COTIDIANO

DF registra alta incidência de carrapatos com a chegada da seca

Capivaras são um dos principais hospedeiros, e brasilienses registram aumento de picadas nesta época do ano

Ana Maria da Silva
postado em 05/05/2021 06:00
O empresário André Coelho foi recentemente picado por um carrapato na Orla do Lago Paranoá -  (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
O empresário André Coelho foi recentemente picado por um carrapato na Orla do Lago Paranoá - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Os brasilienses que gostam do contato com a natureza, seja frequentando cachoeira, parque ou fazendo turismo ecológico, precisam ficar atentos. Além da baixa umidade, a chegada da seca no Centro-Oeste traz outra preocupação: o aparecimento de carrapatos. A partir do mês de maio, aumenta o risco de picadas desses ácaros, que podem gerar coceiras e, até mesmo, reações inflamatórias, sendo necessário o uso de antibióticos.

Foi o que aconteceu com o empresário e praticante de kitesurf André Coelho Araújo, 34 anos, que recentemente foi picado por um carrapato na Orla do Lago Paranoá. “Sempre que tem vento vou pra lá. Costumo velejar próximo à Concha Acústica”, diz. Na última semana, André aproveitou a ventania na capital para velejar. “No sábado, deu uma diminuída no vento, e fiquei na grama da orla de 8h até 12h. Arrumei o equipamento e fui embora pra casa”, explica.

No mesmo dia, o empresário começou a sentir coceira na perna. “Pensei que não fosse nada, até que no dia seguinte a coceira aumentou e abriu feridas. A dermatologista explicou que à medida que vai coçando, vai espalhando a bactéria para outros locais, levando sujeira e abrindo buracos na perna”, ressalta. Além da coceira, André diz que as feridas começaram a ter pus, enquanto fazia uso de uma pomada cicatrizante. As feridas só melhoraram após André fazer uso de antibiótico durante sete dias. “É preciso ter controle. A dermatologista comentou que, aqui no DF, muitos casos de picada de carrapato e pulga estão aparecendo”, pontua.

De abril a julho, é comum encontrar larvas de duas espécies de carrapatos, sendo elas Amblyomma_sculptum e Amblyomma_dubitatum. Na fase inicial, eles são larvas, que irão se transformar em ninfas e mudam para adultos jovens, que amadurecem sexualmente e se transformam em machos e fêmeas, conforme explica o professor responsável pelo Laboratório de Parasitologia e Doenças Parasitárias, da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília (UnB), Gino Chaves da Rocha.

Capivaras

De acordo com o especialista, essas espécies de carrapatos parasitam o corpo de capivaras e podem deixar seres humanos expostos ao parasitismo. “As capivaras são conhecidas como animais de vida livre, e se aproximam do ambiente humano, como é o caso do DF. Próximo à Orla do Paranoá, existem muitas residências, que proporcionam o ambiente perfeito para esses animais, uma vez que tem a água e hortas ou vegetações, que servem de alimentação para eles”, pontua.

Segundo o professor, os carrapatos são vorazes tanto para o corpo humano quanto para os animais. “No caso do homem, a própria picada já causa uma reação inflamatória, porque a saliva do carrapato tem componentes que estimulam isso. Agora, imagina se for alérgico? A coisa complica, porque você vai desenvolver uma reação de hipersensibilidade, que pode ocasionar uma reação inflamatória no local da picada. Vai coçar muito e, por isso, abre feridas, que podem predispor o aparecimento de infecções bacterianas”, acrescenta.

De acordo com Gino, nos últimos anos muitos falam da doença do carrapato, conhecida como febre maculosa brasileira. Porém, existem estudos recentes que comprovam que os carrapatos das capivaras do DF não possuem Rickettsia rickettsii, bactéria responsável pela transmissão da febre maculosa brasileira. Sendo assim, a Secretaria de Saúde enfatiza que todo o manejo das áreas e animais com carrapatos deve ser acompanhado de um profissional, e em nenhuma hipótese o animal deve ser abatido indiscriminadamente. Tanto os maus-tratos ou morte de animais domésticos e silvestres são crimes previstos em lei. A capivara é um animal silvestre e protegido por lei.

Monitoramento

O biólogo Israel Martins explica que o trabalho da Vigilância Ambiental dá-se no âmbito da educação e orientação. “Não aplicamos inseticidas no ambiente e nos animais. Até porque o uso de carrapaticidas no ambiente não é recomendado por ser uma medida de controle pouco eficaz, principalmente se utilizada como única estratégia de controle”, informa Israel, que esclarece que a utilização de produto químico só deve ser feita na situação de grande infestação em áreas com a transmissão da febre maculosa.

A recomendação é para que os carrapaticidas sejam usados apenas em hospedeiros como os cães, equinos e bovinos, mas com a supervisão de um médico veterinário. O controle nos animais deve ser feito junto com o manejo da vegetação, isto é, a manutenção da vegetação baixa o suficiente para não servir de abrigo para os carrapatos.

Prevenção

É recomendado o uso de calças, botas e blusas com mangas compridas ao caminhar em áreas arborizadas ou com grama. Evite andar em locais com grama ou vegetação alta e sempre usar repelente contra insetos. Para quem tiver animal de estimação, é recomendado verificar se há presença de carrapatos sempre que o animal ficar exposto à área de risco. Para remover o carrapato, é recomendado o uso de uma pinça. Não se deve apertar ou esmagar. Depois, lavar com álcool ou água e sabão o local onde o carrapato picou.

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DF não é endêmico para febre maculosa

No Brasil, a febre maculosa é uma doença de notificação imediata. Entre os principais sintomas da doença estão febre elevada, cefaleia, dores musculares intensas e prostração. Em seguida ao aparecimento desses sinais, o paciente pode ainda apresentar manchas avermelhadas, chamadas de erupções cutâneas, chamando a atenção o envolvimento das palmas das mãos e plantas dos pés.

Mais comum nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, somente três casos de febre maculosa foram registrados no Distrito Federal, sendo um caso em 2005, outro em 2006 e o terceiro em 2016, conforme os dados do Ministério da Saúde. Nenhum óbito foi registrado nesse período. É uma doença infecciosa, febril e pode variar desde as formas clínicas leves e atípicas até formas graves, com possibilidade de morte. A bactéria que causa a febre maculosa é a Rickettsia.

A transmissão da bactéria para humanos acontece enquanto o carrapato suga o sangue para se alimentar, liberando saliva que infecta a corrente sanguínea. Para que isso aconteça, é necessário que o carrapato fique grudado na pessoa de quatro a seis horas. Os sintomas aparecem entre o segundo e o décimo quarto dia da contaminação, mas a doença não é transmitida de uma pessoa para outra.

Ao longo dos últimos anos, constatou-se que essa bactéria tem como principais hospedeiros capivaras, cavalos e cães. Mas, recententemente, uma dissertação de mestrado em ciências animais, feita pela estudante da Faculdade de Agronomia e Veterinária da UnB, Ana Paula Nunes de Quadros, identificou que os carrapatos encontrados em capivaras do DF não possuem bactérias que transmitem a febre maculosa. O estudo, que recebeu o nome de Pesquisa de Riquétsias em capivaras (Hydrochoerus Hydrochaeris) de vida livre do DF, foi feito em 2020.

Conforme explicado na pesquisa, a região do DF não é endêmica para febre maculosa. “Apesar de aqui ter capivara e carrapato, como todas as outras áreas do Brasil que possam ser endêmicas para febre maculosa, a nossa região não é endêmica, porque a nossa espécie de carrapato não está associada à espécie Rickettsia rickettsii, que é causadora da febre maculosa”, explica a pesquisadora.

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