Urbanismo

Complexo de lazer na Ponte do Bragueto começa a ganhar corpo

Após analisarem um projeto do GDF, que pretende criar um espaço gastronômico, esportivo e cultural próximo à Ponte do Bragueto, ambientalistas desenvolvem recomendações para aperfeiçoar o plano, com intuito de debater com a sociedade e apresentar ao governo

Caroline Cintra
postado em 16/01/2021 06:00
 (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)
(crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

O antigo plano de criação de um complexo de lazer na parte de baixo da Ponte do Bragueto deu o primeiro passo para sair do papel. O projeto está em fase preliminar e prevê um espaço com paisagismo moderno, vagas de estacionamento, ciclovia, acessibilidade, entre outros. No entanto, há muito caminho a percorrer até começar a ser construído. A proposta inicial teve aprovação de ambientalistas, que consideram o conceito atrativo, porém, por meio do Fórum Ambientalista do Distrito Federal, eles sugerem que a iniciativa atenda sugestões relacionadas à sustentabilidade, mobilidade, cultura, turismo entre outras condições.

A partir disso, o grupo elaborou um documento sugerindo sete pontos que podem servir como guia para o projeto do DF (veja Guia). O fórum criou esse guia depois da Secretaria de Projetos Especiais (Sepe) publicar o Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI) sobre o projeto, na semana passada. O PMI é um instrumento que a administração pública pode utilizar, antes do processo licitatório, para obter estudos de viabilidade, levantamentos, investigações ou propostas de pessoa jurídica de direito privado, com a finalidade de subsidiar a administração pública na estruturação de desestatização de empresa e de contratos de parceria.

A Sepe não detalhou o assunto porque está em fase inicial, e o projeto em desenvolvimento. De acordo com o engenheiro ambiental César Vitor do Espírito Santo, a ideia das propostas é levantar uma discussão com a sociedade e, em seguida, apresentar os pontos para o Governo do Distrito Federal (GDF). “Vi que, no início de dezembro, o GDF lançou um edital para as empresas interessadas apresentarem propostas. O pessoal do Fórum Ambientalista pediu que eu elaborasse esse documento. Não somos contra a construção do complexo, apenas queremos discutir melhores projetos, sempre em busca de sustentabilidade”, explica.

Para construir o guia, o ambientalista juntou-se ao Conselho Comunitário da Asa Norte (CCAN) e a representantes culturais. “Temos conversado e concordamos em muitos pontos. Lembrei que, em 1980, ali, naquele mesmo espaço, era realizado concertos musicais com bandas locais, e pensamos que pode voltar a ter um ambiente assim, que é para todos. Não precisa depender de carros para chegar, que as pessoas venham a pé, de bicicleta. Voltem a ter contato umas com as outras”, diz César.

Diretor institucional do CCAN e morador da Asa Norte, Sérgio Bueno, 62 anos, afirma que os residentes da região são contrários ao projeto, porém defendem o respeito ao meio ambiente. “É uma área sensível às questões ambientais. Qualquer atividade econômica tem que levar isso em consideração. Além de se atentar às leis de controle sonoro, mobilidade e que seja uma opção para todos”, ressalta. Para ele, é importante que haja aproveitamento urbanístico do espaço, mas, não apenas para o segmento mais elitizado. “No Pontão do Lago Sul, uma pessoa com padrão de consumo médio ou baixo não tem espaço. Nossa ideia é que quem quer comer cachorro quente, algo mais barato encontre e aproveite”, completa.

Integração

Administrador do Lago Norte, Marcelo Ferreira avalia que a construção do espaço é positiva em vários aspectos. Ele destaca a integração entre as pessoas, a visão da ponte e uma oportunidade de um espaço limpo. “Deve ser um lugar onde os brasilienses voltem a frequentar sempre, um lugar de turismo. A ideia é fazer isso tudo junto ao Ibram (Instituto Brasília Ambiental), para termos todo o cuidado com o meio ambiente. Para a cidade vai ser um ganho. Vai ter geração de emprego, ponto de encontro. Um cartão portal”, destaca.

Em nota, o Ibram informa que, até o momento, não foi protocolado junto ao órgão processo referente a esse empreendimento. “Por isso, não podemos nos manifestar sobre o assunto”, resume o texto.

Guia

Confira as sugestões do Fórum Ambientalista do Distrito Federal para o espaço:

1. Sustentabilidade
Que seja sustentável em todas as suas fases, desde o incentivo à participação da comunidade na definição do conceito do projeto e, posteriormente, a sustentabilidade na construção, na utilização e na manutenção do espaço. Que preveja energia solar, eólica, utilização racional da água, destinação adequada dos resíduos sólidos e orgânicos e de esgotos.

2. Harmonia arquitetônica
Que preveja uma arquitetura harmônica e acessível com o ambiente do lago, com o cerrado e com as edificações existentes no local, como o deck de madeira, que pode ser estendido até a parte inferior da Ponte do Bragueto, onde pode-se constituir um espaço integrado com a margem do lago. Neste local, pode-se prever estruturas simples e harmônicas para apresentações culturais, alimentação, pequenos comércios, dentre outras estruturas.

3. Integração de espaços — “Do Pontão ao Pontal”
Que seja um espaço integrador com outros espaços por meio de vias de pedestres, ciclovias e hidrovias, além da integração da natureza por meio de corredores ecológicos. Deve-se considerar, especialmente, as ciclovias (existentes e projetadas) que ligam este espaço aos parques: Vivencial do Lago Norte, Olhos D’água, Burle Marx e Nacional de Brasília, além da Estação Experimental da UnB. O Estuário do Córrego Bananal, que se caracteriza como um corredor ecológico que liga o Parque Nacional de Brasília à ponta norte do Lago Paranoá, deve ser conservado, recuperado em alguns pontos e protegido.

4. Cultura
Que tenha uma programação cultural que privilegie artistas locais e preveja a diversidade artística (música, teatro, saraus), a exemplo do que ocorre no CCBB.

5. Lazer, Esporte e Turismo
A parte do espelho d’água nesta ponta norte do lago deve ser voltada para a prática de atividades aquáticas não motorizadas, como SUP (stand up padlle), remo, canoísmo, windsurf e outras pequenas embarcações à vela. E, também, os passeios de pedalinhos. Embarcações motorizadas só poderiam chegar até o atracadouro do “Porto” do Pontal Norte, que já existe. A pesca amadorística deve ser melhor planejada e controlada. As vias de pedestres e ciclovias serão priorizadas em todo o Espaço do Pontal Norte, que terá adaptações para cadeirantes e deficientes visuais. Previsão de construção em local apropriado de uma pista de skate em dimensões que permitam a prática de skate tanto para o lazer, como para competições. Delimitação de espaços para piqueniques na extensa área gramada contígua às quadras 216 e 416 Norte.

6. Gastronomia Orgânica
A alimentação a ser oferecida no Espaço Pontal Norte será orgânica, tanto de origem vegetal como animal, que privilegie a culinária regional e que utiliza produtos do cerrado. Previsão de construção de quiosques ou estruturas similares de tamanho reduzido, com arquitetura harmônica, para abarcar o maior número possível de opções de refeições orgânicas e diferentes estabelecimentos comerciais.

7. Proteção da Natureza
Devem ser previstos trabalhos contínuos de educação ambiental integrados com o Parque Vivencial do Lago Norte e com a Estação Experimental da UnB, bem como ações de recuperação e conservação da natureza.

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