Meio ambiente

Fogo na Chapada dos Veadeiros revela precariedade em políticas ambientais

Chega ao fim incêndio em área de cerrado preservado na Chapada dos Veadeiros. Estrutura oficial para proteção do bioma é precária, mas esforços de voluntários e da comunidade local impedem danos mais graves

São João d’Aliança (GO) — Após quase quatro dias de intensa luta contra o fogo, chegou ao fim, na manhã dessa quinta-feira (15/7), o incêndio florestal que atingiu vasta área de cerrado preservado na Chapada dos Veadeiros, próximo às cachoeiras do Label e do Complexo Veadeiros. Desde a última segunda-feira (12/7), de acordo com estimativa da Defesa Civil Estadual, as chamas devastaram, aproximadamente, 315 hectares de vegetação na Serra do Paranã, no município de São João d’Aliança (GO), distante cerca de 160km de Brasília. Um território, pelo menos, três vezes maior, no entanto, foi preservado graças à ação de agentes do Corpo de Bombeiros de Planaltina de Goiás, voluntários da Rede Contra Fogo e moradores locais.

A luta contra as chamas foi um trabalha árduo. Além do acesso complicado, em terreno íngreme e repleto de pedras, os combatentes tiveram de superar o baixo contingente de bombeiros militares, a precariedade de equipamentos e a falta de infraestrutura logística. Para esse tipo de emergência, a responsabilidade sobre a área é do batalhão de Planaltina de Goiás, que conta com 38 militares para cobrir toda a região até Teresina (GO), distante cerca de 230km. A vastidão territorial exige a pulverização da equipe. Na ocorrência em São João d’Aliança, quatro bombeiros atuaram em campo.

Não bastasse o número reduzido de militares, são evidentes as deficiências de materiais e estruturas de apoio. Quando o pneu da viatura teve de ser substituído, a comunidade local custeou as despesas. Parte do combustível para os sopradores de combate às chamas também foi bancada pelos moradores da região, que ainda ofereceram abrigo e alimentação aos bombeiros.

“A Prefeitura de São João d’Aliança e o Estado de Goiás deixam muito a desejar na proteção ao cerrado. Não fosse pelo empenho pessoal dos bombeiros designados para esta missão, além do apoio indispensável dos voluntários da Rede Contra Fogo e a mobilização da comunidade local, a impressão que fica é de que teríamos sofrido um prejuízo ambiental inestimável. É evidente a falta de investimento governamental para resguardar os recursos naturais”, observa Pedro Frota, proprietário da Pousada Terra Betânia, que cedeu o espaço para abrigar e alimentar as equipes de enfrentamento ao incêndio florestal.

Políticas públicas

Prefeita de São João d’Aliança, Débora Domingues argumenta que a administração municipal trabalha na intensificação de campanhas de conscientização contra queimadas e de aplicação de multas a infratores nesta época do ano. “Mas existe uma forte cultura de queima de pasto e de lixo na região, o que dificulta nossas ações. Essas pessoas costumam atuar na calada da noite, complicando os flagrantes. Ainda assim, mantemos os esforços por aquisição de equipamentos e pela organização de uma brigada treinada contra incêndios florestais”, comenta a chefe do Executivo local.

Para entidades ambientalistas, porém, a conjuntura política nacional atenta contra as iniciativas de proteção e valorização dos biomas do país. “Infelizmente, o que vemos próximo a Brasília, o que deve ser uma constante ao longo dos próximos meses, é reflexo do descaso e do desleixo do governo federal com as questões socioambientais. O Palácio do Planalto só fez cortar recursos do MMA (Ministério do Meio Ambiente), do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), deixando de fazer ações centrais para o combate, inclusive dos incêndios, que, em muitos casos, são criminosos. O resultado é esse: o incentivo e a promoção do desmatamento, das queimadas, da grilagem de terras. Um verdadeiro projeto de destruição ambiental, não de conservação da natureza”, aponta Michel Santos, gerente de políticas públicas do WWF-Brasil.

A despeito da precária execução de uma política ambiental, quem atua na linha de frente do combate aos incêndios florestais se sente orgulhoso da missão que carrega. É o caso do sargento Ramiro, 38 anos, 17 deles dedicados ao Corpo de Bombeiros da Planaltina de Goiás. Ele foi um dos quatro militares que atuou na contenção às chamas que devastavam a Serra do Paranã, na Chapada dos Veadeiros. “Agradeço demais à comunidade de São João d’Aliança, aos voluntários da Rede Contra Fogo e aos meus companheiros de corporação. Chego em casa com a sensação de dever cumprido e de ter honrado o Corpo de Bombeiros, apesar de todas as dificuldades que enfrentamos. É uma vitória obtida graças à colaboração de todos os envolvidos”, reconhece.


Colabore

Quem quiser contribuir com a Rede Contra Fogo pode depositar qualquer quantia utilizando a seguinte chave Pix:
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