MANIFESTAÇÃO

Entregadores de aplicativo manifestam em frente ao ParkShopping

Com direito a buzinaço, profissionais demonstraram insatisfação e pediram justiça por Everton, que foi humilhado por sócio de restaurante

Rafaela Martins
postado em 20/07/2021 15:21 / atualizado em 20/07/2021 15:21
O motoboy Everton foi humilhado por sócio do restaurante Abbraccio enquanto carregava o celular -  (crédito: Manifestação motoboys)
O motoboy Everton foi humilhado por sócio do restaurante Abbraccio enquanto carregava o celular - (crédito: Manifestação motoboys)

Indignados e cansados com as condições de trabalho que possuem, entregadores por aplicativo fizeram uma manifestação, nesta terça-feira (20/7), em frente ao ParkShopping. Após um sócio do restaurante Abbraccio destratar um motoboy, no último sábado (17/7), profissionais da categoria se reuniram para reivindicar condições básicas de trabalho. O protesto aconteceu no estacionamento e começou por volta das 11h.

Um vídeo que circula nas redes sociais registrou o momento em que o motoboy Everton Santos Silva, 30 anos, é interpelado por empresário sócio do restaurante Abbraccio durante uma discussão originada no fato de que o rapaz estava sentado enquanto carregava o celular no ambiente reservado a motoboys. O empresário afirmou que o motociclista não poderia mais ir ao estabelecimento. O vídeo viralizou e o comportamento do empresário indignou os motoristas de aplicativos de entrega. “Na minha loja você não pisa mais não. Estou nesse shopping há 15 anos. Não vai chegar motoboy e achar que manda não”, disse o empresário.

O representante da Associação dos Motoboys Autônomos e Entregadores do Distrito Federal (AMAE-DF), Abel Santos, 29 anos, organizou a manifestação com o objetivo de pedir respeito aos colaboradores que usufruem diariamente dos serviços prestados pelos entregadores. O ato aconteceu na frente do doca 5, que é o local reservado para motoqueiros.

"Queremos respeito, nada mais. É por isso que estamos lutando, não só para ter um lugar de carregar o celular, mas para ter um banheiro digno, um lugar para comer. A lei que regulamenta a construção dos pontos de apoio foi aprovada há 180 dias e, até agora, nada. Quando deu o lockdown, quem segurou o comércio? Quem nunca parou? Os motoboys merecem um pouco de respeito, porque dinheiro, nunca recebemos”, declarou Abel.

A motogirl por aplicativos Suelen Silva, 26 anos, participou do ato e contou como é difícil trabalhar nas atuais condições. “A profissão ainda é muito mal vista, porém, necessária. A gente espera que as pessoas melhorem o atendimento conosco. A galera gosta muito de humilhar motoboy, e na verdade, eles dependem muito da gente. Na pandemia, eles fecharam, e a gente que tava nas ruas ajudando. Somos uma das categorias que nunca parou. Quero que nos olhem diferente, porque somos trabalhadores e não vagabundos”, disse a moça.

Assim como Suelen, Mateus Martins, 23 anos, é motoboy e compareceu ao local para manifestar. “Não estamos aqui só pelo amigo que foi hostilizado, mas ele estava num ponto de apoio, e o gerente se achou no direito de humilhar ele. Isso aqui é uma sacanagem. Ele estava aqui, para fazer a entrega do restaurante dele”, falou com indignação.

Novo projeto de lei

O Deputado Distrital Fábio Félix (Psol) compareceu à manifestação para prestar apoio e solidariedade. Responsável por criar a Lei n° 6677/20, ela prevê que espaços para descanso, higiene e organização façam parte da rotina de entregadores e motoristas. O deputado acredita que a classe merece respeito e condições dignas de trabalho. “Sorte que alguém filmou o que aconteceu, porque não foi a primeira vez que vimos desrespeito. Já recebemos uma série de denúncias que restaurantes e bares tratam vocês mal. Esse vídeo revelou o que acontece com vocês, que é humilhação e desrespeito”, disse.

De acordo com a lei sancionada ano passado, os espaços deverão conter sanitários masculinos e femininos, chuveiros, vestiários, espaço para estacionar bicicletas e motocicletas, sala para apoio e descanso, além de ponto de espera para veículos de transporte individual privado de passageiros. O não cumprimento da exigência por parte das empresas implica em sanções como multa, suspensão e perda do cadastro administrativo junto à Secretaria de Mobilidade do Distrito Federal.

Além disso, Fábio Félix contou que tomará outras medidas cabíveis a favor da classe. “Hoje, a gente tomou duas iniciativas urgentes. A gente oficiou a Secretaria de Mobilidade para multar as empresas de aplicativo que não instalaram os pontos de apoio no DF, com tudo que está garantido. E a segunda coisa que vamos apresentar é um projeto de lei, ainda hoje, proibindo e multando estabelecimentos que discriminarem os entregadores de aplicativo”, falou o deputado.

Esclarecimento

Em nota, a assessoria do restaurante Abbraccio divulgou um novo posicionamento relativo ao caso.

Confira o que diz:

"Primeiramente, registramos aqui que respeitamos todo e qualquer tipo de manifestação responsável. Pedimos desculpas mais uma vez e afirmamos que o que é retratado no vídeo não condiz com a nossa relação com os profissionais de entrega. Tentamos contato com o Éverton para nos desculpar pessoalmente, ainda sem sucesso, mas reforçamos publicamente esse pedido de desculpas.

O sócio do restaurante foi afastado para que possamos apurar todos os pontos e refazer o processo de orientação do trabalho com os entregadores locais. Estamos no Brasil há 23 anos e temos um relacionamento genuíno com as nossas pessoas e os fornecedores que trabalham conosco.

Nada justifica o desalinhamento com nossos procedimentos e já iniciamos a reorientação de todo o time do restaurante em relação à nossa filosofia para que situações como esta não voltem a acontecer.
Para nós, é muito importante reforçar que temos uma relação de respeito e profissionalismo com todos os motoboys responsáveis pela logística do nosso delivery e isso se reflete no dia a dia com o atendimento de milhares de pedidos todos os meses em todas as cidades onde estamos presentes."

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