Você recebe um elogio por um trabalho bem-feito, é aprovado em um processo seletivo ou ganha uma promoção. Em vez de sentir alegria e orgulho, uma onda de pânico toma conta e um pensamento sussurra em sua mente: “Eles cometeram um erro. É uma questão de tempo até descobrirem que eu não sou tão bom assim”. Se essa sensação é familiar, você pode estar vivenciando a síndrome do impostor.
Apesar do nome, não se trata de um transtorno mental formalmente diagnosticado, mas sim de um padrão psicológico profundo e persistente no qual a pessoa é incapaz de internalizar suas próprias conquistas. É um sentimento de fraude intelectual que afeta milhões de pessoas competentes e bem-sucedidas, minando silenciosamente a autoconfiança, a carreira e, principalmente, a saúde mental.
Você se sente uma fraude prestes a ser desmascarada, mesmo tendo sucesso?

O cerne da síndrome do impostor é essa dissonância cognitiva: de um lado, existem evidências externas de sucesso e competência (diplomas, promoções, feedbacks positivos); do outro, há uma crença interna e inabalável de que você não merece nada daquilo. A pessoa que sofre com essa síndrome atribui seus sucessos a fatores externos.
Seus acertos são vistos como resultado de “sorte”, “bom timing”, “ajuda de outras pessoas” ou por ter “enganado” os outros, fazendo-os acreditar que é mais inteligente do que realmente é. O sucesso, em vez de reforçar a autoconfiança, aumenta a pressão e o medo de que, na próxima vez, a “farsa” será descoberta.
Perfeccionismo, procrastinação ou excesso de trabalho: qual o seu “disfarce” de impostor?
O medo de ser “desmascarado” leva as pessoas a adotarem comportamentos de enfrentamento que, na verdade, perpetuam o ciclo da síndrome. Esses padrões são como “disfarces” para esconder a suposta incompetência. Identificar qual deles é mais presente em sua vida é um passo importante para a autoconsciência.
Esses comportamentos são exaustivos e, embora possam levar a bons resultados, eles reforçam a crença de que o sucesso só foi possível devido a um esforço sobre-humano ou à sorte, e não à habilidade inata.
Os disfarces mais comuns
- O perfeccionista Define metas excessivamente altas para si mesmo e, mesmo que atinja 99% delas, se sente um fracasso pelo 1% que faltou. O perfeccionismo é usado como uma armadura para evitar críticas.
- O super-herói ou super-heroína Acredita que precisa trabalhar mais do que todos os outros para provar seu valor. Fica até mais tarde, assume mais projetos do que consegue dar conta e sacrifica a vida pessoal, o que leva diretamente ao burnout.
- O especialista Sente que nunca sabe o suficiente e tem medo de parecer ignorante. Está sempre buscando mais um curso ou certificação antes de se sentir “pronto” e hesita em se candidatar a uma vaga se não preencher 100% dos requisitos.
- O procrastinador Adia tarefas por medo de não conseguir executá-las com perfeição. Esse adiamento cria uma desculpa conveniente: “Se eu tivesse tido mais tempo, teria feito melhor”, protegendo a pessoa de confrontar sua suposta falta de habilidade.
Como o medo constante de “ser descoberto” sabota sua saúde mental e sua carreira?
Viver com a síndrome do impostor é mentalmente exaustivo. A necessidade constante de provar seu valor e o medo paralisante de falhar criam um estado de ansiedade e estresse crônicos. A pessoa evita correr riscos, não compartilha suas opiniões em reuniões por medo de parecer “boba” e recusa oportunidades de liderança por não se sentir à altura.
Essa autossabotagem limita o crescimento profissional e pessoal. Além disso, o esforço hercúleo para manter a “farsa” — seja através do perfeccionismo ou do excesso de trabalho — é um caminho direto para o burnout, o esgotamento físico e mental completo.
Por que pessoas competentes são as maiores vítimas da síndrome do impostor?
Paradoxalmente, a síndrome do impostor é mais comum em pessoas de alto desempenho. Isso acontece porque indivíduos competentes e inteligentes tendem a ter uma consciência maior do quanto ainda não sabem. Eles estabelecem padrões extremamente elevados para si mesmos e, muitas vezes, comparam seus “bastidores” (cheios de dúvidas e esforço) com o “palco” dos outros (que só exibe o sucesso final).
O sucesso, para eles, não alivia a pressão; ele a aumenta. “Se eu consegui isso agora, a expectativa para o próximo projeto será ainda maior. Como vou conseguir repetir?”. Esse pensamento alimenta o medo e a sensação de que a sorte uma hora vai acabar.
Qual o primeiro passo para começar a aceitar seus sucessos e silenciar a voz do impostor?
Combater a síndrome do impostor é um processo de treinar o cérebro a pensar de forma diferente. O primeiro passo é aprender a separar sentimentos de fatos. Reconheça o pensamento (“Eu sinto que sou uma fraude”) e, em seguida, confronte-o com evidências concretas (“Mas o fato é que recebi um feedback positivo deste cliente”).
Uma técnica poderosa é criar um “dossiê de sucessos”. Guarde uma pasta em seu e-mail ou computador com todos os elogios, reconhecimentos e projetos bem-sucedidos que você já teve. Em momentos de dúvida, leia esse arquivo. É uma forma de apresentar provas concretas ao seu “juiz interno” de que a voz do impostor está mentindo.
Conversar sobre o sentimento de fraude pode realmente ajudar?
Sim, e muito. O segredo da síndrome do impostor é que ela prospera no isolamento e no silêncio, fazendo você acreditar que é o único a se sentir assim. Ao ter a coragem de compartilhar esse sentimento com um colega de confiança, um mentor ou um amigo, você provavelmente terá uma surpresa: a enorme chance de ouvir um “eu também me sinto assim”.
Essa partilha quebra o tabu e normaliza a experiência, o que por si só já é terapêutico. Além disso, a terapia com um psicólogo é a ferramenta mais eficaz para desconstruir essas crenças limitantes. Um profissional pode te ajudar a entender as raízes desses sentimentos e a desenvolver estratégias da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) para reestruturar seus padrões de pensamento de forma duradoura.








