SOLIDARIEDADE

Estudante do DF que conseguiu bolsa em universidade espanhola precisa de ajuda

Jovem de Taguatinga vence seleção e consegue bolsa de graduação em universidade pública da Espanha. Para realizar o sonho, ele promove vaquinha virtual para recolher doações

Júlia Eleutério
postado em 04/09/2021 06:00
Daniel Arruda, 18, pretende embarcar no próximo dia 14, mas precisa de ajuda com os custos iniciais -  (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
Daniel Arruda, 18, pretende embarcar no próximo dia 14, mas precisa de ajuda com os custos iniciais - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

O sonho de ir além das ruas e vielas de Taguatinga sempre fez parte da vida do jovem Daniel Arruda, 18 anos. Egresso da rede pública de ensino, o ex-aluno do Centro de Ensino Médio 3 (CEM 3), de Taguatinga Sul, vive um misto de alegria e incredulidade com a conquista de uma bolsa de estudos na Universidad de Jaén, na Espanha e, agora, luta para não perder a oportunidade de cursar engenharia civil em uma conceituada instituição pública europeia.

Daniel foi selecionado num concurso de bolsas promovido pela Embaixada da Espanha, por meio do projeto Escolas Interculturais Bilíngues, da Secretaria de Educação do DF. A notícia chegou em abril e, desde então, ele corre contra o tempo para arcar com os custos da viagem — prevista para este mês — estimados em R$ 10 mil. “Eu já tinha essa vontade de estudar fora, e quando eu soube da bolsa, eu me inscrevi e fui me encaixando nos requisitos. Acabei ficando em primeiro lugar e passei”, conta, em tom de euforia.

Daniel concorreu com os colegas que concluíam o terceiro ano do CEM 3, e além de entrar para o seleto grupo de brasileiros que fazem graduação por intercâmbio, é o primeiro da família a ingressar no ensino superior, motivos de sobra para a dona Edna Ulisses, 56, se orgulhar. “Eu não tenho nem palavras, para mim foi uma surpresa. Nunca passou pela minha cabeça um filho meu estudar fora. Glorifico a Deus pela vida do meu filho e por ele conseguir essa chance”, emociona-se ao falar do filho caçula.

Garçonete há 16 anos num órgão público, ela criou Daniel e mais dois filhos mais velhos com a ajuda da mãe, dona Irene Ulisses, em Taguatinga Sul. De acordo com a trabalhadora, a vitória é sentida por todos e a família está cheia de orgulho em vê-lo colher os frutos do estudo, embora ela tenha receio de não conseguir reunir o dinheiro necessário para a viagem de Daniel. Ela e a família alternam os momentos de felicidade com o trabalho de divulgação nas redes sociais por pedidos de colaboração para que ele possa iniciar essa nova etapa. Para tanto, o jovem até criou uma vaquinha virtual para arrecadar dinheiro para esse novo capítulo da vida acadêmica. “Sempre fui estudioso e tive consciência de que precisava lutar pelos meus sonhos. Foi muito esforço e vontade de ser o melhor possível”, destaca. Ver o empenho do filho quase faz dona Edna esquecer que, em breve, ela não terá o convívio diário com ele, mas ela acredita que o sacrifício vale a pena pelo tão sonhado diploma

Em 2018, Daniel iniciou o projeto Escolas Interculturais Bilíngues ao ingressar no primeiro ano do ensino médio. O CEM 3 é uma das três instituições do Distrito Federal que oferecem educação em dois idiomas. Além dessa unidade, estão inseridos no programa de ensino bilíngue o Centro Educacional do Lago Norte (Cedlan), que tem parceria com a Embaixada da França e leciona aulas de francês para os alunos do Varjão e Paranoá. No Lago Sul, atendendo a comunidade periférica do entorno, o Centro Educacional do Lago Sul (CEL) tem parceria com a Casa Thomas Jefferson e ensina inglês.

Com as aulas frequentes de espanhol, o estudante passou a se interessar, cada vez mais, pelo novo idioma e pela cultura do país. Ele é o primeiro aluno a conseguir uma bolsa no exterior por meio do projeto. Destaque na escola, ele se orgulha em falar da importância da educação e do suporte da família, sobretudo com a chegada da pandemia de covid-19. Ele conta que as incertezas impactaram no ritmo de aprendizagem e trouxeram novos desafios. A ansiedade o fez procurar ajuda de um terapeuta para conseguir manter o foco e a perseverança para lidar com a distância da escola e dos amigos, e ainda manter o empenho no modelo de ensino remoto.

Bolsa internacional

A bolsa de estudos que Daniel recebeu vai ajudá-lo com todos os custos para se manter durante o período da faculdade. Com o início das aulas, no dia 9 de setembro, o jovem só deve embarcar no dia 14 deste mês e receberá a bolsa em outubro. Até lá, os custos com a viagem e para se manter são altos para a família do rapaz. “Foi assim que eu tive a ideia de fazer a vaquinha pela internet, para que quem tiver interesse possa me ajudar nesse começo”, explica. O dinheiro será arrecadado até o dia da partida para a Europa e, até o fechamento desta edição, não tinha chegado a R$ 1.000.

O dinheiro será usado para custear a documentação necessária, passagem aérea, transporte e manutenção inicial do futuro graduando. Daniel precisa juntar cerca de R$ 10 mil para realizar o sonho de fazer o curso fora. O jovem explicou que o valor será usado, também, para alimentação e materiais no primeiro mês em solo espanhol. “A bolsa não vai cair instantaneamente, então, preciso ter dinheiro para pagar aluguel e para custear algumas coisas que eu vou necessitar”, esclarece o estudante.

Idiomas na rede pública

Para David Nogueira, idealizador do projeto Escolas Interculturais Bilíngues, a vitória de Daniel revela o potencial do projeto. Doutor em História política pela UnB e mestre em História cultural pela Unicamp, ele contou que, após o início do programa nas escolas, os alunos começaram a se interessar mais pelos estudos e melhoraram o desempenho nas provas para ingressar no ensino superior, aplicadas pelo Programa de Avaliação Seriada (PAS) da Universidade de Brasília (UnB) e pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

Como todas as unidades são de ensino médio, exclusivamente, e funcionam em período integral, David diz que foi possível ver a evolução dos jovens atendidos. “Notamos que muitos desses estudantes que achavam que não tinham chance no PAS ou no Enem e começaram a acreditar que têm chance e podem competir por vagas em universidades e no mercado de trabalho. Isso, por si só, já foi um ganho muito grande. Houve um engajamento”, relaciona David.

Atendendo mais de 980 estudantes nas três unidades do projeto, os alunos têm aulas do outro idioma três vezes por semana, além de matérias escolares que trabalham a cultura do outro país. Para participar, basta se matricular em uma das escolas. Pois, uma vez matriculado, os jovens automaticamente são inseridos no programa.

Segundo David, há uma vontade de ampliar o projeto e incluir outras escolas nessa modalidade, mas a prioridade é aprimorar as três unidades que já funcionam. “O nosso intuito é fortalecer os projetos dentro das escolas e depois expandir’’, enfatiza o idealizador.


Onde o projeto funciona

O projeto Escolas Interculturais Bilíngues funciona em três colégios da rede pública de ensino do Distrito Federal


CEM 3 de Taguatinga Sul — funciona em parceria com a Embaixada da
Espanha (espanhol)


Centro Educacional do Lago Norte (Cedlan) — funciona em parceria com a Embaixada
da França (francês)


Centro Educacional do Lago Sul (CEL) — funciona em parceria com a Casa Thomas Jefferson (inglês)


Quem quiser e puder ajudar Daniel Arruda a embarcar para Espanha para dar início a sua graduação em engenharia civil pela Universidad de Jaén basta acessar a vaquinha “Me ajude a ir para Espanha”, pelo link:https://www.vakinha.com.br/vaquinha/me-ajude-a-ir-para-espanha-daniel-arruda-ulisses-da-silva-sousa

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