Pandemia

Covid-19: Pesquisadores da UnB avaliam cenário da pandemia no Brasil

Professores fazem projeções sobre o cenário brasileiro nos próximos meses caso o ritmo de vacinação continue lento e não haja a manutenção dos cuidados não farmacológicos

Correio Braziliense
postado em 01/07/2021 09:53 / atualizado em 01/07/2021 10:03
A taxa de ocupação das UTIs no DF permanece alta desde fevereiro -  (crédito: Breno Esaki/Divulgação/Agência Saúde)
A taxa de ocupação das UTIs no DF permanece alta desde fevereiro - (crédito: Breno Esaki/Divulgação/Agência Saúde)

No dia 19 de junho, o Brasil atingiu a marca de meio milhão de mortos por covid-19. Diante do cenário preocupante do país, pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) analisam a situação da pandemia e fazem projeções acerca do que pode vir a acontecer no país nos próximos meses caso o ritmo de vacinação continue lento e não haja a manutenção dos cuidados não farmacológicos – uso de máscara, higienização correta das mãos, isolamento e distanciamento social.

Os especialistas consideram as medidas de prevenção e a vacinação as melhores estratégias para evitar o aumento da contaminação pelo Sars-Cov-2, agente causador da covid-19. Edilson Bias, professor do Instituto de Geociências (IG) e coordenador do Observatório PrEpidemia, informa que as taxas de contaminação e de reprodução (Rt) – que determina a velocidade do contágio do coronavírus – estão vinculadas aos índices de liberação das atividades e da redução das medidas de biossegurança.

No DF, temos apenas 11,22% da população vacinada com as duas doses, segundo o vacinômetro covid – InfoSaúde de 28 de junho. Agrega-se a este fato a flexibilização e o relaxamento das medidas de controle do distanciamento social, o que poderá trazer graves consequências, pelas incertezas que ainda temos sobre as novas variantes que circulam no país”, projeta Edilson Bias. A equipe do observatório faz o acompanhamento de epidemias como a da covid-19 e seus impactos sociais, econômicos e ambientais na sociedade brasileira.

O pesquisador frisa que, desde o início da crise sanitária, o PrEpidemia tem alertado sobre a necessidade do uso de inteligência epidemiológica geográfica e do controle ativo dos casos, além da importância da vacinação célere, aproveitando a experiência que o país possui em processos vacinais.

Avanço das variantes

De acordo com pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), mais de 90 cepas – ou seja, mutações do Sars-Cov-2 – circulam pelo país, mas três são mais preocupantes devido a uma maior taxa de transmissibilidade: a Gamma (P.1/Manaus), a Alpha (B.1.1.7/Reino Unido) e a Beta (B.1.351/África do Sul).

A variante Delta (B.1.617/Índia), transmitida em maior velocidade em comparação às outras, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), já foi identificada no Brasil e até o momento há menos de dez casos confirmados e, pelo menos, duas mortes. Possíveis contaminados estão sendo monitorados.

Professor do Instituto de Física (IF) da UnB, Tarcísio Rocha é membro de grupo de pesquisa interinstitucional que monitora a situação da covid-19 no Brasil e que divulga regularmente notas técnicas com análises do cenário da pandemia no país. Ele ressalta a necessidade de agilizar o ritmo de vacinação, tendo em vista a presença da variante Delta no Brasil.

“Qualquer demora na vacinação significa mais pessoas sendo infectadas e, infelizmente, morrendo. Mesmo quem sobrevive, tem alta chance de ter sequelas duradouras. Nos Estados Unidos, a variante Delta tem se propagado muito mais nos condados com menos de 30% de pessoas vacinadas com duas doses. Trata-se de uma variante que leva a uma maior proporção de pessoas hospitalizadas e maior mortalidade”, diz.

O professor do IF completa: "É questão de tempo para que o mesmo ocorra aqui. Portanto, vacinar rapidamente uma grande parcela da população é algo urgente para evitar um desastre sanitário ainda maior”. Tarcísio faz a projeção para o caso de baixa vacinação: “Nossas projeções mostram que, se mantivermos o atual ritmo de vacinação e se as novas variantes, o contágio e a mortalidade não aumentarem significativamente, ainda teremos mais 100 mil mortes”, alerta.

Segundo o pesquisador, o afrouxamento da medida de distanciamento social e a ausência de campanhas efetivas de informação podem ser fatores que possibilitarão o avanço de uma nova onda da doença no Brasil.

Impactos da vacinação

Wildo Navegantes, presidente do Comitê Gestor do Plano de Contingência em Saúde da Covid-19 (Coes) da UnB e professor de epidemiologia da Faculdade UnB Ceilândia (FCE), salienta a importância da manutenção dos cuidados para a contenção da covid-19, aliada à maior adesão à imunização.

“Eu diria que nós não estamos entrando numa primeira, numa segunda, numa terceira onda. Nós estamos numa grande onda, num grande maremoto em que as pessoas precisam entender a necessidade de permanecer respeitando as medidas de controle da covid-19. Ao mesmo tempo, de aderir às vacinas. O Distrito Federal, por exemplo, está desde o final de fevereiro com 85% ou mais de taxa de lotação de leitos clínicos e de UTI, o que demonstra a alta transmissibilidade local da doença”, aponta.

Na avaliação de Anamelia Lorenzetti, professora de imunologia do Instituto de Ciências Biológicas (IB), um dos benefícios de ter um maior número de pessoas vacinadas é a redução da circulação do vírus. “Nesse momento da pandemia, é importante que a gente consiga vacinar o maior número de pessoas possível, com qualquer uma das vacinas. Porque, com isso, a gente vai ter regiões com mais pessoas imunizadas e vai reduzir a capacidade de circulação do vírus. Dessa forma, o vírus vai encontrar pessoas já imunizadas e não vai conseguir infectá-las efetivamente”, explica a pesquisadora.

“O ritmo lento da vacinação favorece o surgimento das variantes de preocupação, que é o que estamos vendo neste momento. Então, mesmo as pessoas vacinadas precisam continuar com todos os cuidados não farmacológicos”, enfatiza.

*Com informações da Universidade de Brasília

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