OBITUÁRIO

Relembre trajetória do ex-secretário de Saúde Jofran Frejat, morto aos 83 anos

Respeitado até pelos adversários, o ex-deputado e ex-secretário de Saúde Jofran Frejat morreu vítima de um câncer de pulmão, aos 83 anos. Entre os legados dele está a fundação da Escola Superior de Ciência da Saúde (ESCS)

Thais Umbelino
postado em 24/11/2020 06:00 / atualizado em 24/11/2020 11:39
 (crédito: Minervino Junior/CB/D.A Press                       )
(crédito: Minervino Junior/CB/D.A Press )

Um dos políticos mais respeitados do Distrito Federal, o ex-deputado federal e ex-secretário de Saúde Jofran Frejat, 83 anos, morreu na noite dessa segunda-feira (23/11), vítima de câncer no pulmão. O político estava internado havia 17 dias no Hospital Santa Lúcia, na Asa Sul. Frejat descobriu um nódulo no pulmão em outubro deste ano durante tratamento de um cálculo renal. O velório está marcado para as 15h desta terça (24/11), no cemitério Campo da Esperança, da Asa Sul. A cerimônia se encerra às 17h. 

“Ele estava há cinco dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), muito abatido e fraco”, contou a filha mais velha do médico, Graziela Frejat, 46 anos. O político completou duas sessões de quimioterapia, mas, segundo a família, ficou muito fragilizado durante o tratamento. “Todos estão muito abalados com a notícia. Ele foi um exemplo de força e de luta. Um gladiador”, descreveu a filha.

Frejat também foi reconhecido pelo serviço dedicado aos outros. “Deixa um legado muito bonito. Veio para Brasília tentar a vida e desenvolver um modelo de Sistema Único de Saúde para o Brasil inteiro. Sempre se dedicou às pessoas e à vida pública. Era um ser humano incrível”, descreveu Graziela. Ele deixa a esposa, quatros filhos e seis netos.

O ex-deputado deixou os holofotes da vida política em 2018 quando desistiu de concorrer ao Palácio do Buriti. Ele liderou as pesquisas de intenção de votos durante a pré-campanha, mas decidiu sair do pleito e rejeitar acordos. À época, disse que não aceitaria fazer um pacto com o diabo. Houve muitas interpretações, mas nem mesmo os aliados mais próximos sabiam dizer o real motivo de Frejat abdicar de um mandato quase certo, em torno do qual se uniam políticos como José Roberto Arruda, Alberto Fraga, Eliana Pedrosa, Alirio Neto e Ibaneis Rocha. Ele havia disputado o GDF em 2014 no lugar do ex-governador Arruda, barrado pela Justiça. Perdeu no segundo turno para Rodrigo Rollemberg (PSB).

Trajetória


Jofran Frejat nasceu em Floriano (PI) em 19 de maio de 1937. Transferiu-se para o Rio de Janeiro em 1957, quando ingressou na Faculdade Nacional de Medicina do Rio de Janeiro. Após concluir o curso em 1962, mudou-se para Brasília.

Entre 1973 e 1979 foi diretor do Instituto Médico-Legal de Brasília e no ano seguinte foi nomeado para o cargo de secretário de Saúde do Distrito Federal, no governo de Aimé Lamaison (1979-1982), ocupado até 1983. O médico foi deputado por cinco mandatos, sendo um deles como constituinte. Assumiu a secretaria de Saúde do DF por quatro vezes entre os anos de 1979 e 2002. Também foi o fundador da Escola Superior de Ciência da Saúde (ESCS), mantida pela Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde (Fepecs).

Luto


O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), decretou nesta segunda-feira (23/11) luto oficial de três dias pelo falecimento do médico. “Jofran Frejat é um exemplo que eu segui e espero continuar seguindo na vida pública. Para mim, sempre foi um modelo de político”, declarou Ibaneis, em nota oficial.

Além dele, o secretário de Saúde do DF, Osnei Okumoto, reconheceu a importância do médico-cirurgião para a saúde da capital federal. “Foi durante sua gestão que foram construídos ou inaugurados os hospitais regionais de Ceilândia, Asa Norte, Paranoá e o Hospital de Apoio (...) A Secretaria de Saúde se solidariza com familiares e amigos de Frejat, que teve importante papel para o desenvolvimento da Rede Pública de Saúde do Distrito Federal”, frisou.

Ao Correio, o ex-senador Cristovam Buarque relembrou momentos com o “notável político” e colega. “Brasília perde um grande pioneiro, um grande político e um grande médico. E nós, que o conhecemos, perdemos um grande amigo”, sintetizou. Entre as lembranças, o político destacou a admiração pela pessoa forte e capaz que Frejat era. “Me impressionava a jovialidade dele. Me recordo de Frejat caminhando nos corredores do Senado. Sempre andava mais depressa que todos. Além disso, foi uma pessoa muito respeitada em toda a sua carreira política, por todos os lados. Aprendi a admirá-lo e a gostar muito dele”, completou Cristovam.

Colaboraram Alan Rios e Ana Maria Campos

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REPERCUSSÃO

“Nos aproximamos na época da última eleição para governador, quando cheguei a abrir mão de minha candidatura para apoiá-lo, até que ele desistiu da disputa. Frejat deixa um legado de retidão e honestidade que deve servir de parâmetro a qualquer pessoa que pense em atuar na política e no serviço público”,

Ibaneis Rocha, governador do DF


“Embora adversários na eleição de 2014, sempre mantive com ele uma relação de respeito e diálogo. Frejat exerceu a política com dignidade e tinha minha admiração.”

Rodrigo Rollemberg, ex-governador do DF


“Perdemos um amigo, um líder e um homem público exemplar. Tive a honra de ser vice do Frejat em 2014 e aprendi muito com ele.”

Flávia Arruda, deputada federal


“Foi com muita tristeza que recebi a notícia da morte de Frejat, amigo e mestre. Um exemplo de ser humano. Jofran Frejat médico, Jofran Frejat deputado, Jofran Frejat gestor público era sempre o mesmo Frejat, aquele que fazia o bem sem olhar a quem”.

Izalci Lucas, senador


“Em momentos de tanto ódio e mentira na política, Frejat a exerceu com dignidade e respeito ao outro. Deixa como legado, entre outros, a defesa firme do SUS e a ESCS, Escola que nos enche de orgulho. Brasília está mais triste. Toda solidariedade à família”

Erika Kokay, deputada federal


“Como amigo particular e colega de bancada no Congresso Nacional, fomos deputados constituintes, eu manifesto meu profundo sentimento de perda pelo falecimento de Frejat. Nos conhecemos desde a década de 60, antes da política. Frejat era amigo dos seus amigos”

Valmir Campelo, ex-senador e ex-ministro do Tribunal de Contas da União


“O Distrito Federal perdeu hoje um dos seus pioneiros mais respeitados. Jofran Frejat foi um médico competente e um político sério que ajudou a fazer Brasília”.

Cristovam Buarque, ex-governador do DF e ex-senador


"Perdemos um homem que lutou pelo SUS e foi um dos responsáveis pela criação da Faculdade de Ciências de Saúde do DF."

Leila Barros, senadora


Linha do tempo

Anos 1970

O primeiro cargo público de Frejat foi de diretor do Instituto de Medicina Legal (IML) do DF entre 1973 e 1979. Em 1977, então cirurgião do Hospital das Forças Armadas, ele atendeu Sílvio Delmar Hollenbach, que salvou um garoto de 13 anos de um ataque de ariranhas no Zoológico (foto). Em 1979, elaborou o Plano de Assistência à Saúde no DF.

Anos 1980

Foram construídas mais de 40 unidades de saúde, como postos e centros, para consolidação do Plano de Assistência à Saúde, elaborado por Frejat. Como parlamentar, o médico foi eleito deputado federal pela primeira vez em 1986, participando da Assembleia Nacional Constituinte e da elaboração da Constituição Federal de 1988.

Anos 1990

Reeleito em 1990 ao cargo de deputado Federal pelo DF, Frejat aliou os conhecimentos médicos com a trajetória política no cargo de Secretário de Saúde do Distrito Federal em duas ocasiões mais emblemáticas, com destaque para as atuações dentro da gestão do ex-governador do DF Joaquim Roriz.

Anos 2000

Uma das últimas inaugurações da gestão de Frejat foi em 2002, quando foi entregue à população o Hospital Regional do Paranoá (HRPa), atualmente conhecido como Hospital Região Leste. A cerimônia contou com a presença do ex-ministro da saúde e então senador José Serra e do então governador do DF Joaquim Roriz.

Anos 2010

Frejat foi também candidato ao governo do Distrito Federal, em 2014, quando chegou a disputar o segundo turno contra Rodrigo Rollemberg (PSB), que acabou vitorioso, e pré-candidato ao Executivo em 2018, quando desistiu de concorrer ao cargo e encerrou a participação na vida política.

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