O chá de boldo é um dos remédios populares mais usados para o “fígado” e a má digestão. No entanto, o seu consumo regular é desaconselhado pela ciência e pode ser, paradoxalmente, perigoso para a saúde hepática.
Por que o boldo é tão famoso para a digestão e “ressaca”?
A fama do boldo vem de sua potente ação colerética e colagoga. O principal composto ativo do Boldo-do-chile, a boldina, estimula o fígado a produzir mais bile (colerético) e ajuda a vesícula biliar a liberar essa bile no intestino (colagogo).
A bile é essencial para a digestão de gorduras. Quando comemos alimentos pesados ou bebemos álcool (que o fígado metaboliza), a digestão fica lenta. O boldo “empurra” a bile, o que acelera a digestão da gordura, aliviando a sensação de estufamento e enjoo.
Portanto, o benefício tradicional não é “curar” o fígado, mas sim auxiliar a vesícula biliar a lidar com uma refeição pesada, otimizando a digestão da gordura.

Qual a diferença crucial entre os tipos de boldo?
Este é o ponto de segurança mais importante. O termo “boldo” é usado para duas plantas muito diferentes, e uma delas é tóxica para o fígado.
O Boldo-do-chile (Peumus boldus) é o mais seguro. É vendido em folhas secas ou sachês, contém alta concentração de boldina (o composto benéfico) e baixos níveis de ascaridole.
O Boldo-da-terra (Plectranthus barbatus), também chamado de “boldo-rasteiro” ou “boldo-de-jardim” (a folha peluda), é o oposto. Ele é rico em um composto tóxico chamado ascaridole. O consumo deste tipo de boldo, especialmente das folhas cruas (ex: maceradas em água), é perigoso.
O boldo “limpa” o fígado ou o sobrecarrega?
O boldo (do Chile) não “limpa” o fígado; ele estimula a vesícula biliar. O ascaridole, presente em altas doses no boldo-da-terra, é um hepatotóxico conhecido (tóxico para o fígado).
Se consumido regularmente, o fígado é forçado a metabolizar esse composto tóxico, o que o sobrecarrega e pode levar a danos hepáticos (hepatite medicamentosa). O consumo regular é exatamente o oposto do que se busca para a saúde hepática.
Quais são os riscos reais do consumo de boldo?
O ascaridole é o principal risco, mas a boldina (do Boldo-do-chile) também pode ser problemática em excesso, pois a superestimulação da vesícula pode causar cólicas severas.
O NIH (EUA) também documenta casos de lesão hepática ligados ao boldo.
Riscos principais do consumo (especialmente o “da-terra” ou em excesso):
- Hepatotoxicidade: Dano ao fígado, podendo levar à hepatite medicamentosa.
- Efeito Abortivo: É contraindicado para grávidas, pois pode causar contrações uterinas.
- Irritação Gástrica: Em doses altas, pode ser muito irritante para o estômago.
- Interações Medicamentosas: Pode interferir com anticoagulantes (como a Varfarina) e outros medicamentos metabolizados pelo fígado.
Como o boldo deve ser consumido com (muita) segurança?
O boldo nunca deve ser usado de forma regular ou preventiva. Ele é um remédio de uso ocasional e pontual para um episódio agudo de má digestão após uma refeição gordurosa.
Para segurança, a preferência deve ser sempre pelos produtos industrializados e controlados, que usam o Peumus boldus (Boldo-do-chile) e têm níveis de ascaridole monitorados, sendo preparados por infusão.
A tabela abaixo compara os dois tipos principais:
| Tipo de Boldo | Composto Ativo Principal | Risco (Fígado) |
| Boldo-do-Chile (Peumus boldus) | Boldina (Digestivo) | Baixo (se ocasional) |
| Boldo-da-Terra (Plectranthus) | Ascaridole (Tóxico) | Alto (Hepatotóxico) |
Regras de segurança (NUNCA quebre estas regras):
- Apenas Ocasional: Use no máximo 1-2 vezes por mês, após uma refeição pesada, nunca diariamente.
- Evite o Boldo-da-Terra: (A folha “peluda” do quintal) Dê preferência aos sachês de Boldo-do-chile (folhas secas).
- Nunca na Gravidez: É absolutamente contraindicado para gestantes e lactantes.
- Doses Baixas: Use a menor dose possível (1 xícara) apenas para aliviar o sintoma agudo.









