Tecnologia

Idosos estão cada vez mais no mundo virtual e ganham espaço como influencers

Pessoas com idades entre 60 e 80 anos estão cada vez mais on-line. Elas encontraram na internet uma importante ferramenta contra o isolamento social durante a pandemia

Luana Patriolino
postado em 16/05/2021 06:00
A digital influencer Maria Lúcia da Silva, conhecida como Vovó Blogueira, passa mais de 12 horas por dia conectada -  (crédito:  Ed Alves/CB/D.A Press                     )
A digital influencer Maria Lúcia da Silva, conhecida como Vovó Blogueira, passa mais de 12 horas por dia conectada - (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press )

Já atrasada para começar uma live com seus “seguimores”, a digital influencer Maria Lúcia da Silva, 60 anos, conhecida nas redes como Vovó Blogueira, arranjou um tempinho na agenda para atender a reportagem do Correio. Atualmente, cerca de 15 mil pessoas acompanham o dia a dia de Malu na web. Com contas no YouTube, Twitter e Instagram, ela compartilha dicas de economia doméstica, culinária e estilo de vida. “Minha vida é praticamente um reality show”, conta.

Assim como várias pessoas com idades de 60 a 80 anos, Maria Lúcia está cada vez mais conectada nas redes. Houve forte avanço nesse sentido: o percentual de idosos no Brasil navegando na rede mundial de computadores cresceu de 68%, em 2018, para 97%, em 2021, segundo pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil).

A inclusão digital do idoso oferece muitos benefícios. Além de conseguirem se comunicar com a família em tempos de isolamento social, o acesso à tecnologia pode fazer bem para a mente. “Principalmente do ponto de vista cognitivo, onde essas ferramentas auxiliam nos processos de raciocínio e lógica”, explica o médico psiquiatra Alisson Marques.

Na avaliação do especialista, tudo deve ser feito com cautela e, se possível, contando com o apoio da família para não cair em conteúdos falsos ou golpes. “Muitos têm medo, receio e insegurança de fazer qualquer manuseio com o recurso tecnológico. Muitas vezes, os familiares não oferecem tanto apoio necessário”, explica Marques.

Malu Silva mora em Taguatinga com seus dois pets e conta que passa a maior parte do tempo on-line. “Mais de 12 horas por dia. Eu preciso me curar, porque acho que estou viciada”, confessa. “Já aconteceu de me ligarem e perguntarem se está tudo bem, porque eu não havia postado nada no dia”, diz.

Ela garante que tem conseguido se sustentar com o trabalho na internet. “Tenho vivido de acordo com os jobs que recebo. Patrocínios, divulgação de serviços e campanhas. Graças a Deus, tem dado certo”, afirma. Sobre golpes, ela diz nunca ter caído em nenhum, pois está sempre em alerta. “Já tentaram, mas eu não sou besta”, afirma.

A presidente da Associação dos Idosos do Guará, Socorro Rodrigues, 81 anos, também usa a internet a seu favor. Com o isolamento social, a aposentada controla um grupo de WhatsApp e outras redes sociais para deixar avisos e recados aos associados. “Nos falamos todos os dias. Chegam muitas mensagens”, diz.

Ela conta que a tecnologia tem ajudado a matar a saudade dos amigos, além de se manter informada. “É um entretenimento, e podemos nos comunicar com as pessoas. Tem muita coisa boa na internet e muita coisa ruim, também. Mas eu gosto”, ressalta.

Renovação

Valdecy Chaves Pinto, 63 anos, não quer saber de fotos com plantas. Fashionista, a Vovó Valzinha, como é conhecida nas redes, adora postar o look do dia e conteúdos sobre o seu estilo de vida. Apesar de ter, atualmente, muita afinidade com a tecnologia, ela conta que o contato com a internet é recente em sua vida. “Em julho do ano passado, lembrei que a minha neta tinha feito um Instagram para mim há um tempo e não tinha nenhuma publicação. Então, resolvi postar uma foto minha”, relata.

O começo foi difícil para Valdecy. “Eu não entendia nada de redes sociais. Tinha medo de fazer algo errado, era um pavor”, lembra. O conteúdo é direcionado a uma de suas maiores paixões: a moda. “Comecei a me mostrar. A internet é uma vitrine e eu não tinha noção disso. E aí, as pessoas começaram a gostar e mandar coisas no meu direct. Foi um incetivo para aprender a mexer sozinha”, relembra.

Com o sucesso, surgiram novas oportunidades na vida da servidora pública aposentada. “Eu sou embaixadora de um projeto lindo chamado ‘Eu sobrevivi ao câncer’. Pude contar minha experiência e posso ajudar outras pessoas”, diz.

Valdecy também recebeu outras propostas de trabalho. Atualmente, é patrocinada por empresas ligadas à estética e moda, além de ser modelo sênior de duas grandes agências especializadas. “Em breve, vocês vão ver a Vovó Valzinha nas caixas dos produtos. Vamos ver o que vai dar”, diverte-se.

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