No ambiente de academias e treinos de força, os “shakes” de proteína tornaram-se onipresentes, muitas vezes vistos como um passo obrigatório para quem busca ganho muscular. No entanto, em meio a um marketing intenso, é crucial separar a ciência da conveniência e entender o verdadeiro papel desses produtos. A primeira e mais importante verdade é: suplementos não são mágicos e não substituem uma dieta sólida e um treino bem estruturado.
A proteína, seja de um bife ou de um pó, é fundamental para a recuperação e o crescimento muscular. Este artigo irá explorar, de forma clara e baseada em evidências, como a proteína atua no corpo, qual o lugar dos suplementos nesse processo e para quem eles podem ser indicados, sempre com a ressalva de que a orientação profissional é a única forma segura de utilizá-los.
Qual o verdadeiro papel da proteína no crescimento muscular?

Quando você realiza um treino de força, como a musculação, você cria microlesões nas fibras musculares. Este é um processo natural e necessário para o crescimento. Após o treino, o corpo inicia um processo de reparo. Ele utiliza os aminoácidos — que são os blocos de construção das proteínas que você consome — para reparar essas fibras danificadas, construindo-as de volta, maiores e mais fortes.
Esse processo é chamado de síntese de proteína muscular (SPM). Para que a SPM supere a quebra de proteína muscular (um processo natural), é necessário ter um fornecimento adequado de aminoácidos disponíveis. Em resumo, sem proteína suficiente na dieta, o corpo não tem a matéria-prima necessária para construir músculos, independentemente do quão pesado você treine.
Um suplemento de proteína é superior à proteína dos alimentos?
Não. Do ponto de vista biológico, o corpo não diferencia se um aminoácido veio de um filé de frango, de um ovo ou de uma dose de whey protein. Para o seu músculo, um aminoácido é um aminoácido. A proteína de alimentos integrais, como carnes, peixes, ovos e leguminosas, é de altíssima qualidade e vem acompanhada de outros nutrientes essenciais, como vitaminas, minerais e gorduras saudáveis.
A principal vantagem dos suplementos de proteína reside na conveniência e, em alguns casos, na velocidade de absorção. Um shake de whey protein, por exemplo, é digerido e absorvido mais rapidamente do que uma refeição sólida, o que pode ser útil em momentos específicos, como no pós-treino. No entanto, essa “janela de oportunidade” não é tão restrita quanto se pensava, e uma refeição completa dentro de algumas horas após o treino cumpre o mesmo papel.
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Quem realmente pode se beneficiar dos suplementos de proteína?

A verdade é que a maioria das pessoas que se exercitam de forma recreativa consegue atingir suas necessidades diárias de proteína apenas com a alimentação. A suplementação torna-se uma ferramenta útil em cenários específicos, quando atingir essa meta apenas com comida se torna impraticável.
Atletas de alta performance
Indivíduos que treinam múltiplas horas por dia, com altíssimo volume e intensidade, têm uma demanda proteica muito elevada, que pode ser difícil de suprir apenas com refeições sólidas.
Indivíduos com dificuldade em atingir a meta proteica
Pessoas com rotinas muito corridas, que têm pouco tempo para preparar refeições, ou indivíduos com pouco apetite podem usar o suplemento como uma forma prática de garantir a ingestão adequada.
Vegetarianos e veganos
Embora seja totalmente possível atingir as metas proteicas com uma dieta baseada em plantas, pode exigir mais planejamento. Um suplemento de proteína vegetal (como de ervilha ou arroz) pode ser um complemento conveniente.
Idosos (sob orientação médica)
Para combater a perda de massa muscular relacionada à idade (sarcopenia), a suplementação pode ser recomendada por um médico ou nutricionista como parte de uma estratégia de saúde.
Quais são os principais tipos de suplementos de proteína no mercado?
Conhecer os tipos mais comuns ajuda a entender as diferentes opções disponíveis, que variam em fonte e velocidade de absorção.
- Whey Protein: Derivado do soro do leite, é a mais popular. É uma proteína completa e de rápida absorção. Apresenta-se nas formas concentrada, isolada (com menos lactose e gordura) e hidrolisada (pré-digerida).
- Caseína: Também derivada do leite, mas de absorção lenta, liberando aminoácidos gradualmente.
- Proteínas Vegetais: Opções para veganos ou intolerantes à lactose, geralmente à base de ervilha, arroz, soja ou um blend de várias fontes vegetais.
É seguro tomar suplementos de proteína? Quando a orientação profissional é indispensável?
A resposta é: a orientação profissional é sempre indispensável. Embora os suplementos de proteína sejam considerados seguros para a maioria das pessoas saudáveis, o seu uso indiscriminado pode trazer riscos.
O mito de que a proteína “estraga os rins” em indivíduos saudáveis foi amplamente desmentido por estudos robustos, conforme revisado pela International Society of Sports Nutrition (ISSN). No entanto, para pessoas com doença renal preexistente, uma alta ingestão de proteína pode, de fato, ser prejudicial. Além disso, o consumo excessivo pode causar desconforto digestivo.
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Apenas um profissional pode avaliar sua saúde e suas necessidades reais.
- Um médico deve ser consultado para uma avaliação geral da saúde, especialmente da função renal, antes de iniciar o uso de qualquer suplemento.
- Um nutricionista é o único profissional qualificado para calcular sua necessidade diária de proteína com base em seu peso, idade e nível de atividade, e determinar se a suplementação é necessária. Ele poderá recomendar o tipo, a dose e o melhor momento para o consumo, garantindo que o suplemento seja um complemento, e não a base, de uma dieta saudável e eficaz.