O chá de dente-de-leão é frequentemente promovido na cultura popular como um “tônico” ou “limpador” para o fígado. É crucial e inegociável afirmar desde o início, com a máxima seriedade: as doenças hepáticas são condições silenciosas e graves que exigem um diagnóstico e tratamento médico. Nenhuma erva ou chá pode ou deve ser usado para “tratar” ou “desintoxicar” o fígado, e a automedicação pode ser extremamente perigosa.
Este artigo irá explorar, de forma segura e baseada em evidências, o que a ciência realmente sabe sobre o dente-de-leão, porque a ideia de “detox do fígado” é um mito e quais os cuidados indispensáveis relacionados ao seu consumo.
Qual o uso tradicional do dente-de-leão e o que a ciência investiga?

O dente-de-leão (Taraxacum officinale) tem um longo histórico de uso na medicina tradicional de várias culturas como um diurético e um auxílio para a digestão. A ciência moderna tem se dedicado a investigar a base para esses usos, identificando que a planta é rica em compostos bioativos, como os polissacarídeos.
Estudos in vitro (em laboratório) e em animais sugeriram que os extratos de dente-de-leão possuem propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias. Algumas pesquisas em animais também indicaram um potencial hepatoprotetor, ou seja, uma capacidade de ajudar a proteger as células do fígado contra danos induzidos por certas toxinas. No entanto, é fundamental entender que esses são achados preliminares e laboratoriais.
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Existe evidência de que o dente-de-leão “limpe” ou “desintoxique” o fígado?
A resposta curta e científica é não. O conceito de “detox do fígado” através de chás e sucos é um dos maiores mitos do universo do bem-estar. O fígado é o principal órgão de desintoxicação do corpo, um sistema de filtragem e metabolização incrivelmente complexo e autossuficiente, que funciona 24 horas por dia.
O fígado não “acumula” toxinas que precisam ser “lavadas” por um chá. A melhor e única maneira de apoiar a função de desintoxicação do fígado é reduzir a carga de trabalho a que ele é submetido. Isso significa:
- Moderar ou eliminar o consumo de álcool.
- Manter um peso saudável.
- Evitar o consumo excessivo de açúcar e alimentos ultraprocessados.
- Não se automedicar, pois muitos medicamentos são processados pelo fígado.
O que as pesquisas científicas em humanos realmente dizem?
É aqui que a cautela é mais necessária. Até o momento, faltam ensaios clínicos robustos, controlados e em larga escala em humanos que comprovem que o consumo de chá de dente-de-leão traz benefícios diretos para a saúde do fígado ou para o tratamento de qualquer doença hepática.
Os benefícios observados em laboratório não se traduziram, até agora, em evidências clínicas sólidas para o uso terapêutico em pessoas. Portanto, qualquer alegação de que o chá de dente-de-leão pode tratar o “fígado gorduroso” ou outras condições é infundada e perigosa.
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O consumo de chá de dente-de-leão é seguro?
“Natural” não significa inócuo. O chá de dente-de-leão apresenta riscos e contraindicações importantes.
- Reações Alérgicas: Pessoas com alergia a plantas da mesma família, como a ambrósia, o crisântemo ou a margarida, podem ter uma reação alérgica ao dente-de-leão.
- Problemas na Vesícula Biliar: O dente-de-leão pode estimular a produção de bile, o que pode ser perigoso para pessoas com cálculos biliares ou obstrução do ducto biliar.
- Doença Renal: Por seu efeito diurético, pessoas com doença renal crônica devem evitar o consumo sem orientação médica.
- Interações Medicamentosas: O dente-de-leão pode interagir com diversos medicamentos, incluindo diuréticos, lítio e anticoagulantes.
A única maneira segura de cuidar da saúde do seu fígado é através do acompanhamento profissional. Se você tem preocupações com seu fígado ou se tem fatores de risco como obesidade ou diabetes, a consulta com um médico hepatologista ou gastroenterologista é indispensável. Apenas um profissional pode, através de exames, avaliar a saúde do seu fígado e indicar o tratamento e as mudanças de estilo de vida mais seguras e eficazes para você.








