VIOLÊNCIA

Abalada, família sepulta o corpo do estudante assassinado perto da escola

Região onde o jovem Geoffrey Stony foi assassinado cobra por mais segurança. Na semana anterior ao latrocínio, outra estudante foi assaltada e espancada por criminosos. Com a retirada do batalhão escolar das proximidades, insegurança teria aumentado

Renata Nagashima
postado em 24/09/2021 21:36 / atualizado em 24/09/2021 21:46
Mãe não conseguiu ir à despedida. Pai e irmão de Geoffrey fizeram homenagens ao estudante -  (crédito: Renata Nagashima/CB/D.A Press)
Mãe não conseguiu ir à despedida. Pai e irmão de Geoffrey fizeram homenagens ao estudante - (crédito: Renata Nagashima/CB/D.A Press)

O corpo de Geoffrey Stony Oliveira do Nascimento, 16 anos, assassinado na manhã da última quarta-feira (22/9), foi enterrado na tarde desta sexta-feira (24/9), no Cemitério de Taguatinga. A mãe do jovem, muito abalada, não teve forças para ir ao sepultamento do filho. “Ela ainda não acredita que ele se foi, acha que ele vai voltar. É muito difícil, ninguém espera passar por isso e quando acontece você fica sem acreditar”, disse Sérgio do Nascimento, 54 anos, pai do estudante.

Geoffrey foi vítima de latrocínio (roubo seguido de morte) quando saía da escola e teve o celular levado pelos criminosos. Os envolvidos estavam armados e efetuaram um disparo contra o peito do estudante após o abordarem para o assalto. O crime ocorreu no final da manhã de quarta-feira (22/9).

Dor e incredulidade acompanham a família de Geoffrey Stony. Sérgio afirma que a “ficha ainda não caiu”. Segundo ele, no dia do enterro, ele acordou e chegou a preparar o café da manhã para o filho, como sempre fazia. Só depois de pôr a mesa ele se deu conta de que Geoffrey não estava mais lá. “Não tem como se acostumar. A gente nunca imagina que vai enterrar um filho”, disse emocionado.

Servidor público da escola em que o filho estudava, foi Sérgio encontrou Geoffrey deitado na via e baleado. Como todos os dias, ele fez o percurso para buscar o adolescente nas proximidades da escola e levá-lo para casa, mas não conseguiu. “Ele estava pálido, na hora achei que não tinha se alimentado e passou mal na rua. Eu perguntei para ele o que estava acontecendo e aí falaram que ele tinha levado um tiro. Meu mundo desabou ali”, recorda.

Trajetória interrompida

“Ele era o meu melhor amigo”, disse Gregory do Nascimento, 17 anos, lamentando a perda do irmão. Muito abalado, ele não conseguiu falar muito, mas contou que os dois era inseparáveis e que Geoffrey era muito ligado à família. “Vivíamos colados um no outro. Ele vai fazer muita falta, mas não vai voltar. Agora eu só peço a Deus que mude a cabeça das pessoas que fizeram isso para que não façam outras famílias sofrerem também”, pediu. Gregory estava com um crachá no peito, usado pelo irmão no último evento da igreja, ao qual foram juntos, no domingo passado.

Muito focado, Geoffrey era apaixonado por matemática e sonhava em ingressar na Universidade de Brasília (UnB). “No começo do mês, o muro da escola estava sendo pintado com os nomes dos alunos que passaram na UnB, ele estava lá e pediu para deixar um espacinho que o nome dele também estaria ali”, contou o diretor do Centro de Ensino Educacional 11 (CED 11) de Ceilândia, Francisco Gadelha, emocionado.

Insegurança

Episódios de violência, como a que vitimou Geoffrey Stony, infelizmente, não são exceção. Ednaldo Martins, coordenador pedagógico do CED 11 contou que, na última semana, uma aluna do período noturno foi assaltada e agredida na porta da escola. Ela estava saindo quando foi abordada. Ao perceber que o criminoso não estava armado, ela reagiu e acabou sendo espancada. “Semana passada ela apanhou, nessa uma pessoa foi assassinada. Onde vamos parar até tomarem uma providência?”, questionou.

Segundo Ednaldo, não há policiamento nas redondezas da escola e, desde que o batalhão escolar foi retirado do local, os crimes se intensificaram. “Ninguém vê uma viatura passando. Os alunos estão com medo de vir para a escola, ainda mais com os últimos acontecimentos. A gente não pede muito, apenas uma viatura para passar uma sensação de segurança maior.” Em nota, a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) afirmou que tem reforçado o policiamento na região e que vai aumentar o efetivo em várias cidades, inclusive na Ceilândia.

Além da insegurança, o coordenador denunciou que a iluminação na frente da escola é precária. Ednaldo disse que entrou com um pedido na Companhia Energética de Brasília (CEB), em julho, mas nenhuma providência foi tomada pela empresa. Por nota, a CEB alegou que o protocolo foi atendido no dia 18 e que uma equipe de manutenção foi até o local e “constatou que não há nenhuma problema de iluminação pública na região da escola.”

Em homenagem ao jovem, na próxima segunda-feira, às 10h30, alunos e funcionários da escola farão um ato simbólico ao redor do CED 11. Com balões brancos e cartazes, eles protestarão e pedirão por mais segurança na região.



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