Quem mora em Brasília sabe: o período da seca é sinônimo de lábios rachados, nariz sangrando e... ipês floridos. As diferentes cores dessa árvore se intercalam para enfeitar os eixos e tesourinhas da capital. E há quem diga até que uma dessas cores, a branca, traz consigo a mensagem mais esperada pelos brasilienses nesta época do ano: a de que a chuva está voltando. Será mesmo?
Carmen Regina Correia, doutora em ecologia e professora do Departamento de Engenharia Florestal da Universidade de Brasília (UnB) explica que o compromisso da floração é única e exclusivamente com a seca. "Por que o ipê flore? A gente acha que é para nos brindar com a sua beleza, mas é para se reproduzir. A flor é um órgão de reprodução. A partir daí, ele vai produzir sementes que a gente chama de 'aladas', porque são dispersas pelo vento. Na seca, essa dispersão é favorecida", afirma.
As chuvas, completa a docente, estão ligadas a uma outra fase da vida dos ipês. São as precipitações que ajudam a germinar as sementes espalhadas no período da seca. Essa mesma água, por outro lado, pode ser prejudicial às flores: "Se chover intensamente, elas serão derrubadas, porque são muito sensíveis".
De onde vem, então, o mito de que o ipê-branco anuncia o fim da seca? A explicação pode estar no "calendário" de floradas. Os roxos costumam chegar em abril ou maio. Em seguida, vêm os amarelos — que estamos vendo agora —, os rosas e, por fim, os brancos. O último ato do espetáculo dos ipês, que costuma ocorrer no fim de setembro, por vezes coincide com a entrada das primeiras chuvas em cena.
Isso não quer dizer, porém, que a cada ipê-branco que flore uma nuvem carregada surge no céu. As plantas não são metódicas assim, e uma ou outra pode acabar se enfeitando pouco antes do tempo. Por isso, caro amigo brasiliense, ainda que você tenha avistado alguma dessas árvores com cor de neve nos últimos 100 dias, tenho uma má notícia para você: o nariz vai continuar sangrando por mais um tempinho.
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