A recente mudança nas normas que regem a assistência e políticas públicas voltadas para pessoas transgênero no Brasil tem levantado preocupações entre pesquisadores e profissionais da saúde. As novas diretrizes estipuladas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) têm o potencial de desfazer avanços importantes no atendimento e pesquisa voltados para essa comunidade, especialmente no que diz respeito ao uso de hormonioterapias e bloqueadores hormonais em menores de idade. Essas circunstâncias refletem uma tendência internacional, onde vários países vêm revendo suas políticas para populações Trans, muitas vezes impondo restrições significativas.
No Brasil, as mudanças incluem a proibição do uso de bloqueadores hormonais em indivíduos com menos de 18 anos e a restrição da terapia hormonal cruzada para maiores de 18. Além disso, as cirurgias de transição de gênero agora são permitidas apenas a partir dos 21 anos. Essa abordagem, segundo especialistas, não apenas limita a autonomia dos jovens Trans em decidir sobre sua saúde, mas também afeta profundamente o campo de pesquisa, ao impedir estudos e intervenções baseadas em evidências.
Quais são os efeitos das novas restrições no Brasil?
Os efeitos dessas restrições podem ser vistos em várias frentes. Do ponto de vista clínico, há um temor de que essas políticas criem um ambiente intimidador para profissionais da saúde, que podem hesitar em oferecer cuidados essenciais a jovens Trans. Além disso, a ausência de tratamentos adequados pode aumentar os riscos de depressão, isolamento social e outras complicações psicológicas sérias, exacerbando os desafios enfrentados por esses jovens.

Ademais, a resolução afeta a produção científica, uma vez que inibe o desenvolvimento de estudos sobre a eficácia e segurança desses tratamentos. Este bloqueio à progressão científica preocupa, pois impede a geração de dados que poderiam fundamentar decisões de saúde baseadas em evidências robustas. O âmbito das ciências médicas se vê limitado em sua capacidade de explorar novos tratamentos ou aperfeiçoar os já existentes para uma população que já é marginalizada.
Como estão outros países lidando com essa questão?
Diversos países estão revisando suas políticas em relação às práticas médicas voltadas para transição de gênero. No Reino Unido, por exemplo, o Serviço Nacional de Saúde restringiu o uso de bloqueadores de puberdade, limitando-os a contextos de pesquisa. Nos Estados Unidos, novas legislações surgiram em vários estados, limitando ou até proibindo cuidados de afirmação de gênero para menores de idade, apesar de recomendações contrárias de importantes associações médicas americanas.
Essas mudanças têm levantado não só questões de saúde, mas também de direitos humanos, à medida que interferem diretamente no acesso de indivíduos Trans a cuidados que são considerados necessários por grande parte da comunidade médica global. Há uma preocupação constante de que essas políticas possam forçar a busca de tratamentos através de meios não regulados e menos seguros.
Qual é a importância de uma abordagem baseada em evidências?
Um dos principais argumentos contra essas restrições é que as decisões de saúde pública deveriam ser fundamentadas em evidências científicas e não guiadas por ideologias ou pressões políticas. Abordagens com base em dados concretos permitem a elaboração de protocolos que asseguram não apenas a eficácia, mas também a segurança dos tratamentos oferecidos à população Trans.
A implantação de políticas que não consideram a autonomia dos indivíduos e as evidências disponíveis pode resultar em consequências adversas significativas. É crucial que profissionais de saúde, pesquisadores e formuladores de políticas trabalhem juntos para assegurar que as normas sejam adequadas às necessidades reais da população, respeitando seus direitos e particularidades.
O papel das instituições e da sociedade civil
Entidades profissionais, acadêmicas e diversas organizações de defesa dos direitos humanos são peças-chave nesse debate. O suporte dessas instituições pode ser fundamental para pressionar por mudanças nas políticas atuais, promovendo um diálogo informado e influenciando positivamente a legislação no futuro. A escuta ativa das experiências de indivíduos Trans e suas famílias deve ser incorporada nesse processo para garantir que suas vozes sejam ouvidas e suas necessidades, atendidas.
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Dra. Anna Luísa Barbosa Fernandes
CRM-GO 33.271






