Entre crianças, adolescentes e adultos é relativamente comum manter uma luz acesa durante a noite, seja do abajur, da televisão ou do corredor. Esse hábito costuma estar ligado ao medo do escuro ou à sensação de vulnerabilidade quando o ambiente fica totalmente apagado, mas a psicologia do sono e a cronobiologia apontam que essa prática está longe de ser neutra e pode interferir de maneira relevante na qualidade do descanso noturno e no equilíbrio da saúde física e mental.
O que é o sistema circadiano e qual a importância da escuridão
O termo sistema circadiano descreve o conjunto de ritmos biológicos de 24 horas, entre eles o ciclo sono-vigília, que orienta os momentos de maior alerta e os períodos em que o organismo se prepara para dormir. Esse sistema é coordenado por um “relógio interno” no núcleo supraquiasmático, no hipotálamo, altamente sensível à luz e às mudanças ambientais.
Durante o dia, a luz natural sinaliza ao cérebro que é hora de manter o corpo ativo, liberando hormônios ligados à atenção e ao metabolismo mais acelerado. Quando o ambiente escurece, o organismo aumenta a produção de melatonina, o hormônio do sono; já a iluminação artificial à noite, especialmente a de telas, pode “enganar” esse relógio, atrasando ou reduzindo essa liberação.
Para aprofundar o tema e explicar melhor o conceito, trouxemos o vídeo do Dr. Julio Luchmann, publicado em seu perfil no TikTok, onde ele explica o que é o sistema cardiano e sua importância:
@julioluchmann #julioluchmann ♬ som original – Júlio luchmann
Como a luz noturna afeta o sono e o peso corporal
Dormir com a luz acesa está diretamente relacionado a alterações na qualidade do sono e, segundo várias linhas de pesquisa, ao equilíbrio do peso corporal. Quando a melatonina é inibida pela presença de claridade, o sono fica fragmentado, com mais despertares e menor proporção de sono profundo, reduzindo o tempo de recuperação cerebral e muscular.
O sono desregulado interfere ainda em hormônios que controlam o apetite, como leptina e grelina, favorecendo maior fome ao longo do dia seguinte e desejo por alimentos mais calóricos. Estudos observacionais indicam que pessoas que dormem regularmente com televisão ligada ou luzes intensas podem ter maior tendência ao ganho de peso, dormir menos horas e beliscar mais à noite.
De que forma a luz interfere na melatonina e nos mecanismos do sono
A principal palavra-chave quando se fala em dormir com a luz acesa é melatonina, liberada pela glândula pineal à noite em resposta à escuridão. Mesmo uma iluminação aparentemente fraca pode diminuir de forma importante sua concentração, e a luz azul de televisores, celulares, tablets e monitores é especialmente potente nesse bloqueio.
Pesquisas mostram que poucos minutos de exposição à luz intensa na madrugada já reduzem significativamente a melatonina, tornando o sono mais raso e dificultando o retorno à sonolência após acordar. Em jovens e crianças, essa sensibilidade costuma ser ainda maior, o que torna a escuridão noturna um ponto crucial na higiene do sono dessa faixa etária.

Quais são os principais riscos para a saúde de dormir com a luz acesa
Mesmo com os olhos fechados, parte da luz atravessa as pálpebras, chega à retina e envia sinais ao relógio interno, mantendo o cérebro em um estado de alerta parcial. Esse estado intermediário não equivale nem ao sono profundo nem à vigília plena, prejudicando a restauração física, a consolidação de memórias, o equilíbrio emocional e alguns processos metabólicos.
O hábito de dormir com a luz acesa está associado, de maneira geral, a potenciais impactos sobre a saúde, que podem se somar ao uso excessivo de telas à noite e a horários irregulares de sono:
- Redução da qualidade do sono: mais despertares, menor tempo de sono profundo e sensação de cansaço persistente ao acordar.
- Alterações de humor: irritabilidade, menor tolerância ao estresse e dificuldade de concentração durante o dia.
- Desequilíbrio metabólico: risco aumentado de ganho de peso e alteração do apetite quando a prática é mantida por longos períodos.
- Impacto no sistema imunológico: noites mal dormidas podem enfraquecer a resposta imunológica, favorecendo infecções recorrentes.
- Maior sonolência diurna: tendência a cochilar em horários inadequados, comprometendo estudo, trabalho e direção.
Como reduzir o medo do escuro sem prejudicar o sono
Em muitos casos, a luz noturna funciona como um recurso para lidar com a sensação de insegurança, especialmente em crianças pequenas, pessoas que moram sozinhas ou indivíduos que passaram por situações de medo. Nesses contextos, estratégias graduais costumam ser mais realistas do que simplesmente apagar todas as luzes de uma vez, favorecendo tanto a sensação de segurança quanto a saúde do sono.
- Optar por luzes suaves: em vez de lâmpadas fortes ou televisão ligada, usar iluminação de baixa intensidade, de tonalidade mais amarelada e indireta, voltada para longe da cama.
- Usar luzes de orientação: pequenas luminárias de tomada, fitas de LED muito fracas ou abajures com regulador ajudam na locomoção noturna sem interferir tanto na melatonina.
- Manter a TV desligada: além da luz, sons e imagens em movimento mantêm o cérebro em alerta; se o silêncio incomoda, sons constantes e suaves podem ser alternativas mais neutras.
- Criar um ritual de preparo para dormir: leitura leve, respiração calma e horários regulares ensinam o corpo a associar certos comportamentos ao ato de adormecer.
- Buscar apoio psicológico quando necessário: em medos intensos ou persistentes, a psicoterapia ajuda a identificar causas e construir estratégias mais eficazes.
Quais caminhos práticos ajudam a criar um ambiente de sono mais saudável
Adotar um ambiente mais escuro durante a noite não exige mudanças radicais, mas sim pequenos ajustes consistentes no uso da luz artificial. Fechar cortinas, afastar relógios luminosos do campo de visão, apagar luzes desnecessárias e limitar o uso de telas uma ou duas horas antes de deitar são atitudes que favorecem um sono mais reparador.
Em muitos casos, a simples redução progressiva da intensidade luminosa antes de dormir já ajuda o corpo a entrar no ritmo da noite. Considerando os efeitos sobre sono, metabolismo, humor e disposição diária, torna-se claro que a forma como a luz é utilizada à noite tem impacto direto na saúde, permitindo a cada pessoa ajustar hábitos noturnos para preservar ao máximo a qualidade do descanso.










