderna tem revelado uma conexão muito mais profunda e fascinante: a saúde do nosso intestino está intrinsecamente ligada à saúde do nosso cérebro e ao nosso estado emocional. É crucial e inegociável afirmar desde o início: transtornos de humor, como a depressão e a ansiedade, são condições médicas sérias que exigem diagnóstico e tratamento profissional.
Este artigo irá explorar, de forma segura e baseada em evidências, como a ingestão adequada de fibras não só protege o intestino, mas também nutre o ecossistema que vive nele, influenciando positivamente a comunicação com o cérebro e, consequentemente, o nosso humor.
Como as fibras atuam na proteção e na regularidade do intestino?

Este é o benefício mais conhecido e fundamental das fibras. Elas são um tipo de carboidrato que o corpo não consegue digerir. Existem dois tipos principais que trabalham em conjunto para a saúde intestinal.
- Fibras insolúveis: Não se dissolvem em água e funcionam como uma “vassoura”, adicionando volume às fezes e acelerando seu trânsito pelo intestino, o que é essencial para prevenir a constipação.
- Fibras solúveis: Dissolvem-se em água, formando um gel. Esse gel amacia as fezes, facilitando sua passagem, e também ajuda a controlar os níveis de colesterol e açúcar no sangue.
Essa ação mecânica garante a regularidade e a integridade do trato digestivo, que é a base para todos os outros benefícios.
O que é o microbioma intestinal e por que as fibras são seu “alimento preferido”?
O nosso intestino é o lar de uma vasta e complexa comunidade de trilhões de microrganismos, incluindo bactérias, vírus e fungos, conhecida como microbioma intestinal. Esse ecossistema é tão importante que é frequentemente chamado de “segundo cérebro”.
A saúde e a diversidade desse microbioma dependem diretamente do que comemos, e as fibras são o seu principal combustível. Certos tipos de fibras solúveis, conhecidas como prebióticos, não são digeridos por nós, mas servem de alimento para as bactérias benéficas do nosso intestino. Conforme aponta a Harvard T.H. Chan School of Public Health, ao alimentar essas bactérias boas, ajudamos a manter um ecossistema intestinal equilibrado e saudável, o que é crucial para a comunicação com o cérebro.
O que são os ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) e como eles influenciam o cérebro?
Quando as bactérias benéficas do intestino fermentam as fibras prebióticas, elas produzem compostos extremamente importantes chamados ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), como o butirato, o propionato e o acetato. Esses compostos são os principais mensageiros na comunicação entre o intestino e o cérebro.
Os AGCCs têm múltiplos efeitos benéficos que podem influenciar o humor:
- Fortalecem a barreira intestinal: Ajudam a manter a integridade da parede do intestino, impedindo que substâncias inflamatórias vazem para a corrente sanguínea.
- Reduzem a inflamação: Possuem potentes propriedades anti-inflamatórias, tanto no intestino quanto sistemicamente. A inflamação crônica é um fator de risco conhecido para a depressão.
- Influenciam a produção de neurotransmissores: Acredita-se que os AGCCs possam atravessar a barreira hematoencefálica e influenciar a produção de neurotransmissores essenciais para o humor, como a serotonina.
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Quais são os pilares de uma dieta rica em fibras prebióticas?
Para nutrir seu microbioma, a variedade é a chave. Incluir uma ampla gama de alimentos vegetais garante o fornecimento de diferentes tipos de fibras para diferentes tipos de bactérias benéficas.
Alho, cebola e alho-poró
São ricos em fruto-oligossacarídeos (FOS), um tipo de fibra prebiótica potente.
Aspargos e alcachofras
Excelentes fontes de inulina, outra fibra prebiótica que estimula o crescimento de bifidobactérias saudáveis.
Aveia e cevada
Contêm betaglucana, uma fibra solúvel que não só alimenta as bactérias boas, mas também ajuda a controlar o colesterol.
Bananas (especialmente as mais verdes)
São uma boa fonte de amido resistente, que funciona de forma semelhante a uma fibra prebiótica no cólon.
Leguminosas (feijão, lentilha, grão-de-bico)
São uma das fontes mais ricas e completas de fibras, essenciais para a saúde geral do intestino.
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Aumentar as fibras na dieta exige algum cuidado?
Sim. Um aumento súbito e drástico na ingestão de fibras pode causar desconforto temporário, como gases e inchaço, enquanto o sistema digestivo se adapta. A recomendação de especialistas, como a Academy of Nutrition and Dietetics, é aumentar a ingestão de forma gradual ao longo de várias semanas.
O passo mais importante ao aumentar as fibras é aumentar a ingestão de água proporcionalmente. A água é essencial para que as fibras, especialmente as solúveis, possam formar o gel e funcionar corretamente. Se você sofre de problemas digestivos crônicos ou de transtornos de humor, a consulta com um médico gastroenterologista e/ou um psiquiatra, juntamente com a orientação de um nutricionista, é a única abordagem segura e eficaz.








