Um pedaço de queijo gorduroso costuma ser lembrado como um agrado calórico, mas novos dados indicam que esse tipo de alimento pode ter relação com a saúde do cérebro. Um estudo amplo, publicado em 17 de dezembro de 2025 na revista Neurology, observou que pessoas que consomem mais queijo gorduroso e creme de leite com alto teor de gordura apresentaram menor probabilidade de desenvolver demência ao longo do tempo. A pesquisa não comprova que esses alimentos previnem a doença, mas aponta uma associação relevante para o debate sobre alimentação, função cerebral e envelhecimento saudável.
O que o estudo mostra sobre queijo gorduroso e risco de demência
A palavra-chave central desse debate é queijo gorduroso, definido no estudo como aquele com mais de 20% de gordura, como cheddar, brie e gouda em versões integrais. Entre mais de 27 mil adultos suecos analisados por cerca de 25 anos, um dos focos principais foi comparar quem comia pelo menos 50 gramas por dia desse tipo de queijo com quem ingeria menos de 15 gramas diários.
Ao longo do acompanhamento, cerca de 3,2 mil participantes receberam diagnóstico de algum tipo de demência. Na comparação entre grupos, 10% das pessoas que consumiam mais queijo gorduroso desenvolveram demência, contra 13% entre as que ingeriam quantidades menores. Após ajustes estatísticos para fatores como idade, sexo, escolaridade e padrão geral de alimentação, o maior consumo de queijo integral foi associado a um risco 13% menor de demência em geral.
Para exemplificar, trouxemos o vídeo do nutricionista Lucas Stein:
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Quais tipos de demência apresentaram maior redução de risco
Quando os cientistas separaram os tipos de demência, o resultado chamou ainda mais atenção no caso da demência vascular, ligada a alterações na circulação sanguínea do cérebro. Para esse tipo específico, a ingestão mais alta de queijo gorduroso apareceu associada a uma redução de 29% no risco, sugerindo possível influência na saúde dos vasos sanguíneos cerebrais.
Também foi observada uma relação favorável entre consumo de queijo e risco de doença de Alzheimer, porém apenas entre pessoas que não carregavam a variante genética APOE e4, considerada um importante fator de risco genético para esse quadro. Isso indica que a interação entre dieta e genética pode modular o impacto dos laticínios integrais na cognição.
Como o creme de leite gorduroso se relaciona com o cérebro
Além do queijo integral, o estudo avaliou o papel do creme de leite com alto teor de gordura, como o creme de leite fresco ou creme de leite pesado, geralmente rotulados como “full-fat” ou “regular”. Os pesquisadores compararam pessoas que ingeriam ao menos 20 gramas por dia — o equivalente aproximado a 1,4 colher de sopa — com participantes que não consumiam esse tipo de creme.
Depois de controlar os mesmos fatores de saúde e estilo de vida, a ingestão diária de creme de leite gorduroso esteve associada a um risco 16% menor de desenvolver demência, em comparação com quem não consumia o produto. Esse achado reforça a ideia de que certos laticínios gordurosos podem ter relação específica com a saúde cerebral, distinta de outros alimentos da mesma categoria e possivelmente ligada a gorduras saturadas lácteas e vitaminas lipossolúveis.
- Queijo com mais de 20% de gordura: cheddar, brie, gouda e similares.
- Creme de leite com 30–40% de gordura: creme de leite fresco, creme de leite pesado.
- Consumo diário considerado alto: cerca de 50 g de queijo integral ou 20 g de creme.

Todos os laticínios oferecem o mesmo tipo de proteção cerebral
Um ponto importante do estudo é que o efeito observado não valeu para todos os tipos de derivados do leite. Os pesquisadores não encontraram associação clara entre risco de demência e consumo de queijo magro, creme de leite com baixo teor de gordura, leite integral ou desnatado, manteiga e leites fermentados como iogurte, kefir e buttermilk.
Em outras palavras, a relação positiva ficou concentrada em queijo gorduroso e creme de leite rico em gordura. Esse padrão levanta a hipótese de que a combinação específica de nutrientes presentes nesses produtos — como certos tipos de gordura, vitaminas lipossolúveis e compostos bioativos da fermentação — possa ter papel diferenciado no metabolismo cerebral em comparação com versões desnatadas ou outros laticínios.
- Os dados mostram associação observacional, não causa e efeito.
- Outros hábitos de vida saudáveis também influenciam o risco de demência.
- Versões magras de laticínios não apresentaram o mesmo padrão de associação.
Quais são as principais limitações e próximos passos da pesquisa
Apesar de robusto em número de participantes e tempo de acompanhamento, o estudo tem limitações relevantes. Todos os voluntários viviam na Suécia, país com hábitos alimentares específicos, especialmente em relação ao consumo de queijo gorduroso, geralmente ingerido frio, em fatias ou pedaços, sem necessariamente estar associado a pratos ultracalóricos.
Essa diferença cultural significa que os resultados podem não se aplicar diretamente a outras populações. Fatores como registros alimentares autorrelatados, variações genéticas, ambiente, acesso à saúde e padrão global de dieta também podem interferir tanto na alimentação quanto no risco de demência. Por isso, são necessários novos estudos em diferentes países, como Brasil e Estados Unidos, para confirmar esses achados e investigar quais componentes do queijo integral e do creme de leite gorduroso estão mais envolvidos nessa possível proteção.






