O ano de 2020 mostrou-se repleto de desafios para os profissionais que atuam como educadores físicos e personal trainners. Assim como outras categorias, o segmento foi impactado com as restrições impostas pela pandemia da covid-19. Com a suspensão das atividades em academias e, pouco tempo depois, com o fechamento dos parques, a forma de ofertar esse serviço precisou de adaptação. Atendimento por videochamada, lives nas redes sociais ou aulas em domicílio foram algumas das alternativas encontradas por aqueles que trabalham com esse setor.
Para Marco Rodrigo Vieira Silva, 45 anos, migrar para o meio digital foi uma das principais barreiras. “A pandemia nos desestabilizou em vários sentidos. O espaço, que é a nossa ferramenta de trabalho, nos foi privado, teve a redução de salário, o receio dos alunos, com tudo isso, tive que me adaptar. Confesso que estou apanhando bastante no on-line”, relata o profissional, que atua na área há 20 anos. Ele conta que procurou cursos para entender mais sobre marketing e as ferramentas disponíveis nas plataformas digitais.
Em abril, o educador físico disponibilizou a primeira série de aulas on-line. “Bem no período que as pessoas estavam fazendo as lives e resolvi fazer também. Com exercícios adaptados para o que as pessoas têm em casa. E disponibilizei o conteúdo de forma gratuita”, pontua. Na avaliação dele, mesmo com as oportunidades e facilidades que o mundo digital oferece, nada se compara ao contato presencial. “Gosto muito de estar ali com o aluno. Saber se ele está bem, no emocional, ter essa conversa. Isso o on-line não proporciona. Devo continuar com as duas opções, mas o digital não será a principal linha de trabalho”, afirma.
Adaptação
Moldar-se conforme a necessidade de cada aluno foi o caminho seguido por Luciana Gusmão, 50. “Todos nós tivemos que nos adaptar, procurar locais abertos, o on-line. Isso não substitui a academia, mas é melhor do que não fazer nada”, ressalta a educadora com experiência de 30 anos no segmento.
De acordo com ela, o período mais complicado foi o primeiro mês após o decreto que determinava o fechamento de todos os estabelecimentos não essenciais como medida de prevenção à disseminação do novo coronavírus. “Nos primeiros 30 dias, houve bastante resistência das pessoas, muitas achavam que a pandemia ia passar logo e, por isso, não queriam continuar. Com o tempo, isso foi mudando. Também fiz um trabalho para reconquistar o público”, conta.
As aulas nas áreas verdes localizadas nas superquadras do Plano Piloto trouxeram visibilidade para a profissional, que ganhou mais adeptos. Após a retomada das atividades em academias, o trabalho voltou para o ambiente interno, acompanhado de todos os cuidados. Apenas os idosos, grupo de risco para a covid-19, estão recebendo atendimento em domicílio.
Dificuldades
A atleta e personal trainner Viviane Gonçalves da Silva, 37, também sentiu o baque da chegada da pandemia. “Estava abrindo um estúdio no início do ano e precisei fechar três meses depois. Meu público é de idosos e pessoas com algum tipo de problema de saúde, então, fiquei, de um dia para o outro, sem renda”, relata. Foram quatro meses vivendo apenas da aposentadoria do pai, com a mãe em tratamento contra um câncer.
“Minha vida virou de pernas para o ar. Tive início de depressão, não olhava as redes sociais com as lives e fiquei um tempo off-line. Comecei a fazer terapia e fui voltando aos poucos”, explica. A reabertura das academias, em julho, trouxe novo ânimo. “Pude reabrir o estúdio e voltar com o atendimento presencial e encarar o on-line”, ressalta. De cinco alunos por hora, ela passou a receber apenas dois em cada turma. Tudo para proporcionar um ambiente seguro. Em alguns casos, há a possibilidade de modelo híbrido, com um no presencial e outro por videochamada.
De acordo com o presidente do Conselho Regional de Educação Física, Patrick Novaes Aguiar, cerca de 10 mil educadores físicos foram impactados com a pandemia no Distrito Federal. “Teve muita gente que nos relatou dificuldade para se adaptar à nova realidade. Alguns ficaram totalmente sem renda. Chegamos a fazer uma ação para recolher alimentos para ajudar essas pessoas”, afirma. Foram mais de 150 famílias atendidas pela iniciativa. Mesmo diante de um cenário de recuperação, Patrick acredita que o setor deva passar por um outro desafio: a crise financeira. “A gente ainda não conseguiu mensurar o impacto econômico, isso se mostrará daqui a algum tempo”, avalia.
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