O café é uma das bebidas mais consumidas no mundo, um ritual matinal e um combustível social para milhões de pessoas. Em doses moderadas, a ciência tem associado seu consumo a diversos benefícios à saúde. No entanto, quando o consumo se torna excessivo, a mesma substância que nos ajuda a despertar pode se transformar em um poderoso sabotador do nosso bem-estar, especialmente no que diz respeito ao sono reparador e à ansiedade.
É crucial entender que a linha entre o uso benéfico e o prejudicial da cafeína é tênue e individual. Este artigo irá explorar, de forma segura e baseada em evidências, os mecanismos fisiológicos pelos quais o excesso de café pode desregular os sistemas de relaxamento do corpo, ressaltando que a ansiedade e a insônia são condições médicas que exigem uma avaliação profissional.
Como a cafeína “imita” os sinais de alerta da ansiedade no corpo?

A cafeína é um potente estimulante do sistema nervoso central. Seu consumo desencadeia a liberação de hormônios como a adrenalina, ativando o sistema nervoso simpático — a nossa resposta de “luta ou fuga”. Essa é a mesma resposta fisiológica ativada durante um episódio de ansiedade ou pânico.
Como resultado, o consumo excessivo de cafeína pode produzir sintomas físicos que são indistinguíveis dos de um transtorno de ansiedade:
- Palpitações ou coração acelerado.
- Tremores e inquietação.
- Nervosismo e uma sensação de apreensão.
- Sudorese e dificuldade de concentração.
Conforme aponta a Harvard Health Publishing, para uma pessoa que já tem uma predisposição à ansiedade, o excesso de cafeína pode não apenas agravar os sintomas existentes, mas também desencadear ataques de pânico.
Qual o mecanismo da cafeína no bloqueio dos sinais de sono no cérebro?
O principal mecanismo pelo qual a cafeína nos mantém acordados é através de sua interação com uma substância chamada adenosina. Ao longo do dia, à medida que nossas células consomem energia, a adenosina se acumula no cérebro. Ela se liga a receptores específicos, diminuindo a atividade neuronal e promovendo a sonolência. Esse acúmulo é o que cria a “pressão do sono” que sentimos no final do dia.
A molécula de cafeína tem uma estrutura muito semelhante à da adenosina. Ao ser consumida, ela viaja até o cérebro e se encaixa nos mesmos receptores, mas sem ativá-los. Ela atua como um bloqueador, impedindo que a adenosina exerça seu efeito sonolento. O cérebro não recebe o sinal de que está cansado, e nós permanecemos em estado de alerta artificialmente.
Por que a “meia-vida” da cafeína é o fator crucial para o sono reparador?
A meia-vida de uma substância é o tempo que o corpo leva para eliminar metade da quantidade consumida. A meia-vida da cafeína é, em média, de 3 a 7 horas, mas pode variar muito entre as pessoas. Isso significa que, se você tomar uma xícara de café às 15h, até as 22h, uma parte significativa da cafeína ainda estará ativa no seu sistema.
Mesmo que você consiga “apagar” e adormecer, a presença de cafeína no cérebro prejudica a arquitetura do sono. Conforme alerta a Sleep Foundation, a cafeína reduz significativamente o tempo que passamos em sono de ondas lentas, a fase mais profunda e fisicamente restauradora do sono. O resultado é acordar no dia seguinte sentindo-se cansado e não revigorado, o que muitas vezes leva a um consumo ainda maior de café, criando um ciclo vicioso.
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Quais são os sinais de que seu consumo de café pode estar excessivo?
É importante estar atento aos sinais que o corpo dá. Seu consumo pode estar além do limite saudável se você apresentar os seguintes sintomas de forma recorrente.
Dificuldade para adormecer ou sono fragmentado
Apesar do cansaço, a mente não “desliga” na hora de dormir, ou você acorda várias vezes durante a noite.
Nervosismo, tremores ou “coração acelerado”
Sentir-se constantemente agitado, com as mãos trêmulas ou com o coração batendo mais forte, mesmo em situações de repouso.
Problemas digestivos e azia
A cafeína pode aumentar a produção de ácido no estômago, causando ou piorando sintomas de azia, refluxo e desconforto gástrico.
Dores de cabeça recorrentes
Dores de cabeça podem ser tanto um sintoma do excesso de cafeína quanto da abstinência, caso você pule uma dose habitual.
Necessidade de doses cada vez maiores (tolerância)
Se você precisa de cada vez mais café para sentir o mesmo efeito de alerta que sentia antes.
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Ansiedade e insônia: quando o problema vai além do café?
Esta é a ressalva mais importante. Reduzir ou eliminar a cafeína é um passo fundamental e muitas vezes eficaz para melhorar o sono e a ansiedade. No entanto, se mesmo após a retirada da substância os sintomas persistirem, é um sinal claro de que o problema tem raízes mais profundas.
Tanto os transtornos de ansiedade quanto a insônia crônica são condições médicas que requerem diagnóstico e tratamento adequados. A automedicação ou a atribuição de todos os sintomas apenas ao café pode atrasar a busca pela ajuda necessária. Se você está lutando contra esses problemas, a consulta com um médico, psicólogo ou psiquiatra é o caminho mais seguro e eficaz para a sua recuperação e bem-estar.







