Salgadinhos, refrigerantes, macarrão instantâneo, biscoitos recheados. Os alimentos ultraprocessados são práticos, acessíveis e projetados para serem deliciosos, tornando-se uma presença constante na rotina de muitas pessoas. No entanto, a ciência já comprovou que uma dieta baseada nesses produtos está ligada a uma série de problemas de saúde.
A boa notícia é que reduzir o consumo de ultraprocessados não precisa ser um processo de sofrimento, culpa ou restrição radical. A chave para o sucesso não é uma “dieta”, mas sim uma jornada de reeducação alimentar feita com estratégia, paciência e autocompaixão, focada em adicionar mais comida de verdade ao prato, de forma gradual e prazerosa.
Salgadinho, macarrão instantâneo, refrigerante: o que realmente define um alimento “ultraprocessado”?

É fácil identificar um brócolis como “comida de verdade” e um salgadinho de pacote como algo artificial, mas o que tecnicamente os define? De acordo com a classificação NOVA, usada pelo Guia Alimentar para a População Brasileira, ultraprocessados não são alimentos modificados, mas sim “formulações industriais”.
Eles são feitos majoritariamente de ingredientes extraídos de alimentos (como açúcar, gorduras, amidos) e repletos de aditivos químicos, como corantes, aromatizantes e realçadores de sabor. Uma dica prática para identificá-los é olhar a lista de ingredientes: se ela for longa e cheia de nomes que você não reconhece ou não teria em sua cozinha, provavelmente é um ultraprocessado.
Por que nosso cérebro parece “viciado” em alimentos ultraprocessados?
Se você sente uma dificuldade enorme em comer apenas um biscoito ou um punhado de batatas fritas, a culpa não é sua. Os ultraprocessados são projetados pela indústria alimentícia para serem hiperpalatáveis, ou seja, irresistíveis. Eles contêm uma combinação precisa de açúcar, gordura e sal que atinge o chamado “ponto de êxtase” no nosso cérebro.
Essa combinação superestimula a liberação de dopamina, o neurotransmissor do prazer, de forma muito mais intensa do que a comida de verdade. Isso cria um ciclo vicioso de recompensa e desejo que nos faz querer mais e mais, de forma muito semelhante a um vício. Não se trata de falta de força de vontade, mas de uma resposta neuroquímica.
Qual a estratégia de “somar antes de subtrair” para começar a mudança sem sentir que está de dieta?
A abordagem de cortar tudo de uma vez geralmente leva à sensação de privação e ao fracasso. Uma estratégia muito mais gentil e eficaz é a de “somar antes de subtrair”. Em vez de focar no que você “não pode” comer, concentre-se em adicionar mais alimentos saudáveis e nutritivos à sua rotina.
Comece com uma meta simples: adicionar uma fruta no seu café da manhã ou uma porção de salada colorida antes do almoço. Ao nutrir seu corpo com mais comida de verdade, a tendência é que a saciedade aumente e os desejos por ultraprocessados diminuam naturalmente, sem a sensação de estar em uma dieta restritiva.
Quais são as “trocas inteligentes” que você pode fazer no supermercado e na cozinha?
Reduzir os ultraprocessados fica mais fácil quando você tem alternativas práticas e saborosas à mão. Fazer pequenas “trocas inteligentes” no seu dia a dia é uma forma de avançar sem sentir que está abrindo mão do prazer de comer.
O segredo é pensar em como você pode “desultraprocessar” suas refeições favoritas.
Trocas inteligentes para o dia a dia
- No café da manhã Troque o cereal matinal açucarado por aveia em flocos com frutas. Troque o pão de forma branco por um pão integral com menos ingredientes no rótulo.
- Nos lanches Troque o salgadinho de pacote por um mix de castanhas ou por grão-de-bico torrado e temperado. Troque o biscoito recheado por uma banana com pasta de amendoim.
- Nas refeições principais Troque o tempero pronto em pó ou em cubo (rico em sódio e aditivos) por temperos naturais, como alho, cebola, ervas frescas e especiarias. Troque o macarrão instantâneo por um macarrão integral com molho de tomate caseiro.
- Nas bebidas Troque o refrigerante ou o suco de caixinha por água saborizada com frutas, chá gelado sem açúcar ou água com gás e limão.
Como o planejamento de marmitas pode ser sua arma mais poderosa contra a tentação?
Os ultraprocessados vencem, na maioria das vezes, pela conveniência. Em um dia corrido, sem tempo ou energia para cozinhar, a opção mais fácil parece ser abrir um pacote ou pedir um delivery. A arma mais poderosa contra essa tentação é o planejamento de refeições e as famosas marmitas.
Dedique algumas horas do seu fim de semana para o “meal prep”: cozinhe uma base de arroz integral e feijão, asse alguns legumes, cozinhe e desfie um frango. Deixe tudo guardado em potes na geladeira. Dessa forma, durante a semana, montar um prato saudável e delicioso será tão rápido e prático quanto aquecer uma comida congelada.
A vontade de comer um “lixo” apareceu, o que fazer para lidar com o desejo sem ceder (ou sem culpa)?
É normal sentir vontade de comer um ultraprocessado de vez em quando. O objetivo é a redução, não a perfeição. Quando o desejo surgir, a primeira estratégia é a “pausa de ouro”: espere 15 minutos e beba um copo grande de água. Muitas vezes, o desejo passa ou diminui.
Se a vontade persistir, você tem duas opções saudáveis. A primeira é buscar uma versão caseira e menos processada do que você deseja. A segunda é se permitir comer o produto sem culpa. Adotar uma mentalidade 80/20 (80% de comida de verdade e 20% de flexibilidade) é muito mais sustentável do que a proibição total, que só aumenta o desejo e a chance de compulsão. Lembre-se: é a frequência que define o impacto na sua saúde, não a exceção.









