A série X-Men ’97 chegou ao Disney+ no dia 20 de março de 2024 e simplesmente explodiu. Em apenas alguns meses, se tornou a terceira série mais assistida da plataforma no ano, perdendo apenas para Percy Jackson e Echo. Não é pouca coisa para uma animação que muitos achavam que seria só nostalgia barata.
A verdade é que os X-Men sempre foram bem mais que super-heróis com poderes diferentes. Desde que Stan Lee e Jack Kirby criaram o grupo em 1963, esses personagens servem como um espelho da nossa sociedade. E X-Men ’97 prova que essas histórias continuam sendo super atuais, mesmo depois de mais de 60 anos.
Contexto histórico dos X-Men
A primeira edição da HQ “Uncanny X-Men” foi publicada em 1º de setembro de 1963, em um período de grandes mudanças nos Estados Unidos. O país estava imerso na Era Kennedy, enfrentando a Guerra Fria e conflitos como a Crise dos Mísseis e a Guerra do Vietnã. Internamente, o Movimento pelos Direitos Civis ganhava força, buscando igualdade para a população negra.
Em 1963, a Marcha de Washington, onde Martin Luther King proferiu seu famoso discurso “Eu tenho um sonho”, simbolizou um marco na luta por direitos civis. Além disso, a comunidade LGBTQIA+ enfrentava perseguições, com a homossexualidade sendo vista como crime e doença, resultando em frequentes batidas policiais em locais frequentados por essa comunidade.

Como os X-Men refletem a realidade?
Nos quadrinhos, os mutantes são indivíduos que nascem com habilidades especiais devido a mutações genéticas. Essa diferença faz com que sejam temidos e excluídos pela sociedade. Os X-Men, liderados pelo Professor Xavier, buscam aceitação, enquanto o grupo de Magneto, ressentido, deseja dominar o mundo. Essa dinâmica reflete a segregação e o preconceito enfrentados por minorias na vida real.
Um exemplo notável é a introdução de uma “vacina de cura” para mutantes na série “Astonishing X-Men” de 2004. Essa narrativa ressoa com debates sobre a “Cura Gay“, um tratamento psicológico controverso para reverter a homossexualidade, que não é reconhecida como doença pela OMS desde 1990. A história também evoca teorias eugenistas que buscavam classificar populações como inferiores.
Qual é o segredo da representatividade nos X-Men?
Desde sempre, os X-Men foram pioneiros em representatividade. Já em 1975, a série “Giant-Size X-Men” trouxe personagens como Tempestade, uma das primeiras heroínas negras da Marvel, e Thunderbird, o primeiro herói indígena. O próprio Professor Xavier usa cadeira de rodas, mostrando a inclusão de pessoas com deficiência.
A diferença é que essa diversidade nunca foi só pelo show. Cada personagem representa uma luta real. Tempestade enfrentou tanto o preconceito racial quanto o de gênero. Thunderbird carregava o peso da representação indígena. E Xavier, mesmo sendo o líder, mostrava que ter uma deficiência não te torna menos capaz. São metáforas poderosas que funcionam até hoje.
Por que essas histórias ainda mexem com a gente?
O grande lance dos X-Men é que eles falam sobre ser diferente em um mundo que não aceita diferenças. Isso é universal. Todo mundo já se sentiu excluído alguma vez na vida, seja por causa da aparência, da sexualidade, da religião ou simplesmente por gostar de coisas diferentes.
X-Men ’97 pegou essa base sólida e atualizou para os dias de hoje. A série discute temas como identidade de gênero, relacionamentos não-convencionais e aceitação de forma natural, sem ser panfletária. O resultado? Uma das melhores séries de animação da atualidade, que foi chamada de “o melhor lançamento da Marvel em anos”. Com 10 episódios na primeira temporada e outras duas já confirmadas, parece que os mutantes estão aqui para ficar por um bom tempo.










