A creatina é um dos suplementos mais pesquisados e eficazes para a melhora do desempenho físico. No entanto, sua popularidade é acompanhada por uma série de mitos e preocupações sobre sua segurança, especialmente em relação a órgãos como os rins e, como questionado, o fígado. É crucial e inegociável afirmar desde o início: a decisão de usar qualquer suplemento, incluindo a creatina, deve ser sempre precedida por uma avaliação médica completa.
Este artigo irá explorar, de forma segura e baseada em evidências científicas, o que realmente acontece no fígado quando se consome creatina, qual o papel do órgão nesse processo e por que o mito de que a creatina é prejudicial ao fígado de pessoas saudáveis não se sustenta perante a ciência.
Como o corpo metaboliza a creatina e qual o papel do fígado nesse processo?

Para entender o impacto da creatina no fígado, é fundamental saber que o fígado é, na verdade, um dos três órgãos (junto com os rins e o pâncreas) que produzem creatina naturalmente no nosso corpo a partir de aminoácidos. A creatina endógena é então transportada para os músculos e para o cérebro para ser usada como energia.
Quando a creatina é consumida através de suplementação, ela é absorvida no intestino e cai na corrente sanguínea. O fígado participa do seu metabolismo, mas não de uma forma que represente uma sobrecarga tóxica, como ocorre com o álcool ou certos medicamentos. A creatina é uma substância que o corpo reconhece e sabe como utilizar. O principal órgão responsável pela eliminação de seu subproduto, a creatinina, são os rins.
O que os estudos de longa duração mostram sobre a suplementação e a saúde hepática?
A ciência tem investigado a segurança da creatina por décadas, com centenas de estudos. A conclusão da vasta maioria desses estudos é clara e consistente. Conforme o posicionamento oficial da International Society of Sports Nutrition (ISSN), a mais respeitada autoridade no assunto, a suplementação de creatina a curto e longo prazo (até 30 gramas por dia por até 5 anos) não demonstrou produzir qualquer efeito adverso na função hepática de indivíduos saudáveis.
Estudos que acompanharam atletas e outras populações por meses e até anos não encontraram evidências de que a suplementação com creatina monohidratada, nas doses recomendadas, cause dano ou altere de forma clinicamente relevante os marcadores de saúde do fígado.
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Por que os exames de fígado podem, às vezes, gerar interpretações equivocadas?
Este é um ponto crucial que frequentemente alimenta os mitos. Às vezes, uma pessoa que suplementa com creatina e treina intensamente pode apresentar alterações em exames de sangue, mas a causa pode ser mal interpretada.
Elevação de enzimas hepáticas (AST/ALT) pelo exercício
O exercício físico intenso, por si só, pode causar um aumento temporário nos níveis de enzimas hepáticas como a TGO (AST) e a TGP (ALT). Isso ocorre devido ao estresse muscular, e não por um dano ao fígado. Um profissional que não está familiarizado com a medicina esportiva pode, erroneamente, associar essa elevação à creatina.
Confusão com marcadores de dano muscular
A creatina quinase (CK), outra enzima medida em exames de sangue, eleva-se drasticamente após o dano muscular induzido pelo treino. Embora o nome seja parecido com “creatina”, a elevação da CK é um sinal do treino, e não um efeito tóxico do suplemento.
Importância do contexto clínico
É fundamental que os exames de um indivíduo que pratica exercícios intensos e suplementa com creatina sejam interpretados por um profissional que entenda o contexto esportivo para evitar diagnósticos incorretos.
A creatina pode ser perigosa para quem já tem uma doença hepática?
Sim. A segurança da creatina foi estabelecida em indivíduos saudáveis. Para uma pessoa com uma doença hepática preexistente (como esteatose hepática grave, cirrose ou hepatite), o fígado já está comprometido e sua capacidade de metabolizar substâncias pode estar alterada.
Nesses casos, a sobrecarga de qualquer substância, incluindo suplementos, pode ser potencialmente prejudicial. Portanto, a regra é absoluta: indivíduos com qualquer condição hepática diagnosticada não devem suplementar com creatina, a menos que seja explicitamente recomendado e monitorado de perto por seu médico hepatologista.
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Qual a abordagem correta e segura para a suplementação de creatina?
A segurança da suplementação depende de uma abordagem responsável e orientada por profissionais.
- Avaliação Médica Prévia: Antes de iniciar o uso, uma consulta com um médico é indispensável. Ele deve solicitar exames de sangue para avaliar a função dos seus rins e do seu fígado e garantir que você não possui nenhuma condição pré-existente que contraindique o uso.
- Orientação Nutricional: Um nutricionista é o profissional qualificado para determinar se a suplementação é realmente necessária para seus objetivos e para indicar a dose correta. A dose padrão de manutenção é geralmente de 3 a 5 gramas por dia.
- Qualidade do Produto: Utilize sempre a creatina monohidratada de marcas conceituadas, que garantam a pureza do produto.
- Hidratação: Mantenha uma ingestão de água adequada ao longo do dia, pois a creatina leva mais água para dentro das células musculares.
Seguindo esses passos, a suplementação de creatina se torna uma ferramenta segura e eficaz, baseada em décadas de evidências científicas.










