Colocar o dedo dentro do nariz é um gesto comum, mas socialmente reprovado, que costuma despertar mais vergonha do que reflexão. Em muitos casos, essa atitude surge sem que a pessoa perceba, em momentos de distração, cansaço ou tensão. A psicologia e a medicina apontam que o comportamento, conhecido como rinotilexia, vai além de uma simples “má educação” e pode estar ligado a diferentes fatores emocionais, sociais e até fisiológicos.
O que é rinotilexia e por que esse hábito de mexer no nariz acontece
Na medicina, a mania de colocar os dedos dentro das narinas recebe o nome de rinotilexia, um comportamento repetitivo em que a pessoa cutuca o nariz com frequência, muitas vezes de forma quase automática. Em determinados casos, pode estar associado a quadros de ansiedade, compulsões ou outros hábitos corporais, como roer unhas ou arrancar peles dos lábios.
Quando o gesto se torna difícil de controlar, mesmo em locais públicos ou em situações em que a pessoa sabe que não é adequado, pode indicar relação mais forte com fatores emocionais. Nessas situações, o hábito deixa de ser apenas uma curiosidade do comportamento humano e passa a merecer acompanhamento profissional e avaliação cuidadosa do contexto em que ocorre.
Para aprofundar no tema, trouxemos o vídeo da Dra. Dayane Botini:
@dayanebotini Rinotilexomania ou Nose-picking Já conhecia? #plasticsurgery #rinoplastia #otorrinolaringologia #otorrino ♬ som original – Dra Dayane Botini
Como a rinotilexia se relaciona com ansiedade e comportamentos repetitivos
Estudos sobre comportamentos repetitivos focados no corpo (body-focused repetitive behaviors) indicam que a rinotilexia pode integrar um espectro semelhante ao de quadros como tricotilomania e escoriação da pele, frequentemente associados à ansiedade e à compulsividade, como discutido por Grant et al. (2012). Isso reforça a importância de compreender esse gesto também sob a ótica dos transtornos psiquiátricos.
O DSM-5, publicado pela American Psychiatric Association (2013), inclui esses comportamentos no capítulo de Transtornos Obsessivo-Compulsivos e Transtornos Relacionados, descrevendo-os como possíveis estratégias automáticas de regulação emocional. Ou seja, ações como cutucar o nariz podem funcionar, em algumas pessoas, como forma inconsciente de aliviar tensão, reduzir o tédio ou modular estados internos desconfortáveis.
Quais são os principais riscos de colocar o dedo no nariz com frequência
O principal ponto de alerta em relação à rinotilexia é o impacto na saúde nasal, já que a mucosa interna do nariz é sensível e funciona como barreira de proteção contra germes, poeira e partículas do ar. Quando é constantemente agredida pelos dedos e unhas, tende a se irritar e a ficar mais vulnerável a infecções, sangramentos e outros problemas locais.
Entre os riscos mais citados por otorrinolaringologistas estão:
- Infecções nasais: pequenos machucados facilitam a entrada de bactérias e vírus presentes nas mãos;
- Sangramentos: a ruptura de vasos sanguíneos delicados pode provocar episódios repetidos de sangue pelo nariz, sobretudo em crianças;
- Aparecimento de espinhas e furúnculos: a fricção constante pode gerar inflamações dolorosas dentro ou ao redor das narinas;
- Aumento da exposição a germes: cortes microscópicos na mucosa servem como porta de entrada para microrganismos que circulam no ambiente;
- Danos ao septo nasal: em situações extremas e prolongadas, o trauma constante pode ocasionar lesões mais profundas e, raramente, perfuração do septo.
Por que adultos e crianças mexem tanto no nariz no dia a dia
As razões para esse comportamento variam de acordo com a fase da vida e com o contexto emocional. Entre adultos, são comuns explicações ligadas à rotina e ao estado interno, como concentração intensa, tédio ou tensão emocional em atividades diárias, reuniões ou situações de espera prolongada.
Em crianças, o hábito é frequentemente associado à curiosidade e ao reconhecimento do próprio corpo, muitas vezes sem constrangimento. Também pode aparecer quando há desconforto, como coriza, alergias ou coceira na região nasal, além de surgir junto a outros comportamentos repetitivos, como puxar fios de cabelo ou mastigar objetos.

Como lidar com a rinotilexia e reduzir o hábito de mexer no nariz
Quando o hábito de mexer no nariz começa a causar machucados, sangramentos frequentes ou vergonha constante, torna-se importante buscar estratégias para reduzi-lo. Em adultos, uma das orientações é identificar em quais momentos o gesto aparece com mais frequência e, a partir disso, planejar substituições comportamentais mais seguras e menos danosas ao corpo.
- Observar gatilhos: notar se o comportamento surge mais em situações de estresse, cansaço ou distração;
- Ocupar as mãos: recorrer a alternativas como bolinhas antiestresse ou outros objetos que permitam canalizar a tensão de forma menos agressiva ao corpo;
- Cuidar da higiene nasal: usar soro fisiológico e lenços descartáveis para limpar o nariz reduz a sensação de incômodo que leva ao ato de cutucar;
- Manter unhas curtas e limpas: além de diminuir o risco de lesão, reduz a quantidade de germes em contato com a mucosa;
- Buscar ajuda profissional: quando o comportamento é compulsivo, persistente ou vem acompanhado de outras manias, a avaliação com psicólogo, psiquiatra ou otorrinolaringologista pode ser indicada.
No contexto da autorregulação emocional, intervenções psicológicas baseadas em treinamento de reversão de hábito e em técnicas de regulação de estresse (como respiração diafragmática, mindfulness e estratégias de enfrentamento para ansiedade) podem ajudar a substituir o ato automático de mexer no nariz por respostas mais saudáveis ao tédio e à tensão. No caso das crianças, recomenda-se evitar broncas exageradas, explicar com calma que o gesto pode machucar e incentivar o uso de lenços e a lavagem das mãos.
Quais cuidados finais ajudam a entender e prevenir a rinotilexia
Dessa forma, a rinotilexia deixa de ser vista apenas como um gesto “feio” e passa a ser entendida como um comportamento que merece atenção. Com informação, observação dos gatilhos e apoio adequado, torna-se possível diminuir os riscos à saúde nasal e lidar de forma mais consciente com esse hábito tão comum no cotidiano.
Quando o comportamento se intensifica, gera ferimentos ou vem acompanhado de outros sinais de sofrimento emocional, a avaliação profissional é recomendada. A combinação de orientação médica, abordagens psicológicas e pequenas mudanças de rotina tende a oferecer os melhores resultados para quem deseja reduzir ou controlar esse hábito.
Referências bibliográficas
GRANT, J. E.; STEIN, D. J.; WOODS, D. W.; KEUTHEN, N. J. Trichotillomania, skin picking, and other body-focused repetitive behaviors. American Journal of Psychiatry, v. 169, n. 8, p. 868–874, 2012.
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders. 5. ed. (DSM-5). Arlington: American Psychiatric Publishing, 2013. Seção “Obsessive-Compulsive and Related Disorders”.










