Os adoçantes artificiais, presentes em uma vasta gama de produtos “diet” e “zero”, tornaram-se onipresentes como uma alternativa sem calorias ao açúcar. É crucial e inegociável afirmar desde o início: agências reguladoras globais consideram os adoçantes aprovados como seguros para o consumo dentro dos limites de ingestão diária aceitável (IDA). No entanto, a ciência não é estática, e o debate sobre os efeitos do consumo crônico e exagerado dessas substâncias na saúde a longo prazo é intenso e crescente.
Este artigo irá explorar, de forma segura e baseada em evidências, as principais áreas de preocupação que a pesquisa científica tem levantado, não para criar alarme, mas para promover uma reflexão sobre o que significa consumir um produto docemente intenso sem as calorias associadas, e por que a moderação é a chave.
Como os adoçantes artificiais podem “enganar” o eixo intestino-cérebro?

Nosso corpo evoluiu para associar o sabor doce à chegada de energia (calorias). Essa conexão é uma parte fundamental do eixo intestino-cérebro, que regula o apetite e a saciedade. Os adoçantes artificiais criam um paradoxo: eles fornecem um sabor doce centenas de vezes mais intenso que o açúcar, mas sem entregar a energia correspondente.
Pesquisas sugerem que essa dissociação pode, a longo prazo, “confundir” o cérebro. O consumo regular de sabores hiperdoces pode dessensibilizar o nosso paladar, aumentando o desejo por alimentos cada vez mais doces. Além disso, ao quebrar a associação entre “doce” e “energia”, alguns estudos levantam a hipótese de que os adoçantes podem interferir nos mecanismos naturais de regulação do apetite, embora esta área ainda seja objeto de debate.
Qual o impacto dos adoçantes no microbioma intestinal?

Esta é, talvez, a área de pesquisa mais robusta e preocupante. Como muitos adoçantes artificiais não são absorvidos pelo corpo, eles viajam intactos até o intestino grosso, onde interagem diretamente com os trilhões de microrganismos que compõem o nosso microbioma intestinal.
Estudos consistentes, incluindo pesquisas de alto impacto publicadas em periódicos como Cell, demonstraram que adoçantes comuns como a sacarina, a sucralose e o aspartame podem alterar a composição e a função do microbioma intestinal, um desequilíbrio conhecido como disbiose. Um microbioma saudável é crucial para a digestão, a função imunológica e até mesmo a saúde mental. A disbiose está associada a um maior risco de inflamação e distúrbios metabólicos.
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Adoçantes podem, paradoxalmente, afetar a tolerância à glicose?
Este é um dos achados mais contraintuitivos e que está em intensa investigação. Tradicionalmente, os adoçantes eram vistos como inertes para o metabolismo do açúcar. No entanto, as pesquisas que mostram seu impacto no microbioma levantaram uma nova questão.
Cientistas descobriram que as alterações no microbioma intestinal induzidas por alguns adoçantes podem levar a uma piora na tolerância à glicose. Essencialmente, as “novas” populações de bactérias podem produzir substâncias que afetam a forma como o corpo gerencia o açúcar no sangue. Esse efeito paradoxal levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a emitir uma nova diretriz em 2023, desaconselhando o uso de adoçantes artificiais para o controle de peso a longo prazo.
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Quais são os principais tipos de adoçantes e suas características?
O termo “adoçante artificial” engloba diversas substâncias químicas com propriedades diferentes.
Aspartame
Um dos mais antigos e estudados. Composto por aminoácidos, ele perde a doçura com o calor.
Sucralose
Derivada do açúcar, mas modificada para não ser absorvida. É estável ao calor e muito utilizada em produtos industrializados.
Sacarina
O mais antigo de todos, conhecido por deixar um residual amargo para algumas pessoas.
Estévia
Diferente dos anteriores, a estévia é um adoçante de alta intensidade extraído de uma planta (Stevia rebaudiana). Embora seja de origem natural, seus extratos purificados (glicosídeos de esteviol) também são objeto de estudo quanto ao seu impacto no microbioma.
O consumo moderado é seguro? Qual a recomendação dos especialistas?
Sim, dentro dos limites de ingestão diária aceitável (IDA), que são extremamente altos e difíceis de serem atingidos com um consumo normal, os adoçantes são considerados seguros. O debate atual não é sobre a toxicidade aguda, mas sobre os efeitos metabólicos e intestinais do consumo crônico.
A recomendação de consenso entre os profissionais de saúde e as principais organizações é a seguinte:
- A troca de uma bebida açucarada por uma versão “diet” pode ser uma ferramenta de transição útil a curto prazo para reduzir a ingestão de açúcar.
- No entanto, o objetivo final para uma saúde ótima não deve ser a substituição do açúcar por adoçantes, mas sim a redução geral do consumo de alimentos e bebidas ultraprocessados e hiperdoces.
- A melhor bebida para a hidratação e a saúde é, e sempre será, a água.
Se você tem preocupações sobre seu peso, saúde metabólica ou digestiva, a consulta com um médico e um nutricionista é indispensável. Eles podem fornecer uma orientação segura, baseada em evidências e personalizada para as suas necessidades.








