FORÇA

Conheça a história de mulheres empreendedoras no Distrito Federal

No mês em que celebra-se o Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino, o Correio conta histórias de mulheres que se arriscaram e dedicam-se à própria empresa

Caroline Cintra
postado em 27/11/2020 06:00 / atualizado em 27/11/2020 11:07
 (crédito:  Arquivo Pessoal)
(crédito: Arquivo Pessoal)

Empreender não é uma tarefa fácil. É preciso coragem, determinação e persistência para manter as vendas dos produtos ou serviços. Para as mulheres, que ainda assumem diversos papéis na sociedade, os desafios são maiores ainda, mas elas se destacam cada vez mais à frente do próprio empreendimento. No mês em que se comemora o Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino (19 de novembro), o Correio destaca histórias de mulheres que decidiram ir à luta, apesar das dificuldades para começar a se manter, mesmo em meio a uma pandemia. Um relatório do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) mostra que em 2018, 36% dos empreendimentos do Distrito Federal eram liderados por mulheres. Ao todo, 121 mil eram donas e cerca de 102 mil trabalhavam por conta própria.

Gestora de projetos do Sebrae-DF, Letícia Garcia conta que a presença das mulheres no empreendedorismo, não apenas no DF, mas em todo o Brasil, é crescente. Hoje, elas são titulares ou sócias de praticamente metade dos pequenos negócios do país. Essas mulheres têm contado com o apoio das redes sociais para engajar o negócio e conectar cada vez mais umas às outras, na busca de encorajamento conjunto e trocas de experiências. “Aqui, no DF, mapeamos um grande número de redes de mulheres e esse número é crescente. Observa-se, também, que o estímulo ao empreendedorismo feminino reduz desigualdades e torna a mulher independente economicamente, o que promove outras liberdades, além da financeira”, destaca.

Letícia explica que muitas pessoas que desejam empreender buscam cursos e programas do Sebrae-DF para dar o pontapé inicial. “Elas são orientadas a, após tomarem a decisão pelo tipo de negócio que desejam abrir, fazerem um plano, que é a ferramenta que auxiliará o empresário a estruturar seu negócio de forma consciente, calculando riscos e avaliando se é realmente viável”, disse.

A preparação de Priscilla Macedo, 28 anos, começou depois de tomar a decisão de assumir um negócio. Ela e o marido moraram na Venezuela por dois anos e, quando retornaram, em 2017, estavam desempregados. Com um bebê de 2 meses, e em meio ao desespero, ela resolveu abrir um comércio. Meses depois, surgiu a oportunidade de assumir a clínica de estética Expose. “Nunca tive vontade de empreender, mas a necessidade me fez pensar nessa oportunidade. A clínica estava falindo e resolvi investir nela. Começamos praticamente do zero, usando dinheiro de rescisão para pagar as contas. Foi um grande desafio, mas está dando tudo certo”, afirmou.

Com a chegada dos bons resultados, ela começou a investir em conhecimento, fez cursos de gestão, marketing, preparou-se para ter um melhor desempenho como empreendedora. Hoje, está à frente de três unidades da clínica. Além dos serviços estéticos, a empresa aluga equipamentos e presta consultoria. “É um desafio grande, mas é recompensador. Ver tantas mulheres se destacando é muito legal. Tem lugar e espaço para todas. Mas, precisa trabalhar da forma correta e investir em conhecimento, que dá tudo certo”, aconselha Priscilla.

Propósito

De uma família predominantemente de funcionários públicos, a advogada e empresária Nayara Sousa França, 24, imaginou que seguiria o mesmo caminho. Para alcançar o tão sonhado cargo de analista judiciário, ela estudava por horas. Com o passar do tempo, não enxergava mais propósito naquilo. “Foi quando decidi encarar a advocacia autônoma e me encontrei com o meu objetivo profissional. Sem dúvida alguma, a melhor decisão que tomei”, conta.

A ideia de empreender surgiu quando terminou a graduação e precisava colocar em prática as teorias estudadas. O foco era trabalhar por conta própria. “Nesse processo entendi que não precisava passar por um escritório como contratada para tentar caminhar sozinha. Apenas criei o meu perfil profissional no Instagram (@nayarasfranca.adv), comecei a prospectar os meus próprios clientes. Desde então, tenho me posicionado muito bem como advogada autônoma”.

Mas, ela não parou por aí. A paixão pelo empreendedorismo é tamanha que abriu a própria loja de lingerie (@segredosrendados) e ainda atua como mentora em produção de conteúdo e marketing digital. “Acredito que as mulheres não apenas têm se destacado, como também estão encontrando suas posições enquanto profissionais. O empreendedorismo é, também, um lugar de empoderamento feminino e por meio dele, muitas mulheres estão encontrando seus propósitos e mostrando ao mundo suas vocações”, ressaltou a advogada.

Na contramão do que muitos almejam, a empresária Mariluce Alves, 65, deixou o serviço público para realizar o sonho de empreender. Ela trabalhou em um banco estadual de Goiânia, onde morava, para ter o próprio negócio na capital federal. Desde 2001, está à frente da Microsom, uma clínica que atende pacientes com perda auditiva e vende aparelhos auditivos. Hoje, ela coordena três unidades — Taguatinga, Asa Sul e Asa Norte. Todo o grupo emprega 17 funcionários no DF.

Durante a pandemia, Mariluce investiu na internet para manter o contato e os laços com os pacientes. A empresária implementou as vendas pelo WhatsApp Business, Facebook, delivery, além do site. No total, as lojas fizeram cerca de 200 a 300 atendimentos em todo o período. A ideia é manter o atendimento delivery, mesmo após a pandemia. “O início da empresa não foi fácil, porque ainda morava em Goiás e vinha duas vezes por semana. Foi preciso muita luta, determinação. Para mim, tinha duas opções: dar certo ou dar certo. A escolha do ramo é que foi surpreendente, mas fui estudando e me apaixonei. Deu certo”, destacou.

Família

Mãe de primeira viagem, a confeiteira Thainara Miranda, 24, decidiu trabalhar por conta própria após o nascimento da filha. Antes, ela tinha emprego em uma empresa de licitação, mas, para acompanhar cada passo e desenvolvimento da criança, decidiu trabalhar em casa. “A ideia era empreender em algo que eu gostaria de comprar e que achava mais fácil de vender. Pensei em doces. Não sabia fazer nem brigadeiro. Comecei fazendo docinhos para casais se presentearem, investi em cursos, aprendi a fazer bolo, modelagem. Foi aos poucos”, contou. Ela lembra que, no início, quase não tinha encomenda e que chegou a desanimar em alguns momentos.

Para divulgar o trabalho, começou fazer bolo para amigos e tirava foto. Publicava nas redes sociais e os clientes começaram a aparecer. “Graças a Deus, esse ano, mesmo com a pandemia, a freguesia não diminuiu, até aumentou. Fiquei com medo porque o mercado das festas não ia continuar, não podia ter aglomeração, mas as pessoas começaram encomendar bolinhos para confraternização em casa e apareceram muitas encomendas”, disse.

Ela conta que deixar um trabalho fixo e abrir um negócio próprio exigiram muita coragem. “Até janeiro eu tinha um emprego, mas não me entregava de verdade aos doces, pensava que ia faltar renda. E se não der certo, e se der? Tem que acreditar e se organizar e fazer o melhor, do jeito que gostaria de receber. O que se faz com amor, não tem como não dar certo”, completou.

Inovação

Especialista em empreendedorismo e cofundadora do laboratório de negócios 55Lab, Juliana Guimarães destacou que a facilidade da mulher em inovar e ouvir ajuda no crescimento do empreendedorismo feminino. Uma pesquisa feita pelo Sebrae com a Fundação Getulio Vargas (FGV) mostra que 71% das mulheres afirmaram ter usado recursos para inovar em seus negócios durante a crise. Em contrapartida, somente 63% dos homens disseram ter investido em mudanças nesse sentido. “As mulheres, por questão histórica, desde o tempo paleolítico, cuidavam da casa, dos filhos, tomavam conta de tudo enquanto o homem ia caçar. Desde sempre tiveram que tocar tudo de uma vez. Isso exige que elas inovem com um pouco mais de frequência. Mas, há outros fatores também, como a busca por conhecimento e estudos”, explicou.

Para as mulheres que desejam ter o negócio próprio, Juliana aconselha seguir quatro passos importantes. Entre as principais orientações, está o nicho em que deve investir. “Tem que descobrir o que sabe fazer e como se diferenciar. Não é porque todo mundo está empreendendo na internet que você vai empreender igual. Não é porque o negócio do vizinho está dando certo que o seu também vai dar”, ressaltou. A especialista destaca que é preciso ter paixão pelo que faz para executar da melhor forma e com qualidade.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Dicas para empreender

Dicas para empreender, por Juliana Guimarães, especialista em empreendedorismo

» Montar um “colchão” de segurança para qualquer tipo de negócio, seja tradicional ou digital. Tem que ter tempo de maturação e entender que precisa investir para faturar. A partir disso, vêm os lucros.
» Descobrir o que sabe fazer e como se diferenciar no ramo.
» Analisar o mercado sob diferentes óticas, estudando concorrências, clientes e estar sempre preparado para o futuro.
» Saber se vai tocar a empresa sozinho ou se terá um sócio. Sociedade é como um casamento. Tem que entender o que tem de comum, o tipo de visão de cada um para dar certo.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação