O governo brasileiro está considerando uma mudança significativa no Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT), que pode substituir os tradicionais cartões de vale-refeição por transferências diretas via Pix. Essa proposta visa eliminar as taxas cobradas por operadoras de cartões, assegurando que o valor total do benefício chegue diretamente aos trabalhadores. Em um cenário de inflação elevada, essa medida busca fortalecer o poder de compra dos trabalhadores e, potencialmente, aumentar a popularidade do governo.
O plano, ainda em fase de desenvolvimento, propõe que as empresas depositem o benefício diretamente na conta bancária ou carteira digital dos funcionários, eliminando intermediários. Essa abordagem pode reduzir custos operacionais e garantir que os trabalhadores recebam o valor integral do benefício, sem deduções.
Quais são os desafios e preocupações do ‘Pix no prato’?
A proposta enfrenta desafios significativos. A Associação Brasileira das Empresas de Benefícios ao Trabalhador (ABBT) expressou preocupações de que o pagamento direto em dinheiro possa transformar o benefício em salário, o que implicaria em novos encargos trabalhistas e fiscais para as empresas. Isso poderia tornar a oferta do benefício menos atraente para os empregadores.
Além disso, há preocupações de que, sem os controles atuais, os recursos possam ser usados para fins não previstos, como apostas ou pagamento de dívidas. Enquanto alguns defendem que os trabalhadores devem ter liberdade para decidir como usar o benefício, outros temem que o objetivo original do PAT, que é melhorar a qualidade nutricional dos trabalhadores, possa ser comprometido.

Impactos econômicos e sociais da reformulação
O modelo atual do PAT incentiva o uso do benefício em estabelecimentos de alimentação, o que ajuda a impulsionar o setor de serviços e formalizar parte do comércio. A mudança proposta poderia reduzir esse impacto positivo. No entanto, ao eliminar custos operacionais e aumentar o valor líquido recebido pelos trabalhadores, o governo acredita que pode ajudar a mitigar os efeitos da inflação nos alimentos.
Com o aumento dos preços dos alimentos nos últimos meses, um benefício mais robusto pode proporcionar um alívio para os trabalhadores, cuja capacidade de compra tem sido afetada. Essa medida pode ser vista como uma tentativa de equilibrar as necessidades econômicas e sociais em um momento de desafios financeiros.
Como outros países abordam benefícios alimentares?
Em outros países, os benefícios alimentares são frequentemente regulados de forma rigorosa. Na França e na Itália, por exemplo, esses benefícios são vinculados a gastos específicos, enquanto nos Estados Unidos, programas como o SNAP utilizam cartões de uso restrito. A proposta brasileira, ao permitir maior liberdade de uso, representa uma abordagem diferente, que busca oferecer mais autonomia aos trabalhadores.
Politicamente, a proposta surge em um momento estratégico, à medida que o governo busca aumentar sua popularidade em meio a desafios econômicos. No entanto, permanece a questão de como equilibrar a liberdade de uso do benefício com a preservação dos objetivos sociais do PAT.