Coronavírus

Vacinação traz esperança a idosos que vivem em instituições de acolhimento

Idosos em instituição de acolhimento encaram com otimismo a chegada da vacina contra o novo coronavírus. Sem visitas de familiares e sem poder sair, o início da imunização trouxe um motivo para comemorar. No entanto, não é hora de relaxar os cuidados

Cibele Moreira
postado em 23/01/2021 06:00
 (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

A população idosa é uma das mais vulneráveis à pandemia do novo coronavírus. Integrando o grupo com maior letalidade pela doença, pessoas acima dos 60 anos tiveram de se adaptar a ver filhos, netos, bisnetos por uma tela de celular ou a distância, sem abraço e calor humano. Essa mudança, tão brusca, diante da incerteza e do medo da covid-19 foi sentida sobretudo por aqueles que vivem em instituições de acolhimento, como asilos e casas de repouso. Nesses locais, a convivência com outras pessoas ficou restrita para assegurar a saúde dos acolhidos.

No Lar dos Velhinhos Bezerra de Menezes, em Sobradinho, os últimos 11 meses foram difíceis. O espaço perdeu seis idosos por complicações da doença e registrou 45 casos de infecção, entre cuidadores e residentes. “Foi muito complicado para nós, cuidadores, eles são parte da nossa família. A vacina chegou como uma esperança e um alívio para garantir a saúde deles. Eu digo que 2021 já começou com um motivo para comemorar, como se fosse uma celebração de aniversário”, relata Ana Cláudia Matos Sousa, 42 anos, cuidadora na instituição.

Para Manuel Quirino, 76, que vive há 10 anos no Lar dos Velhinhos, a imunização contra a covid-19 representa o retorno da liberdade dele. “Estou com saudade de sair, ver minha família, os amigos. Acredito que, depois da segunda dose, isso será possível”, conta o aposentado. Ele sempre liga para os familiares para saber como estão. “A primeira coisa que vou fazer, assim que for seguro, é marcar um encontro para ver todos eles”, afirma Quirino, que tem duas filhas, 10 netos e sete bisnetos.

Com a sensibilidade do cenário de pandemia, Manuel preocupa-se com as outras pessoas que não estão na primeira fase de vacinação. “A gente se preocupa. É muita gente para ser vacinado, e, todo dia, morre um bocado, em todo país. O meu desejo é que todos possam ser imunizados o mais rápido possível”, destaca. Manuel viu de perto colegas partirem pela doença e enfrentou a aflição de ter uma filha internada por conta da covid-19. No entanto, mesmo com a chegada da vacina, os cuidados continuam. “Aqui, é obrigatório o uso de máscara e o álcool em gel. Tomamos todos os cuidados possíveis. A cisma de pegar é grande”, relata o aposentado.

Ana Cláudia explica que a instituição tem redobrado as medidas de segurança sanitária. “Na entrada, a gente escova os sapatos, higieniza as mãos e toma banho antes de ter contato com os residentes. Até os uniformes são lavados aqui, para não ter risco de contaminação externa”, conta. Quando houve o surto dentro da unidade, alguns dos acolhidos foram encaminhados para casa de parentes. “Tudo foi feito pensando neles, na saúde deles. Até a nossa rotina fora da instituição mudou. Procuro não ir em festas e seguir todas as medidas de segurança, pois estamos lidando, diariamente, com a vida de idosos, que estão mais sensíveis à doença”, ressalta. Sobre a possibilidade de retorno das visitas após a segunda dose do imunizante, Ana Cláudia diz que tudo será analisado. “Não podemos garantir nada, temos que estudar se será seguro para eles (idosos) primeiro. Acreditamos que esses encontros sejam liberados logo, mas com toda a segurança”, pontua.

O Lar dos Velhinhos Bezerra de Menezes recebeu a primeira dose da CoronaVac ontem. Durante a ação coordenada pela Secretaria de Saúde, foram imunizadas 110 pessoas, entre idosos e cuidadores. A acolhida mais velha da instituição a receber a vacina foi Francisca Alves Xavier, de 103 anos.

Primeira imunizada

Moradora do Lar dos Velhinhos Maria Madalena, no Núcleo Bandeirante, Glória Neri, 93 anos, foi a primeira idosa a receber a vacina no Distrito Federal, na última terça-feira. “Eu gostei tanto, mas tanto, de receber a vacina que até parece um sonho”, relata. A acolhida conta que passou a dormir melhor após receber a dose do imunizante. “Fez bem para a alma”, afirma. A segunda pessoa a ser vacinada na instituição foi Gracy Alves de Oliveira, 91. “Eu me senti muito feliz em poder colaborar de alguma forma, mesmo no fim da vida, para amenizar a situação do nosso país e do mundo inteiro”, destaca Gracy.

Natural de Manaus, ela tem acompanhado a situação da terra natal. “Estou muito triste. Infelizmente, os governos são os maiores culpados pelo que está acontecendo. Ainda bem que tem gente que está ajudando. Eu admiro demais as pessoas que estão preocupadas em ajudar, isso é muito lindo”, avalia.

Ao todo, no Lar dos Velhinhos Maria Madalena, foram imunizados 121 idosos e 91 cuidadores. A Secretaria de Saúde informou ao Correio que, entre terça e quinta-feira, 16 das 28 unidades de acolhimento para idosos e pessoas com deficiência do Distrito Federal receberam as doses da vacina CoronaVac.

Recomendações

Infectologista do Hospital Regional da Asa Norte (Hran), Joana Darc Gonçalves ressalta que, mesmo com a chegada das doses da vacina, os cuidados de prevenção não devem ser deixados de lado. “Principalmente, para essa população em instituições de longa permanência. A gente sabe que a letalidade, nesses locais, é maior, por isso, as medidas de proteção devem ser reforçadas, como a continuidade do uso de máscara, o distanciamento entre os idosos e ter um controle no número de visitas”, enumera. De acordo com a médica, o ambiente ficará seguro quando houver a imunidade de toda a população. “A gente sabe que a eficácia da vacina é variada, que temos variantes, e os riscos existem. A boa notícia é que terá internações com menor índice de letalidade”, destaca.

Para a infectologista, a vacina traz um pouco mais de segurança, mas não representa a imunização total. Dessa forma, os cuidadores devem ficar atentos aos sintomas não tão comuns da covid-19 e que podem aparecer nos idosos acolhidos. “O cuidador tem que ser mais atento, durante e após a vacina”, finaliza.

Cobertura segura

Para preservar a saúde dos idosos que conversaram com o Correio, o jornal seguiu todas as medidas de segurança sanitária. As entrevistas foram feitas por telefone, e o repórter fotográfico manteve-se a mais de 3 metros de distância de Manuel Quirino, ao registrar a imagem do aposentado. Além de usar máscara.

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