A hipertensão arterial, popularmente conhecida como pressão alta, é uma das doenças crônicas mais prevalentes e perigosas do mundo. O seu maior perigo, no entanto, não está nos seus efeitos, mas na sua discrição. Ela raramente apresenta sintomas em seus estágios iniciais, o que lhe rendeu o temido apelido de “assassina silenciosa”.
Milhões de brasileiros vivem com a pressão perigosamente elevada sem saber, enquanto, dia após dia, a doença desgasta silenciosamente as artérias, o coração, os rins e o cérebro. Identificar a hipertensão silenciosa antes que seja tarde demais não é uma questão de sorte, mas sim de conscientização e de um ato muito simples: medir a pressão regularmente.
Por que a hipertensão é conhecida como a “assassina silenciosa”?

Diferente de uma dor de cabeça ou uma febre, a pressão alta não envia sinais claros de que algo está errado. Uma pessoa pode ter uma pressão de 160×100 mmHg — um valor consideravelmente alto e perigoso — e não sentir absolutamente nada. É possível passar anos com a doença sem qualquer sintoma aparente.
É justamente essa ausência de sintomas que a torna tão traiçoeira. Enquanto a pessoa segue sua vida normalmente, a pressão elevada está causando danos progressivos e irreversíveis aos vasos sanguíneos e aos órgãos vitais. Quando os primeiros sintomas, como dor no peito, falta de ar ou alterações na visão, finalmente aparecem, muitas vezes a doença já causou estragos significativos.
Como a pressão alta “machuca” suas artérias e órgãos vitais sem que você perceba?
Imagine uma mangueira de jardim operando constantemente com uma pressão de água muito acima do recomendado. Com o tempo, as paredes da mangueira se tornam rígidas, danificadas e menos flexíveis. É exatamente isso que a hipertensão arterial faz com as nossas artérias. Essa força excessiva do sangue contra a parede dos vasos sanguíneos machuca seu revestimento interno.
Esse dano facilita o acúmulo de placas de gordura (aterosclerose), enrijece as artérias e força o coração a trabalhar mais para bombear o sangue, o que pode levar à sua hipertrofia e eventual insuficiência. Além disso, os vasos delicados dos rins (essenciais para a filtragem do sangue) e do cérebro também são danificados, aumentando drasticamente o risco de insuficiência renal e de um Acidente Vascular Cerebral (AVC).
Se não há sintomas claros, como descobrir se você faz parte dos milhões de hipertensos não diagnosticados?
A resposta é direta e inequívoca: a única forma de diagnosticar a hipertensão silenciosa é medindo a pressão arterial de forma regular. Essa é a principal mensagem que todos os adultos devem internalizar. Esperar por um sintoma é esperar pelo agravamento da doença.
Medir a pressão é um procedimento simples, rápido, indolor e acessível. Pode ser feito em uma consulta médica, em farmácias ou até mesmo em casa, com aparelhos digitais validados e calibrados. Para todos os adultos, a recomendação é verificar a pressão pelo menos uma vez por ano. Para aqueles com fatores de risco, a frequência deve ser maior.
Genética, estresse, sedentarismo: quem está no radar da hipertensão?
A pressão alta é uma doença multifatorial, influenciada por fatores que podemos e que não podemos controlar. Conhecer esses fatores de risco é fundamental para saber se você precisa ter uma atenção redobrada com a sua pressão.
A presença de um ou mais desses fatores aumenta significativamente a necessidade de um monitoramento regular.
Principais fatores de risco
- Fatores que você não pode mudar
- Histórico familiar: Ter pais ou parentes próximos hipertensos aumenta muito o seu risco.
- Idade: O risco aumenta progressivamente com o envelhecimento.
- Etnia: Pessoas negras têm maior predisposição à doença e a formas mais graves dela.
- Fatores que você pode mudar
- Sobrepeso e obesidade: O excesso de peso aumenta a sobrecarga no coração.
- Sedentarismo: A falta de atividade física regular contribui para o enrijecimento das artérias.
- Dieta rica em sódio: O consumo excessivo de sódio (sal) está diretamente ligado à elevação da pressão.
- Consumo excessivo de álcool.
- Tabagismo.
- Estresse crônico.
O que significam os famosos “12 por 8” e a partir de qual valor o sinal de alerta deve acender?
Ao medir a pressão, você verá dois números, como 120/80 mmHg (lido como “doze por oito”). O primeiro número, maior, é a pressão sistólica, que mede a força nas artérias quando o coração bate. O segundo, menor, é a pressão diastólica, a força quando o coração está em repouso entre as batidas.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia, a pressão ótima é abaixo de 120×80 mmHg. O diagnóstico de hipertensão é geralmente feito quando as medições em consultório são consistentemente iguais ou superiores a 140×90 mmHg. Valores entre esses dois marcos podem indicar um estado de pré-hipertensão, que já é um sinal de alerta para intensificar os cuidados.
É possível reverter ou controlar a pressão alta antes que ela cause danos graves?
Sim, e essa é a melhor notícia. A hipertensão arterial é uma doença altamente controlável. Para muitos, especialmente em estágios iniciais, uma mudança significativa no estilo de vida pode ser suficiente para normalizar a pressão ou evitar que ela suba. Isso inclui reduzir drasticamente o consumo de sódio, adotar uma dieta rica em frutas e vegetais, praticar atividade física regularmente, perder peso, limitar o consumo de álcool e gerenciar o estresse.
Para outros, a medicação será necessária e é um passo crucial para a proteção da saúde. Tomar o anti-hipertensivo prescrito pelo médico não é um sinal de fracasso, mas sim a atitude mais inteligente para prevenir as complicações devastadoras da doença. O tratamento é uma parceria contínua com seu médico para garantir uma vida longa e saudável.