ENTREVISTA

DF recuperou empregos perdidos durante a pandemia, diz secretário de Trabalho

Segundo o chefe da pasta, a capital federal chegou a ter 330 mil desempregados no auge da pandemia. Atualmente, são cerca de 280 mil. Antes da crise sanitária, 288 mil pessoas estavam sem trabalhar. Segunda onda da covid-19 no Distrito Federal, entretanto, preocupa

Alexandre de Paula
Ana Maria Silva*
postado em 08/12/2020 06:00
 (crédito: Ana Rayssa/CB/D.A Press)
(crédito: Ana Rayssa/CB/D.A Press)

Os empregos perdidos pelo Distrito Federal durante os momentos mais graves da crise causada pela pandemia do novo coronavírus foram recuperados, segundo o secretário de Trabalho do DF, Thales Mendes. Em entrevista ao CB.Poder, parceria do Correio com a TV Brasília, ele ressaltou que a capital chegou a ter mais de 333 mil desempregados no auge da crise sanitária. Atualmente, são cerca de 280 mil, contra 288 mil antes da pandemia.

“O efeito do desemprego em função da pandemia no DF não existe mais. Podemos atribuir isso a várias ações de governo e pela própria composição da renda que corre em Brasília”, explicou o secretário. “ Um percentual de 60% do dinheiro que circula no DF vem do setor público. Essas pessoas não foram demitidas, permaneceram no mercado de trabalho. Quando houve a abertura, havia uma demanda reprimida de consumo, tanto de produto quanto de serviço, isso respingou na recuperação dos postos de trabalho e percebemos hoje que foi uma recuperação interessante”, acrescentou.

O chefe da pasta, entretanto, alertou para os riscos de uma segunda onda. Na visão dele, o aumento da transmissão pode trazer à tona efeitos graves para a economia local. Por isso, ressaltou, é fundamental que comerciantes e a população reforcem os cuidados às vésperas das vendas de fim de ano, que tradicionalmente aquecem o mercado da capital federal..

Na visão de Mendes, o grande entrave para a redução do desemprego no DF, hoje, é a falta de qualificação profissional. Por isso, ele assegurou que o GDF vai investir em capacitação em massa em 2021. “O Governo Federal ainda não tem uma política nacional que nos dê clareza dessa política de qualificação em massa. Brasília vai fazer isso. Nós somos uma caixa de ressonância para as políticas públicas. Então, acho que temos essa responsabilidade de sermos a capital do país, de sermos promotores de políticas públicas. Qualificação profissional, essa é a grande chave.”

Leia os principais trechos da entrevista:

Um dos grandes problemas do DF é o número de desempregados. A pandemia tornou isso ainda mais grave, mas já se pode falar em retomada do emprego neste momento?

De fato, um dos grandes problemas de Brasília é a taxa de desemprego. Segundo a última Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), feita pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), divulgada na última terça-feira de novembro, Brasília tem 286 mil desempregados. Antes da pandemia, tínhamos em torno de 288 mil desempregados em Brasília. Chegamos a um pico de 333 mil no auge da pandemia, e hoje a pesquisa traz em torno de 280 mil. Ou seja, o efeito do desemprego em função da pandemia no DF não existe mais. Podemos atribuir isso a várias ações de governo e pela própria composição da renda que corre em Brasília. Um percentual de 60% do dinheiro que circula no DF vem do setor público. Essas pessoas não foram demitidas, permaneceram no mercado de trabalho. Quando houve a abertura, havia uma demanda reprimida de consumo, tanto de produto quanto de serviço, isso respingou na recuperação dos postos de trabalho e percebemos hoje que foi uma recuperação interessante.

Quais foram as razões que mais contribuíram para conseguir recuperar essas vagas?

Com a abertura do comércio, as empresas passaram a contratar as pessoas que possivelmente foram demitidas em razão da pandemia. É muito mais barato para o setor produtivo contratar as pessoas que já tinham experiência e que, infelizmente, foram demitidas. Com a retomada do setor produtivo, houve também essa retomada das contratações. E há também o fator do fim de ano. As empresas estão se preparando, produzindo um pouco mais, preparando para aqueles famosos empregos temporários que normalmente aumentam o nível de contratação. Tudo isso fez com que diminuísse o efeito do desemprego no DF, e esperamos que seja um processo gradativo, de forma que venha a refletir sobre todos nós.

O senhor citou essa questão e, todo fim de ano existe uma expectativa muito grande em relação às contratações temporárias, qual a previsão para 2020?

Nossa insegurança é em relação à segunda onda da pandemia. O fato é que o governo está se preparando para isso, tanto na questão econômica quanto na saúde. Quanto ao desemprego, de fato, é um momento bacana de consumo. Houve um despejar de muito dinheiro no comércio, em função dos próprios pagamentos do auxílio emergencial. Isso tem um reflexo automático no comércio. A pessoa recebe esse dinheiro e sai para gastar no comércio, no açougue, na padaria e por aí vai. Esse processo gera um círculo virtuoso no processo de contratação. A prova disso são o número de vagas que estão sendo oferecidas nas agências do trabalhador.

Nessa questão da segunda onda, é o momento de reforçar os cuidados com os comerciantes e trabalhadores para que não precisemos reviver um fechamento nesse período?

Com a abertura do comércio, se houver a falta de cuidado das pessoas em se proteger há um reflexo imediato no índice de contaminação. É importante que as pessoas tenham cuidado, se previnam, façam uso dos equipamentos de proteção individual (EPIs) necessários para que não tenhamos que suspender o funcionamento do setor produtivo. Esperamos ter acesso às vacinas o quanto antes para que tudo volte à normalidade, mas é preciso que, neste momento de contaminação, tenhamos os cuidados necessários e maior rigor. É por isso que tivemos um decreto do governador restringindo o horário dos estabelecimentos de restaurantes e bares para que a gente não tenha de adotar medidas mais drásticas.

Como o cidadão pode ter acesso às vagas disponíveis nas agências do trabalhador?

Nós temos 16 agências do trabalhador com funcionamento total em toda a sua capacidade de atendimento, divididas e espalhadas por todas as cidades do DF. Todos os dias, aproximadamente entre 17h e 18h, divulgamos as vagas dos dias seguintes. Hoje (ontem), por exemplo, temos 745 vagas em diversas áreas, segmentos, profissões e valores de remuneração. Basta a pessoa acessar o aplicativo do Sine Fácil ou o próprio site da secretaria para ter todo o quadro de vagas com a descrição de cada uma delas e valor de salário.

A secretaria anunciou o programa Lab Inclui, que incentiva projetos para empreendedores e capacitação de trabalhadores com deficiência. Como será?

É um projeto muito bacana de inclusão social e respeito às pessoas. Temos percebido na agência da 112 sul, que é prioritariamente para atendimento de pessoas com algum tipo de deficiência, que não conseguimos destinar essa vagas para esse público por, muitas vezes, falta de cadeira de rodas. Então, o programa é um laboratório de inclusão em que vamos comprar as cadeiras e adaptar para as pessoas segundo sua deficiência. É mais que isso, na verdade, é qualificar as pessoas para que possam abrir oficinas para montar essas cadeiras, o que hoje não existe em Brasília. A intenção é qualificar as pessoas dando dignidade para aqueles que precisam do equipamento, para que possam entrar nas suas profissões e executá-las.

Acompanhando o número da agência do trabalhador, podemos ver que há oferta de empregos. O que acontece para haver um número alto de desempregados, mas sempre ter vaga? Qual é o desequilíbrio?

É falta de qualificação. O que percebemos hoje é que o mercado e o setor produtivo são muito exigentes em relação às qualificações profissionais. Cada vez mais esse mercado vai ser competitivo e exigente. Se as pessoas não tiverem a qualificação necessária, fica difícil enfrentar essa dificuldade. Em função disso, a secretaria se debruçou em várias pesquisas com a Codeplan e o setor produtivo para saber quais seriam as profissões que precisam de maior capacitação. A secretaria lançou recentemente um curso de qualificação presencial para 47 mil pessoas que vai até 6 de janeiro.

Além da falta de qualificação, quais são os grandes desafios aqui no DF?

Eu classifico a qualificação, talvez, como o maior entrave para reduzir desemprego em Brasília. A secretaria tem feito muito trabalho em relação a isso e se preparado também porque acredito que ano que vem é o ano das grandes entregas. Estivemos frustrados em várias iniciativas em função da pandemia, mas acho que a palavra-chave é essa, qualificação profissional. A secretaria vai lançar em breve o observatório do trabalho para que as pessoas tenham noção do que devem fazer para serem contratadas. Esse mapeamento de emprego foi um pedido que o governador nos fez.

A secretaria fez um cadastro de guardadores e lavadores de carros. O que deu para concluir? Qual o perfil desse trabalhador?

O que víamos era a preocupação desses trabalhadores em como sobreviveriam com a possibilidade de ter a terceirização ou concessão desses espaços públicos para a utilização dos estacionamentos privados. Nós tivemos 870 cadastrados nesse processo e estamos cruzando todos os dados para dizer qual o perfil desse trabalhador. Já podemos dizer que 92% são homens. Nós conseguimos identificar que 70% dessas pessoas moram fora do DF, nas cidades metropolitanas. Em função desse cadastro, nós estamos montando um programa para trazer dignidade para esses trabalhadores. Vamos também oferecer novos cursos de qualificação. Por isso, o mapeamento dessa condição sócio econômica. Não adianta oferecermos cursos de qualificação que exigem maior nível de escolaridade, porque a maioria — e a pesquisa prova isso — são pessoas que têm o ensino fundamental incompleto. Com esse mapeamento, vamos conseguir modelar um programa que atinja essas pessoas.

Quais serão as prioridades e principais projetos para 2021?

Como prioridade, temos o microcrédito. O governo quer financiar o micro e nano empreendedor, aquelas pessoas que querem empreender. O governo quer ajudar esses microinvestimentos com a liberação de recurso para microcrédito. A outra é a qualificação profissional em massa. O Governo Federal ainda não tem uma política nacional que nos dê clareza dessa política de qualificação em massa. Brasília vai fazer isso. Nós somos uma caixa de ressonância para as políticas públicas. Então, acho que temos essa responsabilidade de sermos a capital do país, de promotores de políticas públicas. Qualificação profissional, essa é a grande chave.

* Estagiária sob a supervisão de Alexandre de Paula

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