BIODIVERSIDADE

Mergulhadores encontram colônia de camarões vivendo no fundo do Lago Paranoá

Zoologista da Universidade de Brasília (UnB) afirma que há chance de crustáceos terem vindo de riachos que desaguam no lago e se adaptado ao habitat — rico em alimentos para a espécie. Registro é inédito e precisa de mais estudos

A 32 metros de profundidade, mergulhadores encontraram, na última sexta-feira (13/8), camarões vivendo no Lago Paranoá. Com mais de duas décadas de experiência em mergulho nas águas do lago, Fred Rabello e Michel Med, do Centro de Mergulho Dive Water de Brasília, ficaram surpresos com a descoberta e com a quantidade que está vivendo tranquilamente a uma temperatura de 20ºC. “A gente acompanhou toda a mudança do bioma nesses últimos 10 anos, e nós nunca vimos, ou tivemos notícia, que alguém tivesse visto essas espécies. Por isso que a descoberta está sendo classificada de inédita”, comemora Michel.

Fred Rabello conta que, anteriormente, chegou a encontrar alguns camarões no local, mas imaginou que alguém teria feito a soltura no Lago. “Os primeiros camarões foram vistos há uns seis meses, mas em pequeno número. Pensei: alguém deve ter soltado camarões de aquário no lago e eles estão sobrevivendo. Mas não esperava que a população começasse a crescer. Já estão em centenas e buscaram refúgio na parte mais funda do lago”, destaca.

O local onde foram encontrados é o preferido dos mergulhadores da capital. A região do lago mais procurada fica justamente nas proximidades da barragem perto do Paranoá e da área central por apresentar maior visibilidade da água e boa profundidade, como explica Michel. “Aquela região tem as melhores características para os mergulhadores. A gente tem profundidades que chegam a 39 metros”, relata.

Centro de Mergulho Dive Water/Divulgação - Reprodução das imagens captadas pelos mergulhadores Fred Rabello e Michel Med, que identificaram a espécie de crustáceo no Lago Paranoá
Centro de Mergulho Dive Water/Divulgação - Centro de Mergulho Dive Water/Divulgação
Centro de Mergulho Dive Water/Divulgação - Centro de Mergulho Dive Water/Divulgação
Centro de Mergulho Dive Water/Divulgação - Centro de Mergulho Dive Water/Divulgação

O professor de zoologia da Universidade de Brasília (UnB), Eduardo Bessa, explica que realmente não há registros desse tipo de crustáceo no Lago Paranoá, mas não se surpreende com a existência deles. “Um levantamento constatando a presença dessa espécie na região eu nunca vi e não consegui achar informações anteriores, mas não é uma coisa totalmente fora do comum”, destaca. Ele acrescenta que, pelas imagens, não é possível identificar ao certo a espécie, e que é necessário um estudo sobre a colônia.

Segundo o especialista, até 2012, havia 18 espécies conhecidas de um crustáceo de água doce conhecido como cladócero no Lago Paranoá. Em 2014, um grupo de pesquisadores descobriu 10 espécies novas, que foram listadas num trabalho de 2017. “Cladóceros são muito diferentes de camarões, são microscópicos e não vivem encostados ao fundo. Mas dá uma ideia de como os animais desse lago são pouco conhecidos”, esclarece Bessa.

O zoologista reconhece a probabilidade dos camarões terem vindo de riachos que desaguam no Lago Paranoá e que tenham se adaptado ao local. “A espécie pode ter encontrado condições adequadas para viver, assim como várias outras espécies de peixes por exemplo. Eventualmente, eles encontraram riachos e foram trazidos pelo lago. Não surgiram do nada ali”, complementa. Segundo o docente, os camarões costumam se alimentar de resíduos e matéria orgânica, e o Lago Paranoá é rico desse tipo de nutriente. “Eles comem matéria orgânica em decomposição e microalgas que crescem coladas em troncos”, explica.

Curiosidades submersas

Além da colônia de camarões, os mergulhadores relatam que o fundo do lago possui outros elementos inusitados. “O Lago tem algumas coisas no fundo que são interessantes, como um ônibus”, conta Michel Med.

A Vila Amaury, fundada na década de 1950 durante a construção de Brasília, também é um atrativo. Segundo Michel, objetos da vila surgem e contam a história da época. “Saem garrafas das décadas de 1950 e 1960. Já saíram armas e espadas. São coisas curiosas, e é possível identificar os vestígios da época da construção de Brasília”, diz.

*Estagiária sob a supervisão de Juliana Oliveira