COVID-19

Critério para vacinação no DF agora será baseado apenas na idade

Secretaria de Saúde redefiniu esquema de imunização contra a covid-19. A partir de hoje, só haverá liberação de novas vagas para as pessoas de grupos prioritários que tomaram a primeira dose e para a população com faixa etária pré-determinada

Cibele Moreira
Samara Schwingel
Ana Maria Silva
postado em 02/07/2021 06:00
Lígia Correia é professora, mas tomou primeira dose devido à ampliação da faixa etária -  (crédito:               Marcelo Ferreira/CB/D.A Press                      )
Lígia Correia é professora, mas tomou primeira dose devido à ampliação da faixa etária - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press )

O Distrito Federal terá um novo esquema de vacinação contra a covid-19. A Secretaria de Saúde (SES-DF) anunciou que, a partir desta sexta-feira (2/7), só abrirá vagas para imunização por faixa etária. Com isso, ficam de fora categorias profissionais não previstas no Plano Nacional de Imunização (PNI). A medida segue uma recomendação do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) emitida em 23 de junho. O documento orienta que haja priorização do atendimento por idade e a suspensão das tratativas do Executivo local com grupos não previstos na lista definida pelo Ministério da Saúde. Apesar da mudança, quem conseguiu tomar a primeira dose terá garantido o direito ao reforço.

A nova regra atinge grupos que tentavam negociar com o Governo do Distrito Federal (GDF) e que fizeram acordos com o governador Ibaneis Rocha (MDB), mas ainda não haviam recebido atendimento. Os bancários, por exemplo, deveriam receber as doses amanhã, mas tiveram a vacinação suspensa devido à nova determinação. Para o secretário de Saúde, Osnei Okumoto, o modelo garantirá uma melhor cobertura à população. “Observamos que, usando (o critério com) a idade, vamos atingir todas as categorias (profissionais)”, afirmou em coletiva no Palácio do Buriti, nesta quinta-feira (1/7).

Novas categorias só ficarão entre as prioridades caso o Ministério da Saúde envie doses “carimbadas”, segundo Osnei Okumoto, com indicativo para profissões específicas. Se isso ocorrer, a pasta seguirá a orientação. A mudança não agradou os bancários. O sindicato da categoria em Brasília se manifestou por meio de nota e informou que defende a imunização dos profissionais, em virtude da exposição ao vírus durante os atendimentos. A entidade convocou uma assembleia para ontem à noite, na qual os trabalhadores discutiriam uma paralisação das atividades. Até o fechamento desta edição, a reunião não havia terminado.

Para o epidemiologista e professor da Universidade de Brasília (UnB) Walter Ramalho, a discussão provocada pela mudança é compreensível, mas a decisão não representa um cenário ideal. “Com a imunização apenas por idade, esquecemos dos profissionais expostos ao vírus que têm uma faixa etária baixa. O interessante seria a inclusão mais transparente das categorias, em conjunto com a vacinação por idade”, argumenta.

Agendamento

A implementação do novo esquema vacinal seguirá a regra de agendamento pelo site, a depender da chegada de novas doses. A marcação ficará aberta até que se esgotem todas as vagas para a faixa etária da vez. Durante a coletiva, os integrantes do GDF reforçaram que não definirão um calendário geral, porque não têm definições prévias sobre o envio de imunizantes pelo Ministério da Saúde. Em relação ao avanço de uma eventual terceira onda, o secretário Osnei Okumoto declarou que a capital federal está preparada e que acompanha as testagens para detecção de cepas. O chefe da pasta lembrou que os exames continuam a ser feitos em hospitais e unidades básicas de saúde da rede pública.

A SES-DF liberou 46,5 mil vagas para vacinação da população com 46 anos ou mais. A aplicação das doses nesse público começa hoje, em 56 pontos espalhados pelo Distrito Federal. Para os habitantes com 47 anos, a imunização teve início ontem. Quem estava agendado para se imunizar no Estacionamento 13 do Parque da Cidade não enfrentou filas. O cozinheiro Luciano Rodrigues comemorou a chegada da vez dele. “Isso não é algo individual. Se a pessoa não se imunizar, pode passar para um ente querido, um amigo”, comentou.

A professora Lígia Correia ficou aliviada a partir do momento em que descobriu que poderia se vacinar. “Graças a Deus chegou a minha hora. A gente fica muito feliz, entusiasmada”, contou. No entanto, ela cobra um melhor planejamento para distribuição das doses. “Eu sou educadora na rede pública e estou vacinando por idade porque minha oportunidade não havia chegado (pela categoria profissional)”, completou Lígia.

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Número de casos cai

Com o fim do primeiro semestre do ano, o Distrito Federal completa um ano e três meses em meio à crise sanitária provocada pelo novo coronavírus. A médica Valéria Paes, da Sociedade de Infectologia do DF, avalia que, durante o primeiro trimestre de 2020, as pessoas tinham medo, principalmente por causa da falta de informações sobre o vírus. No período, a adesão às medidas sanitárias foi maior, segundo ela. “Porém, quando o governo flexibiliza as medidas restritivas, dá uma margem para a população pensar que está tudo bem, sendo que não está”, ressaltou. Apesar disso, a especialista considerou que houve avanço na imunização no período. “Só gostaríamos que a campanha fosse mais rápida e que mais pessoas estivessem vacinadas”, acrescentou.

Boletim epidemiológico divulgado ontem pela Secretaria de Saúde (SES-DF) confirmou 690 novos casos de covid-19 e mais 13 mortes pela doença em 24 horas. Com isso, o total de infectados subiu para 431.151. Os óbitos desde o início da pandemia no DF somam 9.264 confirmações. Com a atualização, a média móvel de notificações ficou em 765,8 — 14,8% a menos do que o registrado duas semanas antes. Já o indicador referente às vítimas fechou em 15,1 (queda de 23,7%).

Palavra de especialista

Controle de casos

O esquema de vacinação por idade tem sido usado em mais lugares, mas sempre questiono se esse critério garante que a vacina chegue a quem realmente está sob risco, a quem se expõe mais. Claro que a mudança na operacionalização da campanha é boa para evitar que a vacinação seja politizada — quando um grupo prioritário é inserido na lista de atendimento por questões políticas, o que é reprovável. Talvez, com essa mudança, vamos ter uma aceleração do processo. No entanto, temos de ficar de olho se isso realmente vai imunizar quem está morrendo mais. Em relação à pandemia, está muito claro que não há medidas de controle da transmissão. O que temos hoje não é suficiente para combater efetivamente o vírus, e vemos isso no número de casos registrados a cada dia. Estamos sempre em uma zona de grande perigo, tanto neste ano quanto em 2020.

José David Urbaez, médico infectologista

 

 

Mudanças no serviço público

Servidores e estagiários da administração pública que estão em teletrabalho devido à pandemia deverão retornar ao trabalho presencial. Um decreto publicado em edição extra do Diário Oficial do Distrito Federal (DODF) de ontem prevê que só gestantes e pessoas hipersensíveis ao princípio ativo dos imunizantes permaneçam em ambiente remoto. Idosos com mais de 60 anos e funcionários com comorbidades devem retornar 15 dias depois de receberem o reforço da vacina.

 

 

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