À medida que envelhecemos, os padrões de sono podem mudar, mas a necessidade de um descanso reparador não diminui — pelo contrário, torna-se ainda mais crucial. É crucial e inegociável afirmar desde o início: qualquer alteração no sono ou preocupação com a saúde cardiovascular, especialmente após os 60 anos, deve ser avaliada por um médico. Este artigo é puramente informativo e não substitui uma consulta.
A prática de dormir consistentemente apenas seis horas por noite, muito abaixo das 7 a 9 horas recomendadas, é um fator de risco independente e significativo para o desenvolvimento de doenças cardíacas, e esse risco é amplificado em adultos mais velhos. Este artigo irá explorar, de forma segura e baseada em ciência, os mecanismos pelos quais a privação crônica de sono pode prejudicar a saúde do coração nesta fase da vida.
Por que o “mergulho” noturno da pressão arterial é vital após os 60?

Durante uma noite de sono saudável, a pressão arterial normalmente cai de 10% a 20% em relação aos níveis diurnos, um fenômeno chamado “dipping” noturno. Esse período de baixa pressão é essencial para que o coração e as artérias “descansem” do estresse do dia.
Com o envelhecimento, as artérias tendem a se tornar mais rígidas, e a prevalência de hipertensão aumenta. A falta de sono encurta ou impede esse “mergulho” noturno vital. O resultado é uma pressão arterial que permanece elevada por mais horas ao longo de um período de 24 horas, o que sobrecarrega cronicamente o coração e acelera o processo de enrijecimento vascular. Conforme alerta a American Heart Association (AHA), essa ausência do “dipping” é um forte preditor de eventos cardiovasculares.
Como a falta de sono aumenta a inflamação e o risco de aterosclerose?
O sono de qualidade tem uma potente função anti-inflamatória. A privação crônica de sono, por outro lado, promove um estado de inflamação crônica de baixo grau, elevando os níveis de marcadores inflamatórios no sangue.
Em um indivíduo com mais de 60 anos, cujo sistema já pode ter um nível de inflamação basal mais alto (um processo conhecido como “inflammaging”), esse efeito é ainda mais pronunciado. A inflamação crônica danifica o revestimento interno das artérias (o endotélio), facilitando o acúmulo de placas de colesterol, um processo chamado aterosclerose, que é a causa raiz da maioria dos infartos e AVCs.
Qual o impacto do sono curto no sistema nervoso e nos hormônios do estresse?
A falta de sono é interpretada pelo corpo como um sinal de perigo, mantendo o sistema nervoso simpático (a resposta de “luta ou fuga”) hiperativo. Isso leva a uma maior liberação de hormônios do estresse, como o cortisol e a adrenalina, que aumentam a frequência cardíaca e a pressão arterial.
Para um sistema cardiovascular que já pode apresentar os desgastes naturais da idade, esse estado de “alerta” constante é particularmente danoso. Ele força o coração a trabalhar mais intensamente e pode contribuir para a instabilidade elétrica do músculo cardíaco, aumentando o risco de arritmias.
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Quais são os principais riscos cardíacos associados ao sono insuficiente em idosos?
A combinação desses fatores — pressão arterial elevada, inflamação crônica e hiperativação do sistema de estresse — se traduz em um risco aumentado para uma série de condições cardiovasculares graves.
Aumento do risco de hipertensão
A falta do “dipping” noturno e a hiperativação do sistema nervoso são gatilhos diretos para o desenvolvimento ou a piora da hipertensão.
Maior risco de doença arterial coronariana e infarto
A inflamação e a pressão elevada aceleram a aterosclerose, o entupimento das artérias do coração.
Risco elevado de arritmias cardíacas
O desequilíbrio do sistema nervoso autônomo pode levar a batimentos cardíacos irregulares, como a fibrilação atrial.
Piora da insuficiência cardíaca existente
Para quem já tem o coração enfraquecido, a sobrecarga imposta pela falta de sono pode acelerar a progressão da doença.
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Apenas dormir mais é a solução? Quando procurar um especialista?
Não necessariamente. É fundamental entender que, em adultos mais velhos, a má qualidade do sono ou a sonolência diurna podem ser um sintoma de uma condição subjacente, e não a causa primária. Uma das condições mais comuns e perigosas é a apneia obstrutiva do sono, que por si só é um fator de risco independente e grave para doenças cardíacas.
Portanto, se você tem mais de 60 anos e dorme pouco, ou se dorme por muitas horas mas ainda acorda cansado, a automedicação ou a simples tentativa de “dormir mais” pode não ser suficiente. A consulta com um médico, especialmente um cardiologista, geriatra ou especialista em sono, é indispensável. Apenas um profissional pode realizar uma avaliação completa, diagnosticar a causa real do problema e indicar o tratamento mais seguro e eficaz para proteger a saúde do seu coração.








