Aquele cansaço que não vai embora, a falta de ar ao subir um lance de escadas ou a dificuldade de concentração podem não ser apenas resultado de uma rotina agitada. Muitas vezes, esses são os primeiros sinais da deficiência de ferro, o mineral mais abundante em nosso corpo e um componente vital para a produção de energia e o transporte de oxigênio para todas as nossas células.
Garantir níveis adequados de ferro é crucial para prevenir a anemia ferropriva, a carência nutricional mais comum em todo o mundo. A boa notícia é que, com informação de qualidade, é possível obter esse mineral através de fontes naturais e, mais importante, aprender a criar combinações de alimentos que turbinam a sua absorção pelo organismo.
Por que existe diferença entre o ferro da carne e o do feijão?

Sim, e essa é a informação mais importante para quem busca otimizar a ingestão de ferro. Existem dois tipos de ferro nos alimentos: o ferro heme e o ferro não-heme. O ferro heme é encontrado exclusivamente em produtos de origem animal, como carnes vermelhas, frango, peixes e vísceras (como o fígado).
O ferro não-heme está presente nos alimentos de origem vegetal, como o feijão, a lentilha, o grão-de-bico, a couve e o espinafre. A grande diferença entre eles está na forma como nosso corpo os absorve. O ferro heme é altamente biodisponível, o que significa que nosso organismo consegue absorvê-lo com muito mais facilidade, sem depender de outros fatores.
Como o meu corpo absorve o ferro dos vegetais?
A absorção do ferro não-heme, presente nos vegetais, é um processo mais complexo e influenciado por diversos fatores na mesma refeição. Nosso corpo tem mais dificuldade em “capturar” esse tipo de ferro, e sua taxa de absorção é naturalmente mais baixa que a do ferro de origem animal.
No entanto, isso não significa que fontes vegetais sejam inferiores. Pelo contrário, elas são a base de uma alimentação saudável e podem suprir as necessidades de ferro, desde que consumidas da maneira correta. A chave está em criar combinações inteligentes no prato, utilizando “potencializadores” de absorção.
Que “truque” nutricional pode turbinar a absorção de ferro?
O “truque” mais poderoso e cientificamente comprovado para aumentar a absorção do ferro não-heme é consumi-lo junto com uma fonte de vitamina C. A vitamina C transforma o ferro não-heme em uma forma química que o nosso intestino consegue absorver com muito mais eficiência, podendo aumentar sua absorção em até seis vezes.
Na prática, isso é muito simples. Tempere sua salada de folhas escuras com suco de limão. Beba um copo de suco de laranja ou acerola junto com o almoço que tem feijão. Coma uma fatia de abacaxi ou um kiwi de sobremesa. Essa simples adição transforma a capacidade do seu corpo de aproveitar o ferro dos vegetais.
Quais alimentos podem “roubar” o ferro da minha refeição?
Assim como existem os potencializadores, existem também os inibidores, que são substâncias que atrapalham a absorção do ferro não-heme. Um dos principais inibidores é o cálcio. Por isso, não é recomendado consumir laticínios (leite, queijos, iogurtes) na mesma refeição que suas principais fontes de ferro, como o almoço e o jantar.
Outros inibidores são os fitatos, presentes em grãos integrais e sementes, e os taninos, encontrados no café, em alguns chás (como o chá preto) e no vinho tinto. Isso não significa que você precise eliminar esses alimentos, mas sim evitar consumi-los imediatamente antes, durante ou logo após as refeições ricas em ferro. Deixar o cafezinho para uma hora depois do almoço já faz uma grande diferença.
Quais são as melhores fontes naturais de cada tipo de ferro?
Para garantir uma boa ingestão, o ideal é variar as fontes e conhecer os alimentos mais ricos em cada tipo de ferro.
- Fontes de Ferro Heme (alta absorção): Carne vermelha (especialmente o fígado), carne de porco, frango, peru e peixes como atum e sardinha.
- Fontes de Ferro Não-Heme (absorção dependente):
- Leguminosas: Feijão, lentilha, grão-de-bico, ervilha e soja.
- Vegetais Verde-Escuros: Couve, espinafre, agrião, brócolis e salsa.
- Sementes e Oleaginosas: Sementes de abóbora e gergelim, castanha de caju e pistache.
- Outros: Tofu, melaço de cana e cereais fortificados.
Quando devo me preocupar com a falta de ferro?
A deficiência de ferro se instala em estágios. No início, ela pode ser assintomática. Com o tempo, surgem sintomas como cansaço extremo, palidez, queda de cabelo, unhas fracas e quebradiças, falta de ar e dificuldade de concentração. Se você apresenta esses sinais, a investigação é fundamental.
A automedicação com suplementos de ferro nunca é recomendada, pois o excesso do mineral no corpo pode ser tóxico. O diagnóstico da anemia ferropriva só pode ser feito por um médico através de exames de sangue. Caso a deficiência seja confirmada, ele ou um nutricionista irá indicar o melhor tratamento, que pode incluir a suplementação e ajustes na dieta.








