Brasília perdeu, nesta terça-feira (23/3), o seu doutor milagreiro. Depois de lutar contra um agravamento da covid-19, Jair Evangelista Rocha não resistiu e morreu, às 15h10, no Hospital Regional de Samambaia (HRSAM), onde estava internado.
O médico dedicou 40 anos de trabalho ao Hospital de Base. Chegou à capital do país em janeiro de 1967, vindo de Minas Gerais, dirigindo um Fusca. No Planalto Central, fez residência no até então chamado Hospital Distrital. Alguns anos mais tarde, Jair se tornaria, por 22 anos, o preceptor de ensino da residência médica no hospital, além de ter atuado como coordenador de pediatria da Secretaria de Saúde por 14 anos e ter participado de várias iniciativas relacionadas a crianças e adolescentes.
O médico tinha 81 anos e lutava contra complicações causadas pelo novo coronavírus. Nos últimos dias de vida, precisava receber 100% do oxigênio e estava com a saturação em 85%. Jair havia feito uma traqueostomia no sábado (13/3) com o objetivo de regredir a inflamação dos pulmões. Contudo, o quadro não melhorou.
O pediatra era apaixonado por Brasília embora, no começo, pensasse que passaria somente alguns anos na cidade. E, claro, a capital também o gravou em seus prédios e em sua memória. O médico participou da coordenação do projeto para construção do Hospital da Criança de Brasília José Alencar (HCB) até a inauguração, em 2013. Em homenagem a ele, em 2019, a sala de simulação realística do hospital recebeu o nome de Jair Evangelista.
Casado com Jane Godoy, colunista do Correio, Jair deixa ainda três filhos, Bruno, Marcella e Régis, e dois netos.
Amor em cada gesto
Especialista em endocrinologia infanto-puberal, Jair ganhou inclusive a fama de milagreiro. Ele se lembrava com carinho de alguns casos marcantes de famílias que buscaram seu atendimento, como o de duas irmãs que vieram de Minas Gerais para o DF para uma consulta. Com a experiência, diagnosticou as meninas no corredor do hospital.
As crianças tinham 5 e 6 anos e Jair percebeu que sofriam de hipotireoidismo. As duas não andavam nem falavam, e eram levadas em uma espécie de carrocinha pela mãe. O médico, contente, contou que conseguiu internar as duas para tratamento e, depois de alguns meses, as irmãs já voltaram para o interior de Minas andando. Logo depois, diversos pacientes de vários lugares do país buscaram sua consulta devido à fama de milagreiro.
Jair não negava que amava a profissão. “Foi o passo mais acertado da minha vida. O pediatra deve entender a importância da criança nos sentidos biológico e psicossocial. Não apenas trata, mas prepara o paciente infantil para seu papel como o futuro da sociedade”.
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