Investigação

Dono de clínica suspeito de oferecer cura gay presta depoimento à Polícia Civil

Em site, o hipnoterapeuta Gabriel Henrique de Azevêdo Veloso anuncia "garantia vitalícia de resultados" para "depressão, homossexualismo, emagrecimento e vícios"

Darcianne Diogo
postado em 10/11/2020 20:55 / atualizado em 10/11/2020 21:00
 (crédito: Reprodução)
(crédito: Reprodução)

O proprietário de uma clínica de hipnose que prometia “garantia vitalícia” para o tratamento do "homossexualismo” (sic) prestou depoimento na Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa ou por Orientação Sexual (Decrin), unidade que investiga o caso. Ele alegou que, em nenhum momento, pretendia vender a “cura gay”.

No site da clínica Hipnoticus, na Asa Sul, Gabriel Henrique de Azevêdo Veloso se identifica como hipnoterapeuta formado em Hipnose Condicionativa pelo Instituto Brasileiro de Hipnologia. Na página, ao custo de R$ 29,9 mil, ele ele anuncia "garantia vitalícia de resultados" para "depressão, homossexualismo, emagrecimento e vícios". O tratamento tem duração de seis meses.

No depoimento, realizado na segunda-feira (9/11), o investigado disse que, embora tenha usado na propaganda a palavra homossexualismo, não tinha a intenção de vender a “cura gay”. “No anúncio, ele elenca que a palavra homossexualismo indica doença, justamente porque ela está junto a outras doenças, como depressão e vícios. Ele alega, ainda, que as pessoas o procuram porque estão em sofrimento por serem homossexuais”, diz a delegada da Decrin, Ângela Maria dos Santos.

Até o momento, a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) não recebeu nenhuma denúncia referente ao caso. Durante o interrogatório, o homem afirmou que prestou o serviço a apenas dois clientes, que teriam lhe procurado. Segundo a delegada, as investigações continuam com a coleta de materiais para saber se há indícios de crime. “Se houver algum delito, em tese, será o de ação pública incondicionada, em que a vítima é a própria comunidade. Mas a apuração está no começo”, frisou a investigadora.

Não é doença

O caso veio à tona após a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos, Cidadania, Ética e Decoro Parlamentar da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) receber uma denúncia anônima sobre o anúncio da clínica. "Chegou a informação de que essa clínica, suposta instituição de tratamento com hipnose, estaria querendo tratar pessoas e se referindo à homossexualidade como doença, inclusive usando o sufixo 'ismo'. É um absurdo completo", afirma o deputado distrital Fábio Félix (Psol), ex-presidente da comissão.

Na medicina, o sufixo ismo denota alguma enfermidade ou doença e, por isso, o termo homossexualismo não é mais utilizado. Há 30 anos, a Organização Mundial de Saúde (OMS) deixou de considerar a homossexualidade um transtorno mental.

Além disso, oferecer tratamento para a homossexualidade é proibido no Brasil pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP). O Supremo Tribunal Federal (STF) já determinou o arquivamento da ação popular movida por um grupo de psicólogos que solicitava a liberação da prática de terapias de reversão sexual.

A Corte assegurou a aplicação da Resolução nº 01/99 do CFP, que reprova o oferecimento de qualquer tipo de prática terapêutica que considere a homossexualidade como um “desvio”. Em 2019, a decisão foi assinada pela ministra Cármen Lúcia.

O Correio tenta contato com Gabriel Henrique de Azevêdo Veloso, mas não havia tido sucesso até a última atualização desta matéria. 

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