DESOCUPAÇÃO

Psol denuncia Ibaneis à PGR por abuso de autoridade em derrubadas na L4 Norte

Durante demolição de escola na região, nesta quarta-feira (7/4), quatro manifestantes acabaram presos. Outros três processos contestam a ação, mas no Supremo Tribunal Federal (STF)

Luana Patriolino
postado em 08/04/2021 00:04 / atualizado em 08/04/2021 00:05
Ação mais recente ocorreu nesta quarta-feira (7/4) -  (crédito: Reprodução)
Ação mais recente ocorreu nesta quarta-feira (7/4) - (crédito: Reprodução)

A bancada do Partido Socialismo e Liberdade (Psol) apresentou denúncia por abuso de autoridade contra o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB). O documento foi apresentado à Procuradoria-Geral da República (PGR). A ação decorreu da prisão de quatro pessoas que protestavam contra a derrubada da Escolinha do Cerrado, na ocupação ao lado do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), na L4 Norte. O ato ocorreu nesta quarta-feira (7/4), por volta das 17h, mas os manifestantes só foram soltos por volta das 22h.

Para os parlamentares que protocolaram a denúncia, houve abuso e violência por parte do Executivo local na remoção das famílias que ocupavam a região. "Retirá-las de casa em pleno pico da pandemia é uma crueldade absurda contra a vida dessas pessoas. Estamos em um momento sem vagas em UTIs (unidades de terapia intensiva) nos hospitais para tratar a covid-19 e a prioridade de Ibaneis Rocha é desabrigar mais de 30 pessoas, destruir uma escolinha e tratorar várias moradias", disse a líder do Psol na Câmara federal, deputada Talíria Petrone (RJ). 

Agentes da Secretaria de Proteção à Ordem Urbanística (DF Legal), com o apoio da Polícia Militar (PMDF), demoliram a escola na tarde desta quarta-feira (7/4). A ação ocorreu dois dias após a retirada das casas do local. O colégio recebia 18 crianças.

Vídeos gravados por manifestantes mostram o momento da destruição do colégio (assista abaixo). Em outro vídeo, um ativista aparece dentro da escola, tentando negociar com policiais e agentes. Os apoiadores também fizeram um grito de guerra pela defesa das moradias.

  • Moradores da ocupação do CCBB resistem à derrubada dos barracos
    Moradores da ocupação do CCBB resistem à derrubada dos barracos Ed Alves/CB/D.A Press
  • Desocupação de barracos no CCBB
    Desocupação de barracos no CCBB Ed Alves / CB / DA Press
  • Desocupação de barracos no CCBB
    Desocupação de barracos no CCBB Ed Alves / CB / DA Press
  • DF Legal realiza força tarefa para demolir ocupações próximo ao CCBB
    DF Legal realiza força tarefa para demolir ocupações próximo ao CCBB Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
  • DF Legal realiza força tarefa para demolir ocupações próximo ao CCBB
    DF Legal realiza força tarefa para demolir ocupações próximo ao CCBB Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
  • DF Legal realiza força tarefa para demolir ocupações próximo ao CCBB
    DF Legal realiza força tarefa para demolir ocupações próximo ao CCBB Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
  • DF Legal realiza força tarefa para demolir ocupações próximo ao CCBB
    DF Legal realiza força tarefa para demolir ocupações próximo ao CCBB Marcelo Ferreira/CB/D.A Press

Terreno do GDF

Na segunda-feira (5/4), cerca de 60 pessoas resistiram à retirada dos barracos da região e fizeram um cordão em torno da escola voluntária. Servidores da Companhia de Desenvolvimento Habitacional do Distrito Federal (Codhab) estiveram no local e conversaram com os ocupantes. A escola havia ficado de pé, mas, na ação mais recente, acabou derrubada. "Trata-se de uma ação ilegal, imoral e desumana, em meio a uma epidemia que ceifou a vida de mais de 320 mil brasileiros", destaca um trecho da denúncia apresentada à PGR.

Em nota, o Governo do Distrito Federal (GDF) informou que a estrutura servia como sede de uma "organização não-governamental, em uma ocupação próxima ao Palácio do Jaburu". O comunicado também fala da prisão de quatro pessoas, que teria ocorrido por causa de "desobediência". "O terreno é do GDF e não há previsão de moradias no local. Um total de 15 candidatos em situação de vulnerabilidade na região foram convocados, via publicação no Diário Oficial, em 25 de março, para fazer inscrição eventual e apresentação de documentos à Codhab. Porém, até o momento, nenhum apresentou documentação", diz o texto.

Autorização

A desocupação e o despejo tiveram autorização do presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), o ministro Humberto Martins, na sexta-feira (2/4). Agora, a decisão é contestada no Supremo Tribunal Federal (STF) em três outros processos, apresentados pelas defensorias públicas da União (DPU) e do Distrito Federal (DPDF), bem como pelo Psol.

A ação da DPU contesta a competência do STJ para suspender a liminar. Já a reclamação do Psol questiona a aplicação da Lei Distrital nº 6.657/2020, que proíbe remoções forçadas de ocupações anteriores à pandemia. "Infelizmente, o GDF tem desrespeitado sistematicamente essa lei, e estamos batalhando para que ela continue em vigor", ressaltou o deputado distrital Fábio Félix (Psol).

Nesta terça-feira (6/4), o governador Ibaneis Rocha (MDB), manifestou-se sobre o assunto. Por meio do Twitter, o chefe do Palácio do Buriti afirmou que as desocupações ocorreram após uma determinação judicial. "É obrigação do governo cumpri-las e, como governador e advogado, obedeço a lei. A cidade precisa de ordem, e manteremos uma vigilância permanente para evitar novas ocupações", escreveu no post.

Ibaneis acrescentou que todas as famílias da região são atendidas pelo Centro de Referência e Assistência Social (Cras) e beneficiárias do programa Bolsa Família. O governador disse ainda que houve "oferta de abrigo" em uma das casas de passagem do Distrito Federal. "Inclusive, neste fim de semana, abrimos 50 vagas na unidade do Guará, a terceira inaugurada neste ano", comentou o mandatário pela internet.

 

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