Imagine Buenos Aires coberta por uma neve tóxica que mata em segundos. Parece filme americano? Não é. Desta vez, a invasão alienígena acontece na Argentina. El Eternauta estreou na Netflix no dia 30 de abril de 2025 e rapidamente virou fenômeno global. A série argentina dirigida por Bruno Stagnaro e protagonizada por Ricardo Darín chegou ao primeiro lugar em 27 países e ao segundo posto mundial na plataforma.
Baseada no quadrinho de Héctor Germán Oesterheld e Francisco Solano López de 1957, a série conseguiu algo que parecia impossível. Durante décadas, tentaram adaptar esta história para as telas. Projetos com Adolfo Aristarain e Lucrecia Martel nunca saíram do papel. Até a Netflix entrar no jogo e transformar sonho em realidade.
Por que El Eternauta é especial para a Argentina?
Para entender o sucesso da série, você precisa saber o que representa o quadrinho original. El Eternauta não é só uma história de ficção científica. É um símbolo de resistência política. Oesterheld, o criador, foi sequestrado e morto pela ditadura militar argentina em 1977, junto com suas quatro filhas. Ele transformou uma aventura espacial em crítica social.
A frase “o verdadeiro herói é o herói coletivo, nunca o herói individual” resume tudo. Em tempos de crise, ninguém se salva sozinho. Essa mensagem ressoa forte na Argentina atual, especialmente com os cortes no cinema nacional do governo Javier Milei. A série se tornou um ato de resistência cultural.
Como a série conquistou crítica e público pelo mundo?
Os números impressionam. No Rotten Tomatoes, El Eternauta alcançou 95% de aprovação da crítica e 96% do público. No IMDb, ficou com 7.2 de nota. A Forbes chamou de “a produção de ficção científica argentina mais ambiciosa já feita”. O The New York Times elogiou a direção de Stagnaro.
A série foi dublada em mais de 12 idiomas e teve legendas em mais de 30. Isso facilitou o acesso global. Críticos internacionais destacaram os efeitos visuais impressionantes e a atuação sólida do elenco. Ricardo Darín, aos 68 anos, prova que idade não é barreira para protagonizar uma aventura pós-apocalíptica.
Quais mudanças a adaptação fez na história original?
Bruno Stagnaro atualizou inteligentemente o material dos anos 50. A ação sai de 1963 e vai para os dias atuais. Juan Salvo agora é um veterano das Malvinas, não um jovem pai de família. Sua ex-esposa Elena ganha protagonismo, interpretada por Carla Peterson. A filha Martita vira Clara, uma adolescente de 17 anos.
Essas mudanças fazem sentido narrativo. Ricardo Darín justifica conhecimento de armas e estratégia militar através da experiência na guerra. O conflito entre gerações fica mais interessante com uma filha adolescente. Novos personagens como Omar e Inga foram criados especialmente para a série.
O que torna esta produção única no cenário global?
El Eternauta se destaca porque mostra Buenos Aires como protagonista de uma catástrofe mundial. Normalmente, aliens invadem Nova York ou Londres primeiro. Aqui, a capital argentina vira epicentro da resistência humana. Lugares reconhecíveis como a Plaza Italia e o Estadio Monumental aparecem cobertos de neve mortal.
A série usou tecnologia StageCraft, a mesma de The Mandalorian. Foram 35 locações reais em Buenos Aires e mais de 25 cenários criados especialmente. Oito meses de filmagem, de maio a dezembro de 2023. O resultado são efeitos visuais de primeiro mundo que colocam o audiovisual argentino em outro patamar.
Qual o futuro de El Eternauta?
Em maio de 2025, a Netflix renovou a série para uma segunda temporada. Faz sentido, já que a primeira temporada adapta apenas metade do quadrinho original. O sucesso global abriu portas para mais produções argentinas na plataforma.
El Eternauta prova que histórias locais podem conquistar o mundo quando bem contadas. A resistência de Oesterheld não foi em vão. Sua obra finalmente ganhou a dimensão global que sempre mereceu, mostrando que a neve tóxica de Buenos Aires é tão assustadora quanto qualquer apocalipse hollywoodiano.










