Em uma sociedade cada vez mais pautada por trabalhos de escritório e longas horas em frente a telas, o sedentarismo tornou-se uma norma. Embora seus efeitos negativos sobre o coração e o controle de peso sejam amplamente conhecidos, um sistema igualmente vital é profundamente afetado pela falta de movimento: o nosso sistema digestivo. É crucial afirmar desde o início: alterações persistentes no hábito intestinal, dores abdominais ou qualquer sintoma digestivo preocupante exigem uma avaliação médica para um diagnóstico correto.
Este artigo irá explorar, de forma clara e baseada em ciência, como um estilo de vida sedentário pode prejudicar a motilidade intestinal, desequilibrar o microbioma e agravar desconfortos digestivos, ressaltando a importância do movimento como um pilar para a saúde do seu intestino.
Como a falta de movimento físico contribui para a constipação?

O nosso trato gastrointestinal possui um movimento próprio, chamado peristaltismo, que são contrações musculares rítmicas que empurram o bolo alimentar ao longo do seu trajeto. A atividade física, mesmo uma caminhada leve, funciona como um estímulo externo para esses músculos.
Quando passamos longos períodos sentados, a falta de movimento e a própria compressão física sobre o abdômen podem tornar o trânsito intestinal mais lento. Conforme apontam diversos estudos, o sedentarismo é um dos principais fatores de risco para a constipação crônica. A atividade física regular, por outro lado, ajuda a estimular a motilidade intestinal, sendo uma das principais recomendações não-farmacológicas para a regularidade digestiva.
Qual a relação entre um estilo de vida sedentário e o desequilíbrio do microbioma?
O intestino é o lar de trilhões de microrganismos, coletivamente conhecidos como microbioma intestinal, que desempenham um papel vital na digestão, na produção de vitaminas e na função imunológica. Pesquisas recentes têm revelado uma conexão surpreendente entre o exercício e a saúde desse ecossistema.
Estudos indicam que a prática regular de atividade física está associada a uma maior diversidade e a um aumento de bactérias benéficas no intestino. Por outro lado, um estilo de vida sedentário, muitas vezes acompanhado de uma dieta pobre em fibras, pode levar a um desequilíbrio conhecido como disbiose. A disbiose está associada a uma maior inflamação intestinal e a um risco aumentado de diversas condições de saúde, que vão desde a síndrome do intestino irritável até doenças metabólicas.
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O sedentarismo pode piorar a sensação de inchaço, gases e outros desconfortos?

Sim. A lentidão do trânsito intestinal causada pela inatividade física pode aumentar o tempo que os alimentos e os gases permanecem no trato digestivo. Esse trânsito lento favorece a fermentação excessiva por parte das bactérias intestinais, o que pode levar a um aumento na produção de gases, resultando em inchaço, flatulência e desconforto abdominal.
Para pessoas que já sofrem de condições como a Síndrome do Intestino Irritável (SII), o sedentarismo pode agravar os sintomas. O movimento físico, por sua vez, ajuda a expelir os gases de forma mais eficiente e a regular a função intestinal, aliviando esses desconfortos.
Como o estresse associado ao sedentarismo afeta a digestão através do eixo intestino-cérebro?
O sedentarismo está frequentemente ligado a maiores níveis de estresse e ansiedade. Essa conexão impacta diretamente a saúde digestiva através do eixo intestino-cérebro, uma complexa via de comunicação bidirecional.
O estresse pode alterar a motilidade intestinal, aumentar a sensibilidade visceral (fazendo com que sensações normais, como a presença de gases, sejam percebidas como dor) e impactar negativamente o microbioma. Conforme ressalta a American Psychological Association, o estresse crônico pode levar a uma série de problemas gastrointestinais. A atividade física atua como um poderoso regulador desse eixo, reduzindo o estresse e, consequentemente, seus efeitos negativos sobre a digestão.
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Quando os problemas digestivos deixam de ser um alerta e exigem uma consulta médica?
Embora o sedentarismo seja um fator de risco importante, é fundamental não atribuir todos os sintomas digestivos a ele. Sinais de alerta exigem uma investigação aprofundada por um profissional de saúde. Segundo as diretrizes da American Gastroenterological Association, você deve procurar um médico, idealmente um gastroenterologista, se apresentar:
- Mudança persistente nos hábitos intestinais (diarreia ou constipação que duram semanas).
- Sangue nas fezes.
- Dor abdominal severa, persistente ou que piora.
- Perda de peso inexplicada.
- Inchaço abdominal persistente.
- Dificuldade para engolir.
Um profissional qualificado poderá realizar o diagnóstico correto e descartar condições mais sérias, orientando sobre o tratamento adequado. Um nutricionista e um profissional de educação física também são aliados essenciais para criar um plano de alimentação e exercícios seguro e eficaz para a sua saúde digestiva.









