Pandemia

Covid-19: DF registra aumento de 90% das mortes entre adultos jovens

Segundo levantamento do Registro Civil, em abril, houve 1.387 óbitos pela covid-19, das quais, 87, ou 6,26%, eram de pessoas de 30 a 39 anos. Entre março de 2020 e o mesmo mês de 2021, esta faixa etária representava 3,30% do total de óbitos do período

Correio Braziliense
postado em 15/05/2021 06:00 / atualizado em 18/08/2023 11:23
Vacinação continua sentes sábado (15/5) e domingo (16/5), inclusive, à noite, na Praça dos Cristais -  (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
Vacinação continua sentes sábado (15/5) e domingo (16/5), inclusive, à noite, na Praça dos Cristais - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

No mês mais letal da pandemia da covid-19 no Distrito Federal, abril de 2021, a mortalidade de pessoas de 30 a 39 anos, devido à doença, aumentou 90% em relação à média de março de 2020 a março de 2021. No período, 5.591 pessoas faleceram devido ao novo coronavirus, 187 (3,30%) faziam parte desta faixa etária. No mês passado, de 1.387 mortes, 87 (6,26%) eram deste grupo. Os dados são de um levantamento realizado pelo Registro Civil com base no Portal de Transparência do órgão e consideram apenas as mortes causadas pela covid-19.

Entre os grupos que começaram a se imunizar contra a doença no DF, recebendo as duas doses das vacinas, a maioria teve queda no número de mortes, em relação à média do ano passado. Entre 70 e 79 anos, a baixa foi de 28%; 65%, entre 80 e 89 anos; e 63% na população de 90 a 99 anos. Além disso, outra parte do levantamento mostra que, de março e abril, as faixas etárias que ainda não faziam parte do público-alvo da campanha de vacinação contra o coronavírus no DF tiveram uma alta significativa no número de óbitos. Por exemplo, em março, 131 pessoas de 40 a 49 anos morreram na capital federal. Em abril, o índice subiu para 206.

Segundo Gustavo Fiscarelli, presidente da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil), representante dos oficiais de Registro Civil e fomentadora do portal de transparência, os dados servem de apoio para pesquisadores e governantes guiarem durante a crise sanitária. “Preferimos fazer essa extração em abril para abranger um ano de pandemia, mas fazemos relatórios mensais, desde o início da crise sanitária e, a cada quinze dias, temos algum tipo de estudo que possa guiar o combate à pandemia. A partir dos dados, podemos ter uma noção mais geral do cenário”, explica.

Ele ressalta que não é especialista em saúde, mas, de acordo com os números, a imunização impactou no resultado. “(O levantamento) mostra o aumento de mortes nas faixas que ainda não são vacinadas e decréscimo nas faixas já vacinadas. Os números começam a mostrar que a vacinação é uma solução para esta pandemia”, diz.

Infectologista do Hospital Regional da Asa Norte (Hran) e da clínica Quality Life, Joana Darc explica que a vacinação é um dos fatores que podem ter influenciado nos dados. “Há a questão da exposição espontânea e obrigatória. Em festas, bares e restaurantes, onde a possibilidade de transmissão é mais alta, jovens estão se expondo mais”, destaca. Ela explica que o público também corre risco nos ambientes de trabalho. “São pessoas que não pararam e pegam um transporte público lotado, frequentam ambientes que não são devidamente higienizados”, completa. A médica diz que a circulação da variante P1 pode ter contribuído para o aumento de mortes de pessoas mais jovens.

Infecções

Em outubro do ano passado, a estudante universitária Júlia Nacfur Peçanha, 22 anos, teve covid-19. Bailarina, ela conta que alguns colegas de dança testaram positivo. Foi quando desconfiou e resolveu fazer um teste para se assegurar. “Eu tinha perdido minha avó poucos dias antes e tive contato com várias pessoas no velório. Então, nossa reação foi avisar a todos que tiveram contato comigo para ficarem atentos e fazerem o teste também”, recorda-se. Apesar de não conseguir identificar a forma de contaminação, Júlia acredita que pode ter acontecido tanto nas aulas quanto no supermercado.

Para aqueles que atuam na linha de frente, ser infectado no local de trabalho é um dos maiores riscos. Foi como a estudante universitária Natália Lopes de Oliveira, 23, acredita que a mãe, uma fisioterapeuta, contraiu o vírus. “Ela estava atendendo aos pacientes normalmente, até que uma das famílias foi infectada. Achamos que foi assim que pegamos a doença”, pontua. De acordo com Natália, a família foi contaminada em agosto do ano passado pelo novo coronavírus.

Moradora do Cruzeiro Novo, a estudante ressalta que é comum ver aglomerações próximo de casa. “Aqui perto, está sempre cheio, mas não podemos deixar de ir (ao mercado). Fora isso, tem restaurantes, igrejas e encontros de família principalmente. Agora, sei que acontecem muitas festas clandestinas, e isso, com certeza, aumenta e muito os níveis de contaminação”, pontua. Para Natália, acima do uso de máscara, distanciamento social e lockdown, é preciso uma boa gestão. “O governo tem que dar suporte e orientar bem a população”, argumenta.

Mais de 550 mil vacinados

Nessa sexta-feira (15/5), mais 6.846 pessoas receberam a primeira dose dos imunizantes contra a covid-19 no DF e, 1.874, a segunda. Aos todo, são 551,1 mil aplicações da D1 e 290 mil, da D2. Até o momento, a capital federal recebeu 1.064.240 unidades de vacinas. Os profissionais de saúde que somam 135,3 mil vacinados com a D1. Entre os idosos a partir de 60 anos, 338.614 receberam a primeira dose. Os pacientes com comorbidades representam 57,6 mil vacinados, e profissionais das forças de segurança e salvamento somam 16,7 mil. Neste fim de semana, 17 unidades estarão abertas neste sábado (15/5) e sete, neste domingo (16/5). O horário de funcionamento é das 9h às 17h atendendo pedestres e por drive-thru. O drive-thru da Praça dos Cristais funcionará das 18h às 23h. Pessoas com comorbidades serão atendidas de acordo com locais e horários agendados no site vacina.saude.df.gov.br.

8.275 mortos

Nas últimas 24h, o DF registrou 688 casos e 24 mortes causadas pelo novo coronavírus. A capital do país totaliza 390.805 infecções e 8.275 óbitos provocados pela covid-19. A média móvel de mortes, considerando os últimos 7 dias, é de 31,28; e de ocorrências, 850. Segundo o Boletim Epidemiológico da Secretaria de Saúde do DF (SES-DF), a taxa de transmissão do Sars-CoV-2 na capital é de 0,85. Em relação à taxa de ocupação dos leitos da unidade de terapia intensiva (UTI) adulta, o índice é de 79,14%, com 508 dos 735 leitos em atendimento, 10 aguardando liberação e 79 bloqueados. Há 115 pessoas na lista de espera da rede pública por um leito de UTI, sendo que 36 são de pacientes com suspeita ou confirmação da covid-19. Na rede privada, a taxa de ocupação dos leitos adultos é de 89,43%, com 239 dos 323 destinados aos pacientes infectados com o covid-19 em uso e 56 bloqueados.


Palavra de especialista

Locais mais perigosos para se infectar

As pessoas que mais se infectam e morrem, agora, são as mais jovens, com vida economicamente ativa. Pode ser o que vai para a balada, mas também é o trabalhador, que precisa do transporte público e se expõe mais. Áreas fechadas não ventiladas têm alta possibilidade de infecção, mesmo usando máscara de pano. Por exemplo, lojas de shoppings, escritórios e ônibus. O ideal, agora, seria voltar a discutir o uso de máscaras mais eficazes. A máscara de pano protege o potencial transmissor, mas, se ela for lavada várias vezes, não é tão eficaz. São dois itens que precisamos focar. Uma é a vacina, e essa faixa etária mais economicamente ativa ainda não é contemplada; e a máscara PFF2. São medidas que precisam ser aplicadas de forma combinada. Sobre as pessoas que vão para bares e festas clandestinas, temos que contar com o bom senso delas. Já para os trabalhadores que precisam sair de casa, é importante ter mais de uma máscara e diminuir a vida útil dessa máscara para 5 dias úteis pois, ela perde a pouca proteção que tem.

Leandro Machado, infectologista e professor da Universidade Católica de Brasília (UCB)

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