Pesquisadores vêm tentando entender por que algumas pessoas ganham peso com mais facilidade quando consomem grandes quantidades de óleos vegetais ricos em gordura, como o óleo de soja. Um estudo recente com ratos, publicado em 2025 no Journal of Lipid Research, oferece novas pistas ao mostrar como esse tipo de óleo altera o metabolismo do fígado e como uma variante genética específica pode reduzir o acúmulo de gordura corporal, com foco no papel do ácido linoleico e na forma como ele é processado pelo organismo.
Ácido linoleico em óleos vegetais aumenta o risco metabólico
A palavra-chave desse debate é o óleo de soja, uma das principais fontes de ácido linoleico na alimentação moderna. Esse ácido graxo ômega-6 é essencial, pois o organismo não o produz, mas seu consumo excessivo é associado a alterações metabólicas em modelos animais.
O estudo destaca que uma ingestão elevada de ácido linoleico a partir do óleo de soja está ligada ao aumento de oxilipinas específicas no fígado. Esses derivados correlacionam-se com ganho de peso, maior acúmulo de gordura e alterações na tolerância à glicose, sugerindo que o tipo de gordura e sua via de metabolização são cruciais.
Esse tema é recorrente nas redes sociais, por isso, trouxemos o vídeo abaixo do Dr. Fellipe Jaworksi:
@drfellipejaworski Não use óleo de soja, pra saber as substituições acompanha meu perfil #alimentacaosaudavel #nutrologia #nutricionista #comidasaudavel #oleodesoja ♬ som original – Dr. Fellipe Jaworski
Óleo de soja afeta o metabolismo do fígado de forma diferente
Para entender o efeito do óleo de soja na obesidade, os cientistas compararam dietas ricas em gordura à base de óleo de soja com dietas igualmente calóricas com óleo de coco, além de uma ração padrão com baixo teor de gordura. Foram avaliados peso corporal, consumo alimentar, composição de gordura e marcadores de glicose e insulina.
Em animais “selvagens”, a dieta rica em óleo de soja levou a maior ganho de peso em comparação ao óleo de coco, mesmo com calorias semelhantes. Houve mais tecido adiposo, maior intolerância à glicose, resistência à insulina e mais esteatose hepática, com mudanças em metabólitos ligados ao metabolismo energético mitocondrial.
Composição de gorduras diferencia óleo de soja de outras fontes
A composição de ácidos graxos no fígado evidenciou as diferenças entre os tipos de gordura. Com óleo de coco, ocorreu maior acúmulo de gorduras saturadas e monoinsaturadas; já com óleo de soja, houve alteração predominante no metabolismo do ácido linoleico e do ácido araquidônico, impactando a produção de oxilipinas.
Enquanto o óleo de coco não gerou o mesmo padrão de oxilipinas derivadas de ácido linoleico, o óleo de soja provocou mais mudanças em vias ligadas ao ciclo de Krebs e às mitocôndrias. Nos ratos com modificação genética, o óleo de coco também aumentou corpos cetônicos, mostrando que a combinação entre tipo de gordura e genética altera o destino das moléculas lipídicas.
Gene HNF4α influencia a resposta ao óleo de soja
Um ponto central foi o papel do HNF4α, um fator de transcrição que regula genes hepáticos ligados ao processamento de gorduras, glicose e energia. O ácido linoleico pode se ligar a esse fator, modulando sua atividade e alterando o equilíbrio entre estocagem e queima de gordura.
Nos animais que expressavam apenas a forma P2-HNF4α no fígado, o ganho de peso com dieta rica em óleo de soja foi menor. Esses ratos apresentaram menos acúmulo de gordura em tecido adiposo branco, menos esteatose e fígado relativamente mais leve, sugerindo uma proteção contra obesidade induzida pelo óleo de soja.
Metabolismo alterado do ácido linoleico e produção de oxilipinas
A análise detalhada mostrou que os ratos P2-HNF4α acumulavam mais ácido linoleico no fígado, porém produziam níveis menores de determinados dióis derivados de ácido linoleico e ácido alfa-linolênico. Esses dióis, relacionados a oxilipinas obesogênicas, eram mais abundantes nos animais sem modificação genética.
Ao mesmo tempo, esses ratos exibiram níveis mais altos de glicerol-3-fosfato e β-hidroxibutirato, indicando maior atividade mitocondrial, maior produção de corpos cetônicos e uso mais eficiente das gorduras como fonte de energia. Isso sugere uma “reprogramação metabólica” que reduz o acúmulo de gordura corporal.

Quais fatores diferenciam o óleo de soja de outras gorduras
A comparação com o óleo de coco ajuda a esclarecer por que o óleo de soja recebe tanta atenção. Enquanto o coco é rico em gorduras saturadas de cadeia média, metabolizadas rapidamente, o óleo de soja é concentrado em ácido linoleico ômega-6, que segue rotas metabólicas distintas e gera um perfil diferente de oxilipinas.
Os autores sugerem que a obesidade associada ao óleo de soja não se explica apenas pela presença do ácido linoleico, mas pelo equilíbrio entre ômega-6 e ômega-3 e pelo conjunto de metabólitos gerados, especialmente dióis e oxilipinas. Em última análise, a “assinatura química” resultante da interação entre dieta rica em óleo de soja e perfil genético hepático parece determinar a tendência ao ganho de peso.
Próximos passos na pesquisa sobre óleo de soja e metabolismo
Os resultados abrem caminho para novas investigações sobre a relação entre óleo de soja, metabolismo hepático e obesidade em humanos. Ainda é preciso esclarecer como oxilipinas derivadas do ácido linoleico afetam genes, proteínas e vias celulares ligadas à inflamação, sensibilidade à insulina e função mitocondrial.
Com base nessas evidências em modelos animais, os pesquisadores apontam prioridades para estudos futuros, que podem apoiar estratégias nutricionais mais personalizadas e orientar recomendações sobre o consumo de óleos vegetais:
- Mapear de forma ampla os metabólitos produzidos a partir do ácido linoleico em diferentes cenários dietéticos.
- Investigar a relação entre níveis de oxilipinas e marcadores de inflamação crônica de baixo grau.
- Avaliar se combinações específicas de gorduras, como proporções distintas de ômega-6 e ômega-3, modificam o risco metabólico.
- Verificar se variantes de HNF4α em humanos influenciam o impacto do óleo de soja sobre peso corporal e resistência à insulina.










