Coronavírus

Covid-19: GDF planeja começar a vacinação na próxima quarta-feira

Seguindo calendário divulgado pelo Ministério da Saúde, DF marca início da campanha de imunização contra a covid-19 para a quarta-feira. Quando as doses chegarem, secretaria garante ter condições de levá-las aos pontos de aplicação em 24 horas

Ana Isabel Mansur
postado em 16/01/2021 06:00 / atualizado em 16/01/2021 10:27
 (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)
(crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

A poucos dias do início da vacinação contra a covid-19 anunciado pelo Ministério da Saúde, o Governo do Distrito Federal planeja cenários diversos e garante que a logística necessária para distribuir e aplicar as doses está montada. “Estamos trabalhando por cenários. Estamos preparados para receber tanto 10 mil unidades quanto 3 milhões”, afirma o secretário adjunto de assistência substituto da Secretaria de Saúde, Alexandre Garcia.

Apesar de ainda não saber qual, ou mesmo se as duas opções — a vacina de Oxford/AstraZeneca e a CoronaVac — serão aprovadas, o Ministério da Saúde prevê o início da campanha de vacinação contra a doença para a próxima quarta-feira. Seguindo a decisão, a Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) marcou o começo da imunização na capital para o mesmo dia.

No entanto, a pasta não sabe quantas doses serão enviadas pelo Ministério da Saúde. “O DF está pronto. Quando o ministério liberar as doses, em 24 horas conseguimos deixar cada unidade em sua respectiva sala de vacinação”, garante Alexandre Garcia. O Plano Estratégico e Operacional da Vacinação contra a Covid-19 no Distrito Federal estabelece que serão mobilizados 1,5 mil profissionais, em 169 salas de vacina, espalhadas nas sete regiões de saúde. Todos os pontos, de acordo com o GDF, foram equipados, neste ano, com 183 câmaras frias científicas para armazenamento de imunobiológicos. O treinamento dos servidores da Saúde que farão a aplicação da vacina começa segunda-feira, às 8h.

“A estrutura toda está montada, tudo que é necessário, seja qual tipo de vacina for, está pronto”, ressalta o gestor. A expectativa da secretaria é de que sejam enviadas, em um primeiro momento, 200 mil doses. “É a capacidade de pessoas que conseguimos imunizar por semana”, afirma Garcia.

Ontem, o governador Ibaneis Rocha (MDB) pediu ao secretário de Saúde do DF, Osnei Okumoto, que incluísse professores e agentes de segurança e de salvamento de volta aos grupos prioritários. O Plano Distrital de Vacinação tinha sido atualizado, após mudanças do Ministério da Saúde, alterando de quatro para três as fases de prioridade da imunização, e deixando de fora do cronograma inicial servidores da educação e da segurança.

O retorno desses profissionais à lista de prioridade, em um quarto grupo, acrescenta cerca de 78,3 mil pessoas ao processo inicial de imunização no DF. De acordo com Alexandre Garcia, a proposta é incluir professores das redes pública e privada, além de policiais e bombeiros. Ele calcula que os agentes de segurança e de salvamento somem cerca de 13 mil pessoas. “Não serão todos os agentes (de segurança), mas aqueles que têm atuado na linha de frente. São cerca de 8 mil policiais e entre 4 e 5 mil bombeiros”, explicou. O mesmo valerá para os profissionais da saúde, incluídos no primeiro grupo prioritário de vacinação.

O GDF contabiliza 202,3 mil pessoas, na primeira fase do plano de imunização, que inclui trabalhadores de saúde, pessoas maiores de 75 anos e idosos acima de 60 anos que vivem em instituições de longa permanência, como asilos e hospitais psiquiátricos. O segundo grupo é composto por 265,3 mil pessoas, entre 60 e 74 anos. A terceira fase é composta por 150,2 mil pessoas, que apresentam comorbidades como diabetes mellitus, hipertensão arterial grave, doença pulmonar obstrutiva crônica, doença renal, doenças cardiovasculares e cerebrovasculares, indivíduos transplantados de órgão sólido, anemia falciforme, câncer e obesidade grave. Ao todo, o GDF calcula que os grupos prioritários somem cerca de 700 mil pessoas.

Oxigênio disponível

A Secretaria de Saúde afirmou que a população do DF não precisa se preocupar com uma possível falta de cilindros de oxigênio nos hospitais públicos da cidade, como aconteceu no Amazonas. Segundo a pasta, a capital federal está abastecida, e “o quantitativo de oxigênio é suficiente para atender toda rede pública”.

Entre quinta-feira e ontem, o DF recebeu pacientes de covid-19 transferidos de Manaus (AM), uma vez que o sistema de saúde da capital amazonense está em colapso e sem o insumo. A secretaria detalhou que o contrato do DF não é por quantitativo de cilindros. “A SES/DF paga pelo metro cúbico abastecido. Houve aumento de consumo de 2019 para 2020, mas foi aditivado ao contrato para não ocorrer desabastecimento”, completou a pasta.

Cuidados continuam

Mesmo que cerca de 23% da população brasiliense seja imunizada, as medidas de segurança não devem ser abandonadas após o início da vacinação. “É muito importante que a população esteja bem ciente do que implica (o início da vacinação) em relação aos cuidados que temos que manter”, afirma Fredi Quijano, professor associado do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP/USP).

“Analisando os resultados, temos observado que os imunizantes têm conseguido reduzir e prevenir a maioria dos casos sintomáticos. São notícias ótimas, porque a implementação dessas vacinas poderá descongestionar o serviço de atenção em saúde e as UTIs e, logicamente, diminuir a mortalidade em decorrência da doença”, avalia o professor.

Quijano acrescenta que o efeito dos imunizantes para cortar a transmissão de infectados assintomáticos ainda é desconhecido. “Os estudos sugerem que ainda haverá o risco de a pessoa, mesmo estando protegida para desenvolver formas graves da doença, transmitir o vírus para outra, que, se não estiver vacinada, poderá ter a covid-19, inclusive com risco de complicações e de morte”, detalha.

As medidas preventivas que têm sido tomadas desde o início da pandemia, como evitar aglomerações, manter o distanciamento social, usar máscara de proteção facial e lavar e higienizar, frequentemente, as mãos com álcool em gel, deverão ser mantidas. “Até que não haja uma cobertura próxima de 100% da população factível, o mais recomendado é manter as medidas básicas de segurança”, informa Quijano.

Entendendo a importância de receber o imunizante, mesmo tendo sido infectada pelo novo coronavírus, em outubro de 2020, a dona de casa Lais Heler, 32 anos, conta que vai tomar a vacina. “Depois de ter contraído a doença, fiquei ainda mais preocupada. São muitas cepas e não sabemos como serão os sintomas se pegar novamente, mesmo com a vacina”, afirma.

Maria do Socorro da Paz, 63 anos, mal vê a hora de ser vacinada. “Vou continuar tomando todos os cuidados (mesmo depois de vacinada). A minha vida toda, eu soube que tomar vacina é a salvação. Estou torcendo muito, soltei fogos, hoje, com a possibilidade de a vacinação começar quarta-feira”, relata a moradora de Sobradinho. “Se me falarem que fui sorteada e que serei a primeira a tomar, seria lindo, iria com toda a certeza. Tem pessoas assustadas com a questão da velocidade (da produção da vacina), mas mudou muito, a ciência e a medicina evoluíram”, argumenta.

Estudos

O infectologista Gustavo Romero, diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB) e coordenador do ensaio clínico da CoronaVac feito no Distrito Federal, endossa as recomendações de manter as medidas de segurança. “Pessoas vacinadas podem, eventualmente, ter infecções mais leves, que podem ser passadas a terceiros, por isso as medidas devem continuar, até que a maior parte da população esteja vacinada e até que tenhamos a imunidade de rebanho”, alerta Gustavo.

Em relação ao estudo com a vacina CoronaVac, o coordenador informa que houve a inclusão de pacientes com 60 anos ou mais na pesquisa, nesta semana, e que, a depender da decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a respeito do uso emergencial do imunizante, haverá a avaliação da inserção de novos participantes. “A pesquisa foi planejada para acompanhar todos os participantes do estudo por 12 meses. Nosso compromisso, independentemente do que a Anvisa vai dizer domingo (amanhã), é continuar esse acompanhamento até que todos tenham o período concluído”, descreve o professor.

Mariana Rodrigues, 29 anos, é enfermeira e foi a segunda pessoa a tomar a CoronaVac em teste no DF, em 5 de agosto. Ela relata que sentiu os sintomas leves da doença, como dor no corpo e abdominal, mal-estar geral e fraqueza. A servidora do Hospital Universitário de Brasília (HUB) tomou a segunda dose depois de 15 dias. “Existe uma possibilidade de ter sido placebo, mas não sabemos, por conta do duplo cego. Torço muito para que tenha sido a vacina, até porque estamos lidando o tempo todo com a covid-19”, relata a voluntária. Para ela, a vacinação é essencial para amenizar formas graves da doença. “É muito importante que as pessoas comecem a ser vacinadas”, avalia.

Colaborou Samara Schwingel

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Plano de vacinação do DF

1ª fase: trabalhadores de saúde, pessoas maiores de 75 anos e idosos com 60 anos ou mais em instituições de abrigo: 202,3 mil pessoas

2ª fase: idosos entre 60 e 74 anos: 265,3 mil pessoas

3ª fase: pacientes com comorbidades: 150,2 mil pessoas

4ª fase: professores e agentes de segurança: 78,3 mil pessoas

Total vacinados: cerca de 700 mil pessoas — 23% da população do DF

Vacina russa em produção no DF

A produção industrial da vacina russa contra a covid-19, a Sputnik V, teve início ontem no Distrito Federal. A informação foi confirmada pela farmacêutica União Química, responsável pelo imunizante na América Latina. Apesar de a produção local, inicialmente, as doses serão exportadas para países que já registraram o imunizante, como Argentina e Bolívia. Para o primeiro trimestre de 2021, a empresa calcula produzir 10 milhões de dose.

Para a distribuição e uso em território nacional, é necessário que a empresa tenha autorização da Anvisa, que recebeu o pedido de realização de testes em 29 de dezembro. “Iniciamos todos os processos de produção da Sputinik V em nossa fábrica de biotecnologia no DF. Estivemos em Moscou, esta semana inteira, exatamente para validar os processos industriais e dar continuidade à transferência de tecnologia entre Instituto Gamaleya e União Química”, detalhou Rogério Rosso, diretor de Negócios da farmacêutica. A empresa tem 7 mil colaboradores no Brasil.

“Dada a prioridade para produção da vacina, parte da estrutura e infraestrutura, inclusive de recursos humanos da empresa, está sendo alocada para a produção do imunizante”, explicou Rosso, completando que, uma vez autorizada pela Anvisa, a produção será prioritariamente para o Programa Nacional de Vacinação contra a covid-19 do Ministério da Saúde. (AIM)

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