Infraestrutura

Mutirão limpa 58 mil bocas de lobo para evitar transtornos com a chuva

Risco de alagamentos mobiliza obras, mas a proximidade do período de chuvas intensas preocupa moradores

Alan Rios
postado em 25/09/2020 06:00 / atualizado em 25/09/2020 06:25
 (crédito:  Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Após quase 120 dias de seca, as chuvas chegaram ao Distrito Federal. Mas, enquanto as precipitações trazem alegria para uns, observar o céu carregado de nuvens traz preocupação para outros. Isso porque cenas de alagamentos pela cidade foram comuns nos últimos anos, com crateras, inundações e carros submersos. Para que isso fique no passado, obras e reparos têm ocorrido como forma de prevenção. Neste ano, R$ 4,6 milhões foram investidos na manutenção das redes de água pluvial em todo o DF, com 334 metros de novas instalações. Ao todo, 58.313 bocas de lobo foram limpas e 374, construídas. Por conta dessas ações, pessoas que já sofreram com os estragos das chuvas esperam o período das precipitações com expectativas positivas, embora ainda carreguem o receio de acontecer mais destruição devido a tempestades.

Uma das regiões com maior incidência de alagamentos nos últimos anos foi a 402 Norte, do Plano Piloto. Em 2019, uma garagem subterrânea do Bloco G da quadra chegou a ter água até o teto. O condomínio precisou contratar um serviço de drenagem para retirar os veículos da área alagada, algo que não era raro. “A garagem inundava e os carros ficavam boiando até ser feita a drenagem. Naquela ocasião, solicitamos o serviço e precisou de dois dias para concluir. Estamos até pedindo ressarcimento por esses gastos que tivemos nos últimos cinco anos”, conta o síndico do bloco, Douglas Azambuja, 37 anos. Mas, ele acredita que esses custos e dores de cabeça não devem se repetir. “A gente espera um ano melhor, porque a administração tem se reunido com a gente, dialogando, implementando obras, novos bueiros e reformas das tesourinhas”, avalia.

Fábio Barbosa, 50, morava na 402 Norte e lembra da situação dramática vivida ano passado. “A gente sempre estava ligado na época das chuvas. Mas, em abril de 2019, começaram a chegar mensagens no grupo de WhatsApp do condomínio com as pessoas falando para tirar o carro da garagem. Eu estava em Anápolis (GO) e já pensei: ‘Perdi a moto’. Quando cheguei em casa, ela estava submersa. Era segurada, mas ninguém quer perder o bem. É triste, chato e desolador. Foi um prejuízo emocional”, lamenta o aposentado.

Vicente Pires

Moradores de outras regiões têm motivos recentes para se preocupar. Em Vicente Pires, por exemplo, a lama que surge com o acúmulo de terra das obras de captação pluvial e as chuvas fortes acabam criando crateras e deixando casas e comércios completamente inacessíveis. Luiza Rodrigues, 24, conhece bem os problemas da cidade, que podem ser maiores este ano. “Exatamente na frente de onde trabalho (na Rua 4A) há uma vala que foi aberta há um mês, mas que as obras estão paradas por falta de material. Não encontraram o ferro das manilhas aqui no Brasil”, diz a comerciante. A apreensão vai além de possíveis dores de cabeça com a dificuldade de acessar a rua em períodos chuvosos. “Estamos com medo, porque a vala não tem sustentação, a terra já está desabando no buraco, e alguma edificação pode cair com as chuvas”, alerta.

Ela conta que a administração de Vicente Pires chegou a marcar uma reunião para explicar o motivo da paralisação da obra, que tem como objetivo instalar o sistema de drenagem da região. “Mas, é algo que precisa ser resolvido de forma urgente, é inviável ter um buraco desse tamanho aberto aqui”, critica Luiza. O GDF informou que realizou uma série de serviços na cidade para sanar os problemas de enchentes e alagamentos, como galeria de águas pluviais, bocas de lobo e meios-fios. O governo estimou um investimento de R$ 542 milhões em infraestrutura, afirmando que 70% de obras foram concluídas. A Secretaria de Obras e Infraestrutura informou que falta concluir 170 metros da tubulação de drenagem na Rua 4A, e que a parte que já foi feita será aterrada.

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  •  Equipes do GDF fizeram a limpeza de mais de 58 mil bueiros. Na 511 Norte, materiais eram retirados com balde
    Equipes do GDF fizeram a limpeza de mais de 58 mil bueiros. Na 511 Norte, materiais eram retirados com balde Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
  •  Antes da chuva, Luiza já temia que a obra na Rua 4A virasse um barranco
    Antes da chuva, Luiza já temia que a obra na Rua 4A virasse um barranco Foto: Minervino Junior/CB/D.A Press
  •  Vala aberta na Rua 4A, em Vicente Pires, após a temporal de segunda
    Vala aberta na Rua 4A, em Vicente Pires, após a temporal de segunda Foto: Minervino Junior/CB/D.A Press
  •  Em 2019, tempestade provocou inundação em garagem na 402 Norte
    Em 2019, tempestade provocou inundação em garagem na 402 Norte Foto: Ed Alves/CB/D.A Press - 22/4/19

Regiões mais vulneráveis

Em nota, a Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) informou que os principais pontos avaliados pela Defesa Civil nas épocas de chuva são as tesourinhas da Asa Norte e as quadras comerciais de Taguatinga. O relatório mais recente da Secretaria de Segurança Pública, de 2019, mostrou que o DF tem 41 pontos de risco distribuídos em 19 regiões administrativas. “As áreas mapeadas em 2019 estão localizadas em Arniqueira, Ceilândia, Estrutural, Fercal, Itapoã, Núcleo Bandeirante, Paranoá, Planaltina, Recanto das Emas, Riacho Fundo 1, Setor de Indústrias e Abastecimento (SIA), Samambaia, Santa Maria, São Sebastião, Sobradinho, Sobradinho 2, Taguatinga, Varjão e Vicente Pires”, explicou a pasta, em nota.

O estudo considera como locais de risco: áreas com declive acentuado, proximidade a córregos e demais cursos d’água, ausência ou precariedade de sistemas de drenagem de águas pluviais, falta de saneamento básico, fragilidades construtivas das edificações, localização de residências em áreas com declives acentuados, invasões, entre outros. Sobre as tesourinhas, a Novacap ressaltou que os locais estão sendo reformados. “Seis foram entregues à população. Até o início do próximo ano, o objetivo é terminar todas. As estruturas estavam muito deterioradas por conta da ação do tempo e de inobservância de gestões passadas”, afirmou em nota.

*Colaborou Samara Schwingel

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