A recomposição de 8% nos contracheques de policiais civis, militares e bombeiros deve aquecer e dar estímulo para a economia do Distrito Federal neste fim de ano. Economistas preveem um impacto positivo de 0,3% no Produto Interno Bruto (PIB) da capital, com a injeção de, aproximadamente, R$ 780 milhões, até dezembro, no setor de comércio e serviços. Além disso, o reajuste deve ampliar a margem consignável, ou seja, aumentar o valor do crédito disponível para a categoria atualmente.
Para bancar o acréscimo, serão retirados R$ 519 milhões do Fundo Constitucional. O aumento para as forças de segurança do DF está valendo desde maio, quando o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) editou uma medida provisória concedendo o reajuste. Ela perderia a validade nessa segunda, mas após votação no Senado, o aumento ficou garantido.
De acordo com o economista Carlos Eduardo de Freitas, a circulação desses recursos na economia local terá potencial para gerar outros gastos e reduzir, ainda que de forma tímida, os efeitos da covid-19 no PIB da capital.
“O PIB do DF deve cair, em 2020, por causa da pandemia. Supondo que ele tenha uma queda de 3% — menor do que o da economia brasileira, estimado em 5%. Com esse reajuste, podemos estimar que a queda do PIB ficaria diminuída de 3% para 2,7%”, projeta Freitas.
Em relação ao crédito consignado, o economista explica que ele deve aumentar na mesma proporção do reajuste. Assim, quem pode comprometer R$ 3 mil do salário para serem descontados mensalmente no contracheque, em uma operação de empréstimo, agora terá um reajuste de 8% nessa margem e poderá destinar R$ 3.240 da renda para essa finalidade.
César Bergo, presidente do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal (Corecon-DF), considera que os gastos dos militares ficarão concentrados na própria unidade da Federação e trarão um alívio para o comércio. “Esse público é interno, vai gastar aqui dentro. Os policiais têm uma atividade interna. Dificilmente, podemos dizer que essas pessoas vão aproveitar o aumento para fazer viagens, por exemplo. Os militares são efetivos, estão trabalhando, precisam ficar aqui. O provável é que utilizem o recurso para dar alívio nas finanças domésticas”, detalha.
O economista prevê que os servidores das forças de segurança devem utilizar o dinheiro a mais de três formas. “Primeiro, para pagar dívida, que é o mais recomendado. Muitos deles podem aproveitar esse momento para renegociar dívidas. Segundo aspecto: alguns vão fazer uma reserva, procurar guardar. Com a experiência da pandemia, as pessoas perceberam que é preciso ter um fundo de urgência. O terceiro uso deve ser mais voltado ao consumo de bens e serviços, roupas e vestuários; aqueles que têm um valor maior podem comprar um carro, geladeira, bens duráveis.”
Em boa hora
Sargento do Corpo de Bombeiros, Eduardo Silva, 43 anos, começou a reformar a casa assim que recebeu o primeiro salário com a recomposição, após a publicação da medida provisória. Agora, ele conta que está mais seguro para concluir as obras na residência. “Logo que saiu o aumento, fiz um empréstimo consignado para fazer umas mudanças na casa. Com a transformação da medida em lei, não preciso me preocupar se terei ou não esse dinheiro no mês seguinte”, conta.
No comércio, a expectativa também é positiva. Embora não façam nenhuma estimativa concreta, a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio) e o Sindicato do Comércio Varejista do Distrito Federal (Sindivarejista-DF) apostam em uma melhora nas vendas, impulsionadas também pelas festas de fim de ano.
Edson de Castro, presidente do Sindivarejista, acredita que o aumento do consumo pela categoria vai aquecer o mercado de trabalho. “Além de o reajuste repor a inflação para a categoria, ele também pode aumentar o emprego. Se aumenta o consumo, o comerciante tem necessidade de fazer contratações. Ainda mais agora no segundo semestre. Final de ano é a alma do comércio. Teremos Dia das Crianças, teremos Black Friday e Natal”, diz.
Segundo Francisco Maia, presidente da Fecomércio, a estabilidade dos policiais civis e militares também influencia no otimismo do setor. “É uma classe que tem um poder aquisitivo muito bom, tem estabilidade no emprego. Não é como dar um aumento para assalariado, que no mês seguinte corre o risco de ser demitido e ficar sem renda. O comércio está em um momento de aceleração. Para o setor, o reajuste é bom, significa que vai ter mais pessoas com dinheiro no bolso”, argumenta.
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