A Síndrome de Down é conhecida por acelerar o processo de envelhecimento nos indivíduos afetados, levando a uma incidência significativamente alta da doença de Alzheimer antes dos 70 anos de idade. Pesquisas recentes da Universidade de São Paulo (USP) revelaram elevadas taxas de neuroinflamação desde a juventude em indivíduos com essa condição genética. Essa descoberta pode abrir caminho para novas estratégias preventivas e de acompanhamento para a doença de Alzheimer, particularmente entre as pessoas com Síndrome de Down.
O estudo, publicado na revista Alzheimer’s & Dementia e financiado pela FAPESP, utilizou técnicas avançadas de medicina nuclear para mapear padrões de neuroinflamação em indivíduos com Síndrome de Down pela primeira vez. Análises também identificaram a presença da placa beta-amiloide, um marcador conhecido da doença de Alzheimer, que contribui para a neuroinflamação e a interrupção das comunicações neuronais. Os resultados desse estudo são fundamentais para entender por que o Alzheimer é tão prevalente entre aqueles com Síndrome de Down.
Como a neuroinflamação impacta na Síndrome de Down?
O envelhecimento acelerado em pessoas com Síndrome de Down já era conhecido, mas o estudo trouxe à luz a antecipação da manifestação da neuroinflamação cerca dos 20 anos. Essa inflamação precoce está diretamente ligada ao aumento das placas beta-amiloides. Assim, o processo inflamatório pode ser um importante alvo terapêutico, dado que contribui para o desenvolvimento da doença de Alzheimer. A pesquisa comparou os padrões de neuroinflamação em 29 indivíduos com a síndrome e 35 sujeitos sem ela, o que permitiu visualizar o impacto precoce da inflamação cerebral.
Qual o processo de identificação e monitoramento?
Os pesquisadores usaram a tomografia por emissão de pósitrons (PET) com radiofármacos para observar essas alterações em tempo real. Foi observada maior neuroinflamação em várias regiões cerebrais em pessoas com Síndrome de Down, mesmo em jovens entre 20 e 34 anos. Isso indica que o processo de neuroinflamação pode começar antes da formação de placas beta-amiloides. Além disso, a pesquisa incluiu observações em camundongos geneticamente modificados para imitar a síndrome, oferecendo insights adicionais sobre o envelhecimento dessas pessoas.

Existe uma ligação entre neuroinflamação e Alzheimer?
Embora a neuroinflamação e a deposição de placas beta-amiloide estejam bem documentadas, a sequência exata desses eventos ainda não está totalmente clara. No entanto, o estudo da USP sugere que a inflamação pode preceder as placas, especialmente em indivíduos com Síndrome de Down. Esse achado reforça a viabilidade de desenvolver terapias que possam retardar ou bloquear a neuroinflamação, potencialmente adiando o início do Alzheimer.
Existem novos horizontes para estudos clínicos e terapias?
Além de identificar um novo marcador precoce, a pesquisa oferece uma ferramenta de imagem para monitorar a neuroinflamação em tempo real. Essa capacidade de detecção abre portas para incluir pessoas com Síndrome de Down em estudos clínicos sobre Alzheimer. Dado que elas apresentam padrões de desenvolvimento da doença distintos da população geral, personalizar os tratamentos para essa população torna-se crucial. Esta pesquisa não apenas avança no entendimento do Alzheimer, como também oferece um ponto de partida para intervenções médicas mais eficazes.
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Dra. Anna Luísa Barbosa Fernandes
CRM-GO 33.271








