Pandemia

Avanço da vacinação no DF depende de informações do Ministério da Saúde

A Secretaria de Saúde recebeu sinalização de que mais doses dos imunizantes devem ser enviadas em 23 de fevereiro. No entanto, a data pode ser antecipada ou adiada, e a quantidade para a capital é incerta. GDF não tem previsão de ampliar a campanha

Samara Schwingel
Larissa Passos
postado em 10/02/2021 06:00 / atualizado em 10/02/2021 16:20
"A sensação é que, agora, eu posso começar a viver, por conta dessa pandemia não é fácil ficar preso dentro de casa", conta Laércio Trentini, 79 anos - (crédito: Ana Rayssa/CB/D.A Press)

Apesar de a chegada, no Brasil, prevista para esta quarta-feria (10/2), de mais 5,6 mil litros do ingrediente farmacêutico ativo (IFA) da CoronaVac — quantidade suficiente para que o Instituto Butantan (SP), desenvolvedor do imunizante junto à farmacêutica chinesa Sinovac, produza 8,7 milhões de doses —, a Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES) recebeu a informação do governo federal de que somente em 23 de fevereiro mais unidades da vacina contra a covid-19 serão enviadas para o DF. Fontes da pasta ouvidas pelo Correio afirmam que os gestores da Saúde estão em negociações com o ministério para que as doses enviadas sejam suficientes para se avançar na vacinação. Porém, a data para a ampliação e a definição de quais grupos serão incluídos no processo dependem de quando e quantas unidades dos imunizantes serão encaminhadas ao DF. Até essa terça-feira (9/2), 105.481 pessoas foram vacinadas — o que representa 3,45% da população da capital —, sendo que 2.066 receberam a segunda dose da CoronaVac.

José Adalberto Fernandes, 79 anos, morador da Asa Norte, se vacinou nessa terça-feira, na Unidade Básica de Saúde (UBS) 114/115 Norte. “Eu não tive medo. Eu estou feliz de ter sido vacinado. Eu espero que todos se vacinem. Vamos acabar com esse vírus”, diz. José conta que seguiu todos os protocolos de segurança durante a pandemia e afirma que vai continuar se protegendo. “Mantive o que os profissionais recomendaram, como ficar mais em casa, usar máscara, passar álcool nas mãos e só sair quando necessário”, completa.

Laércio Trentini, 79, morador da Asa Sul, foi à UBS da Quadra 612 Sul para receber a primeira dose da vacina. O idoso relata que familiares contraíram a covid-19. “Graças a Deus, ninguém morreu, e eu não peguei”, ressalta. Como faz parte do grupo de risco, devido a idade, Laércio vê na vacina a esperança de dias melhores. “A sensação é que, agora, eu posso começar a viver, por conta dessa pandemia não é fácil ficar preso dentro de casa”, conta. A expectativa dos gestores da Saúde é finalizar a aplicação da primeira dose em idosos com 79 anos em até duas semanas.

Atendimento

Durante o primeiro dia de vacinação ampliada para os idosos com 79 anos, a força-tarefa de combate à pandemia do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) realizou visitas na Unidade Básica de Saúde n° 1, da 612 Sul, no drive-thru do Parque da Cidade e na UBS n° 1 de Taguatinga para avaliar o andamento do processo. Segundo o coordenador do grupo, o procurador de Justiça José Eduardo Sabo Paes, a aplicação ocorreu de forma ágil nos três pontos visitados. “Nós estamos presenciando que o atendimento aos idosos de 79 anos está sendo muito rápido. Não há, sequer, fila de espera. Mais de 120 pessoas foram atendidas”, revelou o procurador.

Muitas pessoas com menos de 79 anos compareceram às unidades de saúde procurando pelo imunizante contra a covid-19, mas eram orientadas pelas equipes de atendimento a retornarem para casa. O aposentado Luís Brito, 77, morador da Asa Norte, adianta que será um dos primeiros na fila de vacinação quando chegar a hora. “É a única segurança e saída que temos, até o momento, para esta pandemia. Desde o início, precisei adaptar minha rotina e mudar muita coisa por causa desse vírus. Além disso, perdi quatro amigos para a doença. Estar perto do fim me anima muito”, avalia.

Próximas fases

Para ampliar a vacinação, a SES aguarda o repasse de mais doses pelo Ministério da Saúde. Segundo fontes da secretaria, a próxima data para o envio de mais doses é 23 de fevereiro. No entanto, este prazo pode ser mudado. O que se sabe, até o momento, é que a SES tem a intenção de, assim que receber mais imunizantes, ampliar a vacinação para idosos a partir de 75 anos; pessoas com 60 anos ou mais; professores e agentes de segurança pública, e portadores comorbidades. Ainda não há uma ordem definida pela pasta.

Nessa terça-feira, a Secretaria de Saúde informou que pretende inserir os cerca de 10 mil dentistas atuantes, no DF, no grupo prioritário de vacinação, junto aos profissionais de saúde que ainda não foram vacinados, logo após o fim da campanha para os idosos. Porém, a pasta não estabeleceu uma data e reforçou que tudo depende do Ministério da Saúde.

Na última sexta-feira, os centros acadêmicos de seis universidades de medicina da capital enviaram um ofício à SES pedindo a inclusão de alunos em estágio curricular obrigatório e daqueles com atividades práticas regulares em unidades de saúde na vacinação prioritária. O documento foi assinado pelos centros acadêmicos da Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS), do Centro Universitário de Brasília (UniCeub), Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos (UniCeplac), Centro Universitário Unieuro (Unieuro), da Universidade Católica de Brasília (UCB) e Universidade de Brasília (UnB).

O Uniceub esclareceu, por meio de nota, que está seguindo as recomendações do Ministério da Saúde com os protocolos sanitários para as aulas, pois temos como prioridade a segurança e saúde dos alunos. Além disso, a universidade afirma que acionou a Secretaria de Saúde sobre o requerimento, e a resposta foi  que as definições do calendário de imunização é de responsabilidade do Plano Nacional de Imunização, seguindo uma lista de prioridades, incluindo os alunos de Medicina do CEUB com estágio em campo.

Por meio de nota oficial, a Saúde informou que “entende a preocupação dos internos, no entanto, o número de doses recebidas do Ministério da Saúde é pequeno e, por isso, é necessário priorizar aqueles grupos em que a doença se apresenta com quadro clínico mais grave e uma probabilidade de óbito maior, o que é o caso dos idosos.”

O Ministério da Saúde explicou, em nota oficial, que a distribuição das doses é dinâmica, mas não definiu a quantidade a ser enviada para o DF.

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Agilidade é fundamental

Quando avançamos na vacinação mais rápido, temos uma diminuição, também, mais rápida da transmissão do vírus. E isso é importante pois, quanto mais tempo o vírus circula maior a capacidade de mutação dele e maior a chance dele se adaptar e não ser mais atingido pelos imunizantes que temos disponíveis. Por isso, seria interessante avançar na vacinação o quanto antes. Porém, como nosso país se atrasou em relação ao planejamento e às compras das vacinas, acredito que não será possível acelerar este processo agora. Além disso, a produção não é tão ágil e, no momento, nós não temos muitos insumos. Todos esses fatores nos atrasaram um pouco no processo de imunização da população. Acredito que só vamos atingir o ideal de 80% da população imunizada, ou seja, com as duas doses da vacina aplicadas, no próximo ano. Mas, claro que tudo depende de quantas doses serão enviadas na próxima etapa e como os gestores da Saúde vão dividi-las.

Joana D’arc Gonçalves, infectologista do Hospital Regional da Asa Norte (Hran)

Grupos prioritários

Veja quem pode se vacinar contra a covid-19 no DF:

» Todos os profissionais da ativa na rede pública de saúde, em todos os níveis de atenção à Saúde;
» Servidores da atenção hospitalar da rede particular, além dos trabalhadores do Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (Iges-DF);
» Idosos a partir de 60 anos e pessoas com deficiência que vivem em unidades de acolhimento, cuidadores que atuam nessas instituições;
» Povos indígenas que vivem em terras indígenas;
» Pacientes internados em Home Care
(SAD-AC — pacientes de alta complexidade, internados em casa, que são assistidos com suporte de ventilação mecânica) e pacientes internados no Núcleo Regional de Atendimento Domiciliar (AD2 e AD3 — pacientes internados em casa e acompanhados pelas equipes do Nrad da Secretaria de Saúde);
» Trabalhadores dos serviços de atenção pré-hospitalar (APH): resgatistas do Corpo de Bombeiros Militar e outras instituições privadas que prestam APH;
» Idosos de 79 anos.

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