Covid-19

Tenente-coronel indiciado no caso Naja está entre os que furaram fila de vacina

Caso gerou revolta e levou à exoneração do comandante-geral da PMDF, Julian Rocha Pontes; Eduardo Condi responde 23 vezes por tráfico de animais silvestres

Darcianne Diogo
postado em 02/04/2021 12:59 / atualizado em 02/04/2021 18:17
 (crédito: Ana Rayssa/CB/D.A Press - 16/7/20 )
(crédito: Ana Rayssa/CB/D.A Press - 16/7/20 )

A vacinação antecipada de integrantes de alta patente da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) causou desconforto e revolta entre os policiais da corporação. Um dos imunizados antes dos praças é o tenente-coronel Eduardo Condi, irmão do subcomandante-geral, coronel Cláudio Fernando Condi. Condi passou a atuar na área administrativa da corporação após ser indiciado no caso Naja.

O policial militar é padrasto de Pedro Henrique, o estudante de medicina veterinária picado pela serpente, e, no esquema criminoso, teria dado suporte financeiro e material para que a residência servisse de cativeiro para as cobras. O tenente-coronel responde 23 vezes por tráfico de animais silvestres, fraude processual, maus-tratos e associação criminosa.

Além dele, os vacinados identificados até o momento são o comandante-geral, Julian Rocha Pontes; o subcomandante-geral, coronel Cláudio Fernando Condi; e o subcomandante operacional do 2º Comando de Policiamento Regional, tenente-coronel Eduardo Condi. Os nomes foram confirmados por fontes militares. 

O comandante-geral da PM, Julian Pontes, se vacinou na Unidade Básica de Saúde I (UBS I) da Asa Sul na quarta-feira (31/3), o que levou a sua exoneração nesta sexta-feira (2/4). A imunização dos coronéis e comandantes ocorre devido à circular vigente da Secretaria de Saúde do DF, que prevê a vacinação de doses remanescentes, também chamadas de "xepas", nos policiais militares que fazem a segurança das vacinas, do transporte e dos locais de vacinação.

Em nota, a SES-DF informou que “esses profissionais também fazem parte do grupo de prioritários e já estarão nos locais trabalhando justamente para que a população tenha tranquilidade e segurança durante a aplicação das vacinas”.

O outro lado

Um dos acusados de furar fila, o chefe do Departamento Operacional (DOP), coronel Hemerson Rodrigues, foi enfático na resposta. “Não vacinei e não vou vacinar enquanto meu último homem não vacinar. Sou um profissional de 30 anos de carreira, sabem que eu não fiz. Todo final de semana estou na Esplanada. Quem não me conhece acha que eu tomei a vacina e, por dever moral, não faria isso e não farei. Estou com restrição (de sair de casa) porque minha esposa está grávida. Não procurei ninguém para ser vacinado. Achei isso uma injustiça como profissional”, declara.

Outro militar que nega ter furado fila da vacina para profissionais de segurança pública é o chefe do Estado Maior, coronel Marcelo Helberth de Souza. Ele esclarece que teve o nome divulgado fora do contexto. “A informação que tenho é que inseriram o meu nome num contexto que desconheço por completo, visto que não tomei vacina alguma. O fato é que estou afastado com suspeita de covid-19, o que acabou não se confirmando. Em nenhum momento tomei vacina. Não posso falar do nome dos demais, mas da minha parte eu esclareço que não tomei vacina alguma, mesmo que estivesse apto, não teria tomado”, expõe o militar.

Revolta

O deputado e bombeiro militar Roosevelt Vilela (PSB) gravou um vídeo em que considerou a situação como “inacreditável e inadmissível”. “Isso (vacinação antecipada) é um desrespeito aos mais de 20 policiais militares que perderam a vida para a covid-19. Enquanto você, policial da ativa, está no enfrentamento e na defesa da sociedade, o comandante-geral de gabinete fura fila da vacina”, disse.

O parlamentar afirmou que acionará o Artigo 101 da Lei Orgânica, que prevê, por meio da Câmara Legislativa do DF, o afastamento imediato dos gestores. Afirmou, ainda, que estará representando uma queixa-crime, exigindo que a Corregedoria da PM abra um conselho de justificação contra os oficiais. “Essas são ações efetivas e enérgicas no sentido de manter a moral e respeito de cada um desses PMs, que diuturnamente defendem a sociedade”, frisou.

A reportagem procurou o subcomandante-geral da PM, coronel Cláudio Fernando Condi, para se posicionar sobre a acusação, mas não obtivemos resposta até a publicação desta matéria. O mesmo ocorreu com o subcomandante operacional do 2º Comando de Policiamento Regional, tenente-coronel Eduardo Condi. O espaço segue aberto para ambos se pronunciarem sobre o assunto.

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